A cana-de-açúcar está muito próxima de se tornar a segunda principal
fonte energética do País. Em 2005, graças ao aumento de 7,7% na produção
de álcool, a cana já representou a terceira maior fonte de energia do
Brasil, com 13,9% das 218,6 milhões de toneladas equivalentes de petróleo
(tep) ofertadas no País, segundo o Balanço Energético Nacional, do
Ministério das Minas e Energia (MME). À frente da cana, só petróleo e
derivados, com 38,4% da oferta total, e energia hidráulica e elétrica,
com 15% - apenas 1,1 ponto percentual de vantagem sobre a cana.
De 1970, quando foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), até
o ano passado, a produção de energia primária da cana saltou nada menos
do que 744,4%, o que representa a média de 21,3% ao ano. "A oferta de
energia da cana pode superar a hidráulica a partir de 2010, quando dezenas
de novas usinas entrarão em operação", opina Adriano Pires, especialista
em energia e diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), com
sede no Rio.
Só o mercado interno de carros bicombustível, cuja frota deverá
ultrapassar 5 milhões de unidades ainda em 2009, justifica os
investimentos para dobrar a produção de etanol para algo próximo a 28
bilhões de litros em 2010. Cinco milhões de carros consumindo uma média
anual de 2,4 mil litros demandariam 12 bilhões de litros de álcool
hidratado. Mas ainda é preciso de álcool anidro para misturar à gasolina,
na proporção de pelo menos 20%, e atender, se houver produção suficiente,
a parte da demanda de vários países do mundo que estão atrás do álcool de
cana brasileiro.
"Em verdade, se o potencial de cogeração de energia elétrica através do
bagaço da cana fosse devidamente aproveitado, a oferta de energia da cana
seria muito maior", declara Luiz Carlos Rubiano, presidente da Auston
Consult, empresa de Ribeirão Preto especializada em análise de
viabilidade de negócios no setor sucroalcooleiro.
Segundo Rubiano, os projetos de cogeração de energia por meio do bagaço
da cana não decolaram devido às restrições de financiamento impostas pelo
governo na criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de
Energia Elétrica (Proinfa), em 2004. "As usinas do País poderiam estar
vendendo, agora, pelo menos 2 mil MW de potência de energia do bagaço,
mas o total pouco passa de 500 MW", diz.
Técnicos da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica)
afirmam que o potencial de cogeração das usinas ultrapassa 15 mil MW, se
usadas tecnologias modernas e, além do bagaço, a palha da cana-de-açúcar.
"Vários investidores em usinas de açúcar e destilarias de álcool decidiram
postergar projetos de cogeração por meio do bagaço da cana devido às
restrições no financiamento", diz Rubiano. Segundo ele, o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) exige garantia de 130%, o
que inibe o investimento.
"Em termos energéticos, o Brasil está em posição bastante avançada em
relação ao mundo", diz Pires, do CBIE. Segundo ele, a tendência é que
diminua o peso das fontes não-renováveis na matriz energética mundial,
devido a questões ambientais e ao alto preço do petróleo. O Balanço
Energético Nacional, do MME, mostra que 44,7% da energia ofertada no
Brasil em 2005 veio de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar e a
hidráulica. É um dado alentador quando comparado à oferta de energia
renovável no planeta, que atingiu somente 13,3% em 2003. E ainda mais
vantajoso em comparação à OCDE, que reúne os países mais ricos do mundo,
que registrou míseros 6% de oferta de energia renovável em 2003.
O Balanço Energético de 2005 mostra que a oferta total de energia saltou
2,47% em 2005 - índice próximo ao do Produto Interno Bruto (PIB), de
2,3% -, enquanto a energia da cana aumentou 5,9%, para 30,4 milhões de
tep. Mais do que a cana, cresceram apenas a energia hidráulica e elétrica
(6,1%) e gás natural (7,4%).
(Por Edson Álvares da Costa,
Gazeta Mercantil, 28/06/2006)