A construção pelo governo de duas hidrelétricas no rio Madeira,em Rondônia, causará impactos ambientais e sociais irreversíveis, alerta a coordenadora do Grupo de Trabalho Energia do Fórum Brasileiro de Organizações Não Governamentais (ONGs) e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, Lúcia Ortiz. "Existem várias medidas que podem ser tomadas para evitar a necessidade dessas grandes obras que, sem dúvida nenhuma, causam impactos sociais e ambientais significativos e, até por isso, se tornam inviáveis economicamente", explica Ortiz.
Nesta segunda-feira (26/06) uma carta em defesa do Rio Madeira foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No documento, representantes de 40 organizações socioambientais brasileiras e da América Latina pedem que Lula reveja a decisão de construir as hidrelétricas. Na carta, lembram que o Madeira é o segundo maior rio da bacia Amazônica, além de ser uma área de grande diversidade biológica e relevante para conservação da biodiversidade mundial.
Ao lado da preocupação com os impactos ecológicos da construção das barragens, Lúcia Ortiz também diz que não houve debate suficiente. "Depois de Itaipu é grande obra que está sendo cogitada. Em Itaipu vivíamos em ditadura militar; agora, uma decisão sobre um empreendimento desse porte e com esses impactos deveria ter muito mais debate público", defende.
Segundo a coordenadora, as hidrelétricas juntas terão capacidade instalada de até 7 mil megawats e uma área considerável de inundação, que poderá causar a perda da biodiversidade de espécies de peixes que são a base da econômica de 3 mil pescadores da região de Porto Velho. Lúcia Ortiz alerta também para os efeitos que a alta carga de sedimentação do Madeira pode causar. "É um rio que tem um carga de sedimentos quase igual à metade de toda a carga que vai para a bacia do Rio Amazonas. Ou seja, é muito sedimento para ser barrado por um muro. Isso pode fazer com que a vida útil dessa barragem seja muito curta".
Outro alerta que Ortiz faz se refere a grande concentração de mercúrio já existente nesse rio. Segundo ela, com a barragem, a carga acumulada do produto poderá aumentar ainda mais e se acumular nos peixes a serem consumidos pela população.
De acordo com Glenn Switkes, da ONG International Rivers NetWork-SP, o licenciamento para o projeto de construção das barragens no rio Madeira, apresentado pelo consórcio Furnas e Odebrecht, ainda está sendo analisado pelo o Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. "Sabemos que o Ibama já manifestou sérias preocupações sobre vários aspectos do projeto. Eles exigiram estudos complementares de Furnas, que foram entregues no final de abril. Estão avaliando esses estudos, que não foram divulgados ainda".
Switkes disse que o projeto das hidrelétricas faz parte de uma iniciativa continental de infra-estrutura dos governos do Brasil, Bolívia e Peru para a construção de uma hidrovia industrial de mais de 400 mil quilômetros no rio Madeira. "Essa hidrovia incentivaria a expansão do cultivo de soja naquela região, porque será destinada para a exportação de soja para os portos do Pacífico".
(Por Érica Santana, , 26/06/2006)
Agência Brasil