Um desenvolvimento sustentável na floresta amazônica peruana (artigo)
2006-06-29
A coisa mais memorável sobre a floresta tropical amazônica não são as vistas. São os sons. Deitado acordado, à noite, em uma rede anti-mosquito no Centro de Pesquisa Tambopata na Amazônia peruana, você ouve uma sinfonia sendo tocada na floreta tropical do lado de fora. Soa como um destes pedados dissonantes da música moderna: uma cacofonia de pássaros, macacos guaribas vermelhos, porcos selvagens, sapos, araras e insetos fazendo cliques bizarros, roncos, grasnos, gorjeios, prantos e assobios que soam como alarmes de carros, estranhos sinos de portas e uma seção de orquestra de vento que perdeu sua música, mas está tocando mesmo assim. Ocasionalmente, esta sinfonia fica acentuada pelo penetrante e desesperado grito de uma pessoa, que acabou de encontrar uma aranha em seu banheiro.
Esta floreta tropical amazônica do sudeste do Peru é uma imensidão amplamente desabitada que é casa para algumas das vidas selvagens mais ameaçadas do planeta. Olhe para baixo na floresta tropical e você poderá ver uma vespa caçadora ferroando uma lagarta e depositando seus ovos dentro. Ou, olhe para dentro na verde liteira e você verá o ninho dependurado de pássaros Oro Pendula. Você notará, entretanto, que os Oro Pendula colocaram o ninho em um galho do lado de um grande branco vespeiro branco. Por quê? Para que, se predadores tentarem atacas os pássaros, eles também irritem as vespas – um engenhoso sistema de segurança natural.
Mas hoje tudo isso está em perigo pelo o que Tim Killeen, um biólogo sênior e pesquisador da entidade Conservação Internacional, identifica como três forças convergindo: aumento dos preços das commodities dirigidos por rápido crescimento na China; planos de líderes na América do Sul para integrarem suas infra-estruturas e rodovias para criarem uma economia continental – as quais vão incitar imigração humana em áreas que são importantes para a biodiversidade; e alguns novos modelos climáticos que prevêem que o aquecimento global pode fazer a Amazônia tão quente e seca que, dentro de um século, ela poderia mudar de floresta tropical para savana.
Se todas essas tendências convergirem, argumenta Killeen, isso criará uma “tempestade perfeita de destruição ambiental que degradará uma das últimas grandes vastidões tropicais do planeta”. Os abundantes sinais de perigo: navegando aqui no Rio Tambopata sobre nossa embarcação fluvial, vimos mineradores de ouro usando grandes barcaças motorizadas e mercúrio para escavar e peneirar – e destruir – margens de rios em busca de ouro. Com o preço global do ouro decolando, os incentivos para escavar o Tambopata são enormes. Alguns mineradores limpam florestas para campos e caçam animais raros por comida.
Enquanto isso, a Rodovia Inter-oceânica, passando da costa Atlântica do Brasil para a costa Pacífica do Peru, parece estar chegando a seu término. Mais estradas levam a mais agricultura, corte de lenha, mineração e extração de petróleo e gás, o que se converte em mais florestas como terras férteis, as quais liberam mais gases estufa, que mudam o clima. “O governo peruano tem boas políticas, mas não tem os meios para aplicá-las, e há enorme corrupção”, explicou Diego Shoobridge, diretor do ParksWatch Peru. A estrada do Brasil atravessando o Peru já existe, “mas agora vão pavimentá-la”, acrescentou ele. “Uma vez pavimentada, todos os tipos de veículos virão com pessoas dos Andes, e elas não conhecem as florestas”.
Mas protestos de pessoas milagrosas não vão parar estas forças. Isso requer uma grande estratégia. “Precisamos estabelecer uma infra-estrutura "verde" – um sistema de parques, territórios controlados por comunidades indígenas, regulamentos de uso de terra, créditos de carbono para proteção da floresta e negócios verdes, como o eco-turismo – que criarão uma poderosa economia amiga do meio-ambiente que será um contrapeso a forças da economia global dirigindo o desflorestamento”, argumentou Glenn Prickett, um vice-presidente sênior da Conservação Internacional (C.I.) e um dos meus companheiros de viagem. (Minha esposa é parte da comissão da C.I.).
De fato, como os Oro Pendula aprenderam o alçamento do vespeiro para naturalmente preservarem sua casa, ambientalistas têm que alçar as riquezas da floresta tropical para naturalmente preservá-la. Mas isso é difícil. É fácil derrubar uma floresta para fazer estradas e poços de petróleo. É difícil desenvolver café que cresce na sombra ou eco-turismo ou um negócio de óleo de palmeira. Mas sem lucrativas alternativas eco-amigáveis – para contra-atacar as hostis – os predadores econômicos desta floresta tropical eventualmente terão bons dias.
(Por Thomas Friedman, The New York Times, 28/06/2006)
http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/nytimes/2431001-2431500/2431090/2431090_1.xml