Dois dias antes do prazo previsto, entram hoje (28/06) em operação comercial as
primeiras 25 unidades do Parque Eólico de Osório. Mesmo com uma
capacidade relativamente pequena, a primeira geração de energia a partir
dos ventos no Estado não poderia estrear em melhor hora: a seca esvaziou
os reservatórios das barragens e a produção das hidrelétricas está
reduzida à quase metade do normal.
O início das operações do parque de Osório neste momento é apenas uma
feliz coincidência, assegura Telmo Magadan, presidente da Ventos do Sul,
empresa responsável pelo projeto:
- Estamos cumprindo nosso cronograma, que previa a entrada em operação
até 30 de junho. Com o problema da estiagem na Região Sul e as
dificuldades do sistema, é claro que vem em momento muito bom.
Uma visita às instalações, comandada pelo governador Germano Rigotto, vai
marcar o dia em que o parque de Osório começa a injetar energia no
sistema. São 25 torres equipadas com aerogeradores de 2 megawatts (MW)
cada, o que representa uma potência total de 50 MW (veja na página ao
lado).
Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Osório, no dia
19 de abril, os equipamentos estavam em testes. Agora, começam a operar
em ritmo normal.
- A energia eólica é complementar à hidráulica (gerada em hidrelétrica).
Os estudos mostram que quando venta muito, chove pouco e vice-versa. De
dezembro de 2004 a abril de 2005, no pior período da seca, os medidores
estavam a mil por hora - lembra Magadan.
Embora toda a geração seja bem-vinda nesse momento de escassez, o início
da operação no parque de Osório é mais importante pelo aspecto tecnológico
do que quantitativo. Quando estiver com as três unidades completas,
totalizando potência de 150 MW, o projeto garantirá o abastecimento de 650
mil pessoas. Significativo, mas uma pequena contribuição no Estado com
mais de 10 milhões de habitantes.
- A tendência da energia é ficar cada vez mais cara, principalmente a de
origem fóssil (petróleo e gás natural, por exemplo). É importante estar
preparado o quanto antes para desenvolver as energias renováveis -
argumenta Hamilton Moss de Souza, coordenador do Centro de Referência para
Energias Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito (Cresesb).
Ainda considerada cara, a energia gerada a partir do vento é uma aposta
dos países europeus, especialmente os mais comprometidos com a questão
ambiental. Moss de Souza explica que, embora o valor da geração eólica
esteja entre US$ 1,2 mil e US$ 1,6 mil por quilowatt e o da hídrica oscile
de US$ 700 a US$ 1,5 mil por quilowatt, a tendência de longo prazo é de
aproximação desses valores.
- O momento de investir é este. Embora as fontes alternativas custem um
pouco mais, se não fizermos agora vai onerar ainda mais o consumidor no
futuro - pondera o especialista.
Potencial para 13 Itaipus
Quem só conhece o parque eólico gaúcho da estreita vista que se abre a
partir da freeway tem apenas uma idéia vaga da dimensão dos equipamentos
e da evolução da tecnologia envolvida na geração de energia a partir do
vento. Dentro da cápsula onde fica instalado o aerogerador, por exemplo,
cabem várias pessoas. O equipamento fica empoleirado no alto das torres
de 98 metros de altura - o equivalente a um edifício de 30 andares.
Embora o princípio da energia eólica seja simples, baseado nos moinhos de
vento de antigamente, melhorias tecnológicas permitiram avanços como
maior geração de energia em cada torre e a redução drástica do ruído
provocado pela movimentação das hélices. Os números impressionantes do
parque só perdem magnitude se comparados com o potencial de geração a
partir dos ventos no Brasil. Conforme Hamilton Moss de Souza, coordenador
do Cresesb, é possível produzir no país ao redor de 143 gigawatts em
energia eólica - mais de 13 vezes a capacidade de Itaipu.
- É claro que Itaipu é imbatível porque tem um reservatório, enquanto a
energia eólica é inconstante, e talvez nem todo esse potencial seja
economicamente aproveitável, mas se alcançarmos 10% do total, já serão 14
gigawatts - observa Souza.
Em grandes números, é o que a Alemanha já instalou no país. Segundo o
especialista, a disseminação da infra-estrutura nos países que já
aceleraram o uso desse tipo de energia ajuda a reduzir o custo.
Durante a construção do parque de Osório, foi necessário trazer guindastes
do Exterior para instalar os equipamentos no alto das torres. Embora a
Alemanha responda pelo maior quantidade de geração eólica, a participação
proporcional é maior na Dinamarca (veja abaixo).
Se para o Rio Grande do Sul o início das operações começa no momento
adequado - quando a produção das hidrelétricas cai por causa da seca -,
para o Brasil as fontes renováveis ganham importância com as dificuldades
ambientais para liberar projetos hídricos e os limites impostos pela
nacionalização das reservas da Bolívia.
(Por Marta Sfredo,
Zero Hora, 28/06/2006)