O engenheiro-júnior Takeo Fukui ajudou a pôr a Honda Motor Co. no mapa
dos EUA com o subcompacto Civic, que cumpriu normas de poluição do ar do
país sem empregar filtro de escapamento conhecido como conversor
catalítico, comercializado a US$ 1 mil. Ele tinha 28 anos.
Hoje, como principal executivo da Honda, Fukui, 61, corre para repetir
sua façanha num laboratório em Tóquio. Ali, engenheiros estão construindo
um motor a diesel para 2009 que, segundo a Honda, vai cumprir novas normas
ambientais dos EUA e regras mais rígidas da Califórnia para emissões de
óxido de nitrogênio e fuligem - e ainda assim consumir 30% menos
combustível que versões a gasolina.
A Honda não autoriza a entrada de visitante do setor de mídia ao
laboratório. Fukui está guardando seu motor a diesel como sua arma
secreta, num momento em que os preços da gasolina disparam nos EUA para
uma média de US$ 2,87 o galão e o aquecimento global preocupa 62% dos
norte-americanos, segundo detectou pesquisa do Instituto Gallup realizada
em março.
Orçamento recorde
A Honda aumentou seu orçamento anual de pesquisa para o ano que se encerra
a 31 de março de 2007 para um recorde de 545 bilhões de ienes (US$ 4,8
bilhões), 6,8% mais do que no ano fiscal anterior. Fukui recorre a tudo -,
de células de combustível a robôs humanóides, passando por um jato
comercial cuja fuselagem é feita de plásticos compostos. E a Honda
adquiriu patentes para explorar genes de arroz de alta produtividade no
ano passado.
Ela está tentando aprender os fundamentos da ciência genética
para fabricar etanol a partir da cana-de-açúcar para emprego como
combustível veicular, diz Motoatsu Shiraishi, presidente de pesquisa e
desenvolvimento da montadora. Fukui diz que a Honda tem vantagem sobre as
montadoras concorrentes porque seus motores impulsionam desde motocicletas,
setor em que a Honda é a maior do mundo, até cortadores de grama. Isso dá
à Honda flexibilidade diante de uma derrocada do setor automobilístico.
"Desenvolver nossas operações no campo da mobilidade vai melhorar a
resistência da Honda contra flutuações da economia", diz ele.
Conservadora X maluca
A Honda explora ao máximo sua estratégia ambiental, mesmo quando o
itinerário desse jogo sofre reviravoltas inesperadas. A montadora ganhou
o título de maior processadora de soja orgânica no estado de Ohio depois
de determinar que a remessa de caixas vazias de autopeças dos EUA de volta
ao Japão teria de ser evitada, por ser um ato de desperdício.
Ela
contratou agricultores locais para cultivar soja e agora manda a produção
para casa em recipientes até então vazios. Em fevereiro a Honda começou a
vender um complemento alimentar feito de soja fermentada que contribui
para dissolver coágulos sanguíneos. John Mendel, o diretor de vendas da
Honda nos EUA, diz que as pesquisas, de longo alcance podem parecer
aleatórias.
"A Honda está sempre na nossa cabeça", diz Terry Henderson,
diretor-assistente geral de uma fundição da Toyota em Troy, estado de
Missouri. A Honda e a Toyota precisam uma da outra, apesar de estarem
derrubando os concorrentes, diz James Womack, residente do grupo de
pesquisa do Lean Enterprise Institute. "Sem a Honda, a Toyota seria
conservadora demais e, sem a Toyota, a Honda seria maluca demais". A
Toyota vendeu 7,9 milhões de veículos em 2005 - mais que o dobro Honda
(3,4 milhões).
(
Gazeta Mercantil/Bloomberg News, 28/06/2006)