Um dos investimentos privados mais esperados do ano - a nova fábrica da
Aracruz Celulose no Estado - será confirmado hoje (29/06), em cerimônia
no Palácio Piratini.
O projeto, estimado em US$ 1,2 bilhão, era motivo de expectativa desde
que, em março, um grupo de manifestantes ligados à Via Campesina invadiu
a fazenda da empresa em Barra do Ribeiro e destruiu um laboratório e
viveiros. Especulava-se que a invasão, notícia em várias partes do mundo,
poderia retirar o Rio Grande do Sul da lista de candidatos à sede da
unidade.
Pelo porte do investimento, que vai criar pelo menos 2 mil postos de
trabalho diretos, e expectativa gerada, seu anúncio foi cercado de sigilo
pelo Piratini, que apenas divulgou na agenda do governador Germano
Rigotto um encontro de trabalho, marcado para as 9h30min de hoje, com a
direção da Aracruz.
A nova fábrica, a ser construída ao lado da atual unidade da empresa em
Guaíba, pode ser a última anunciada por Rigotto neste mandato, devido à
polêmica que cerca a legalidade da participação de candidatos à reeleição
em eventos desse tipo.
O diretor da Aracruz, Walter Lídio Nunes, em Porto Alegre desde a tarde
de ontem (28/06), não quis confirmar o resultado das negociações. Há
meses, a empresa tem um acordo com o governo de que a iniciativa do
anúncio partiria do Piratini:
- Não sabemos o tom que o governo quer dar a esse encontro. De nossa
parte, ainda há pendências, algumas relacionadas à infra-estrutura, mas
poderemos ser surpreendidos com as soluções amanhã (hoje) - disse o
executivo, um dos mais empenhados nas negociações do investimento.
Obra deverá levar 17 meses até conclusão
Já o secretário do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais, Luis
Roberto Ponte, informou que o grande número de convidados para a cerimônia
no Piratini, incluindo dezenas de prefeitos, está relacionado com uma
proposta envolvendo tributação. O tema seria a divisão do Imposto Sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) entre os municípios
fornecedores de madeira e os que serão a sede das novas plantas produtoras
de celulose previstas para serem instaladas no Estado. Atualmente,
explicou o secretário Ponte, apenas o município-sede fica com o imposto.
Ao comentar as conseqüências da invasão de Barra do Ribeiro, Walter Nunes
voltou a dizer que o episódio não tem peso algum na decisão sobre a sede
do projeto, cujos números definitivos deverão ser anunciados nos próximos
meses.
Informações do setor indicam que a nova fábrica da Aracruz deverá produzir
1 milhão de toneladas de celulose branqueada de eucalipto. E, uma vez
iniciada, a obra levará 17 meses para terminar.
Saiba mais
O que é
A Aracruz Celulose é líder mundial na produção de celulose branqueada de
eucalipto, responde por 30% da oferta global do produto, usado para a
fabricação de papéis para imprimir e escrever, papéis sanitários e papéis
especiais.
Onde está
As florestas estão no Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e no Estado, na
unidade de Guaíba com capacidade para produzir 430 mil toneladas/ano de
celulose.
O controle
O controle acionário é dividido pelos grupos Safra, Lorentzen e Votorantim
(28% do capital votante cada um) e pelo BNDES, que tem 12,5% de
participação.
Pólo Florestal do Sul
Outros investimentos de celulose:
Stora Enso
O grupo finlandês já adquiriu 45 mil hectares no Estado, onde investiu R$
100 milhões. Segundo informações do diretor de desenvolvimento florestal
da divisão latino americana, João Fernando Borges, as metas deste ano
são continuar o programa de compra e regularização de terras, além de
iniciar o plantio de 5 mil hectares. No primeiro semestre de 2007, deverá
ser liberado o licenciamento ambiental para o projeto florestal. Está em
fase de estudo o projeto de uma fábrica, para 2011.
VCP - Votorantim Celulose e Papel
Em novembro, o grupo anunciou o início do processo de licenciamento
socioambiental para a instalação de uma fábrica de celulose branqueada na
Metade Sul. O projeto que sairá do papel entre 2009 e 2011, prevê a
unidade em uma área de até 500 hectares, no eixo Rio Grande, Pelotas e
Arroio Grande. O investimento, incluindo a fábrica e a base florestal,
está estimado em US$ 1,3 bilhão, para a produção de 1 milhão de toneladas
por ano. A nova planta abrirá 4 mil postos de trabalho. Desde 2004, o
grupo já investiu R$ 310 milhões no Rio Grande do Sul.
Saiba mais
Em 2005, a empresa lucrou R$ 1,17 bilhão, recorde em sua história
A Aracruz tem 2.249 empregados. Mais 7.988 profissionais prestam serviço
permanentemente.
Destruição aumentou risco para investimento
Numa ação de grande repercussão nacional e internacional, em 8 de março
deste ano, um grupo estimado em 1,5 mil agricultores do movimento Via
Campesina, a maioria mulheres, invadiu o laboratório e o viveiro de
estufas da Aracruz, em Barra do Ribeiro.
Foram destruídos experimentos científicos e pelos menos 3 milhões de mudas
de eucaliptos na Fazenda Barba Negra, num total de perdas estimado em US$
6,7 milhões. Foi confirmada a participação de estrangeiros e quatro deles
foram indiciados pela polícia brasileira por envolvimento no planejamento
da operação. Nos dias seguintes à invasão, em meio a especulações de que
a Aracruz desistiria de ampliar suas operações no Estado, a direção da
empresa reiterou que não haveria conseqüências sobre sua decisão de
investimento.
(Por Lúcia Ritzel,
Zero Hora, 29/06/2006)