A sombria imagem dos vampiros atacando mocinhas indefesas, comum no cinema e nas histórias em quadrinhos, está mudando. Os morcegos hematófagos, que por se alimentarem de sangue serviram de inspiração para esses personagens, são agora vítimas. Estão sofrendo a pressão sobre suas áreas de ocorrência, agravando o desequilíbrio causado pela ação do homem e casos de ataque a seres humanos ou animais em áreas urbanas vêm se tornando cada vez mais comuns. Os animais são transmissores da raiva humana, doença fatal causada por um vírus do gênero Lyssavirus.
Apesar da redução do número de casos de raiva humana nos últimos 20 anos, alguns casos registrados, principalmente em áreas urbanas, voltam a trazer a preocupação com a doença à tona. Em março deste ano, no período de 13 dias, foram registrados 20 ataques apenas na cidade do Recife.
Os ataques dos morcegos hematófagos estão quase sempre associados à ação do homem sobre o ambiente. “A destruição do habitat natural tem forçado os morcegos a se adaptarem a novos abrigos e novas fontes de alimento”, explica o médico veterinário Filipe Dantas Torres, pesquisador em Saúde Pública do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães – CpqAM -, unidade da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz. O pesquisador desenvolve um projeto sobre o tema.
O morcego é o principal transmissor de raiva entre animais. As pessoas atingidas diretamente ou que tenham sido contagiadas por outros animais necessitam de tratamento específico, a soro-vacinação, importante para minimizar a ocorrência da raiva humana.
Os moradores das áreas em que foram registrados casos de ataques devem evitar contato com qualquer espécie de morcego, hematófago ou não, e todos os casos de agressão devem ser registrados e comunicados às autoridades públicas. O controle da população de morcegos na área de ocorrência também se torna uma medida importante.
Em março deste ano, foi registrado o primeiro caso de ataque a humanos em Pernambuco. É difícil precisar as áreas de risco para esse tipo de ocorrência em Estados onde até recentemente não haviam sido registrados casos de ataques de morcegos hematófagos em áreas urbanas. “Novos estudos precisam ser encorajados não só a fim de determinar as áreas de risco, mas principalmente para que as medidas preventivas sejam adotadas em tempo hábil”, diz o pesquisador.
O gerente do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde de Recife, João Alves do Nascimento Júnior, acredita que o caso tenha sido resolvido na cidade. Depois de diversas investidas para localizar a colônia, os animais foram encontrados alojados em um matadouro de aves desativado há cerca de 30 anos. Os morcegos se adaptaram de tal forma ao local que a estrutura virou praticamente uma caverna. Uma propriedade com criação de porcos e aves funcionava nas proximidades e, depois de sua transferência para outra localidade, os animais passaram a atacar seres humanos. A “caverna” improvisada foi vedada e com o uso de pasta vampiricida e pastilhas que liberam gás venenoso, a colônia foi debelada. Desde então mais nenhum caso foi registrado.
Algumas medidas continuam sendo tomadas, a fim de evitar novos surtos da doença. O controle e o monitoramento permanecem, assim como a educação ambiental, com informações para as comunidades. As unidades de saúde estão atentas para identificação de novos casos.
(Por Danielle Jordan /
AmbienteBrasil, 28/06/2006)