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2006-06-29
O mercado de créditos de carbono, que teve sinal verde com a ratificação do Protocolo de Kyoto, em fevereiro de 2005, abriu amplas possibilidades para empresas brasileiras com projetos na área de energias limpas. Agora, elas começam a ganhar dinheiro com a negociação desses créditos, ao mesmo tempo em que o País atrai a atenção de investidores estrangeiros interessados em aportar recursos em projetos de energia limpa.

Um exemplo é Peter Sweatman, especialista em créditos de carbono que veio ao Brasil prospectar investimentos na área. O executivo dirige um fundo de capital de risco britânico, o Climate Change Capital, que vai investir de 50 milhões a 100 milhões, no período de 2 a 4 anos, em projetos brasileiros. “Hoje, o mercado de carbono já movimenta US$ 10 bilhões em todo o mundo, e esse número deve dobrar no ano que vem. A expectativa é que 20% disso venha de projetos brasileiros”, afirma Sweatman.

Algumas empresas já fecharam contratos. O consórcio formado pela Biogás, o Unibanco e a Prefeitura de São Paulo - que opera a usina termelétrica do Aterro Bandeirantes, em São Paulo - fechou um acordo para vender 1 milhão de toneladas de carbono equivalente para o banco alemão KFW. O gás metano capturado no aterro é queimado e gera energia elétrica, evitando que o gás, um dos causadores do efeito estufa, vaze para a atmosfera.

O valor do contrato não foi revelado, mas estima-se que vá render em torno de 20 milhões para o Brasil. “Vai depender da cotação da tonelada de carbono no mercado internacional, que tem oscilado entre 15 e 25”, diz Manoel Antonio Avelino, diretor de desenvolvimento da Arcadis Logos, acionista da Biogás.

A Sadia também concretizou a venda de 2,7 milhões de toneladas de carbono equivalente para o fundo European Carbon Fund, formado por dois bancos europeus. O negócio deve resultar num retorno imediato para a empresa de R$ 90 milhões. O projeto da empresa prevê a captação de metano nas criações de suínos de 3 mil produtores integrados, que serão os beneficiados diretos dos recursos provenientes da negociação, afirma Gilberto Xandó, diretor do Instituto Sadia de Sustentabilidade. “Inserimos o pequeno sitiante no mercado de carbono, e da mesma forma vamos reinvestir nessas propriedades”, diz. O programa prevê a negociação de 15 milhões de toneladas de carbono num período de dez anos.

VICE-LIDERANÇA O Brasil foi o primeiro país no mundo a ter projetos de geração de créditos de carbono aprovados pelo comitê executivo da ONU que trata do tema. Hoje, há 223 projetos aprovados, sendo que 21% são brasileiros, em áreas como co-geração de energia, aterros sanitários e siderurgia. Mas o País perdeu a liderança para a Índia, dona de 31% dos projetos, a maioria deles feitos por uma única empresa, a multissetorial Tata. A China também avança, com menos projetos (7%), mas de grande volume. De acordo com Marco Antonio Fujihara, sócio do Instituto Totum, que presta consultoria na área de elaboração e negociação de créditos de carbono, há pelo menos 50 fundos na Europa e Japão dispostos a investir em projetos brasileiros, mas muitos ainda não sabem em que empresas colocar recursos.

“Queremos organizar o mercado dos vendedores de crédito de carbono no Brasil, que ainda está muito disperso”, diz Fujihara. O consultor estuda uma aproximação com projetos da China e da Índia, para que seja oferecido um “pool” de projetos aos investidores. “O Brasil não pode entrar nesse mercado de modo amador.”

A multinacional do setor químico Rhodia é outra que está de olho nesse mercado: acaba de criar uma divisão de consultoria dentro da subsidiária Rhodia Energy, para auxiliar empresas que querem desenvolver projetos de carbono. A nova divisão terá o apoio do grupo financeiro Societé Generale.
(Por Andrea Vialli, O Estado de S. Paulo, 28/06/2006)
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