A Organização Mundial da Saúde avalia que 23% das mortes prematuras e 24%
das doenças devem-se a fatores ambientais. Entre crianças de zero a 14
anos, o percentual de mortes sobe para 36%. Diarréias, infecções
respiratórias, doenças ocupacionais e malária são os principais distúrbios
de saúde associados a alterações ambientais.
Noventa e quatro por cento das diarréias têm origem na falta de saneamento
básico. A relação entre água contaminada e doenças infecciosas foi
estabelecida pelo médico inglês John Snow durante uma epidemia de cólera
em Londres em 1855. Desde então, a engenharia sanitária tem desenvolvido
técnicas de purificação que eliminam a presença de microorganismos
patogênicos da água. Contudo, a distribuição de água potável e coleta de
esgotos ainda é um desafio para países do Terceiro Mundo, onde os
investimentos em saneamento são inferiores às necessidades.
A contaminação do ar é responsável por 42% dos casos de doenças
respiratórias em países em desenvolvimento. Estima-se que 2,5 bilhões de
habitantes dependem da queima de lenha ou carvão no interior de
residências para aquecimento e cozimento de alimentos, ficando expostos a
ar contaminado por fuligem e outros produtos da combustão. Em ambientes
urbanos, as emissões de monóxido de carbono, hidrocarbonetos e fuligem por
veículos automotores contribuem para a poluição do ar e aquisição de
doenças respiratórias e alergias diversas.
Em 1700, o epidemiologista italiano Bernardino Ramazzini publicou seu
pioneiro livro A Doença dos Trabalhadores, descrevendo as doenças
respiratórias de trabalhadores em ocupações sujeitas a exposição à sílica
e a outras poeiras. A revolução industrial e o domínio da técnica de
síntese química introduziram milhares de novos compostos e aumentaram a
exposição dos trabalhadores a contaminantes nos ambientes de trabalho.
A OMS atribui a alterações ambientais 42% dos casos de malária, doença
transmitida pelo mosquito Anopheles. Essas alterações incluem práticas
inadequadas de uso do solo, como projetos agrícolas insustentáveis e
derrubadas de florestas. Além da malária, a destruição de habitats por
atividades humanas causa desequilíbrios nos ecossistemas que podem
favorecer o crescimento descontrolado de espécies responsáveis por
transmissão de doenças infecciosas.
Outros riscos à saúde humana decorrem das mudanças climáticas advindas do
aquecimento da Terra e da redução da camada estratosférica de ozônio. O
avanço no conhecimento científico trouxe benefícios à humanidade, entre os
quais o controle de doenças que aterrorizam nossos antepassados. Contudo,
novos riscos à saúde foram introduzidos. O controle das doenças causadas
por modificações ambientais é um dos grandes desafios da humanidade no
século 21.
Por Antônio D. Benetti, professor de engenharia ambiental do
IPH - UFRGS
(
Zero Hora, 28/06/2006)