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2006-06-27
Há pouco mais de um mês, ativistas do Greenpeace foram detidos durante um protesto que tentava parar o carregamento de grãos em um porto de escoamento de soja da multinacional Cargill, em Santarém, no oeste do Pará. A manifestação chamou a atenção de toda a mídia não só por causa da ação da ONG, mas também devido às ameaças sofridas pelos ativistas, que defendem o fim do plantio do grão em áreas de florestas. Desde então, a situação apenas piorou. Pessoas ligadas a entidades locais de defesa dos direitos humanos foram ameaçadas de morte pela Internet e temem pelo pior. A Rets localizou duas dessas vítimas, ambos padres atuantes na cidade paraense de 300 mil habitantes, considerada o novo eldorado da produção sojeira devido ao baixo custo da terra (comprada ou grilada) e da mão de obra.

Os religiosos José Boeing e Edilberto Senna hoje tomam cuidado ao saírem de casa e já pediram proteção policial. Boeing, além de padre, é advogado e presidente da subseção Santarém da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Senna é diretor da Rádio Rural, veículo de informações local, e coordenador da Frente de Defesa da Amazônia, que conta com a participação de sindicatos rurais e núcleos da Igreja católica.

Ambos foram pegos de surpresa, apesar do trabalho que desenvolvem, quando repórteres do jornal Gazeta de Santarém os procuraram para comentar frases que haviam encontrado na comunidade do Orkut “Fora Greenpeace – Amazônia é dos brasileiros”, então com 226 membros. Um comentário dizia “Se você amigo tiver a oportunidade de pegar um ativista na rua; bata, mais (sic) bata até a morte; pode ser homem ou mulher; bata pra matar; pois quando um morrer; aí sim eles vão ver de quem é a Amazônia!!! Matem Edilberto Senna e o padre Boing (sic) pelo bem de Santarém”.

“O repórter me avisou sobre a ameaça e perguntou se eu já sabia daquilo. Disse que não”, lembra Edilberto Senna. “Ele disse que ia publicar e não me opus. Aí começou a repercussão, que foi ainda maior por aqui devido à lembrança dos protestos feitos pelo Greenpeace”. Logo após a publicação do semanário, os dois procuraram o Ministério Público para pedir orientação. Os procuradores lhes disseram que cuidariam da parte criminal, acionando as polícias militar, civil e federal, e os aconselharam a buscar advogados para processar o autor das ameaças, um jovem de 18 anos chamado Derick Figueira. Foi o que fizeram. Hoje três advogados cuidam do processo por apologia ao crime contra Figueira e o criador da comunidade, Sidney Neumamn.

As mensagens e a comunidade foram apagadas do site de relacionamentos, que ainda possui manifestações contrárias à presença de ONGs na Amazônia. Conteúdos ofensivos, entretanto, não foram encontrados pela Rets.

Ao mesmo tempo, os ameaçados estão tomando precauções. Boeing faz parte do programa de proteção de defensores de direitos humanos do governo federal; Senna procura não andar sozinho por Santarém ou cidades vizinhas e foi orientado a colocar película escura nos vidros de seu carro para dificultar sua identificação. Medidas necessárias, mas difíceis para ambos, acostumados a ter livre trânsito pela cidade.

As ameaças motivaram diversos atos de solidariedade aos religiosos. A OAB encaminhou um ofício à polícia federal pedindo apuração das ameaças e proteção das vítimas. A Igreja católica afirmou que ambos realizam trabalhos condizentes com sua doutrina social e lhes ofereceu todo o apoio necessário. Diversas ONGs e movimentos sociais que manifestaram sua indignação com o clima de tensão na área. O Greenpeace afirma em seu site que “é inaceitável que marginais continuem imperando na Amazônia, ameaçando e, muitas vezes, silenciando a voz daqueles que defendem a preservação e os povos da floresta”.

Soja versus Greenpeace

Por enquanto, Senna e Boeing se dizem “relativamente tranqüilos”, mas temem o futuro. Conhecedores do histórico de violência do estado e também das condições que trouxeram à tona ameaças antes restritas a pequenos comentários feitos por agricultores da cidade, eles dizem que a situação tende a piorar se as reivindicações do Greenpeace forem atendidas. E, contraditoriamente, os dois querem vê-las atendidas.

A organização ambientalista pede o fim da produção de soja na Amazônia. Para a ONG, a monocultura estimula a especulação fundiária, destrói a mata nativa e, com ela, diversas espécies animais e ainda utiliza direta ou indiretamente trabalho escravo. Por isso o Greenpeace lidera uma campanha internacional pelo boicote à compra do grão produzido na Amazônia. O principal alvo são os compradores, entre eles o McDonalds. A ONG está tentando convencer grandes empresas como a cadeia de fast-food a não adquirir mais grãos ou produtos feitos a partir deles, como óleo. A iniciativa tem tido sucesso lá fora. Estava marcada para essa semana uma reunião, no exterior, entre representantes da ONG, do McDonalds e da Cargill para discutirem o assunto. É isso que desperta temor no padre Edilberto.

“O agronegócio está vivendo uma crise com a queda do preço internacional da soja e agora está buscando um bode expiatório. Há alguns anos, o ‘garimpo’ da soja estava em alta e então todos conseguiram empréstimos para comprar terra ou as invadiram para produzir. O problema é que agora os preços caíram e eles precisam pagar dívidas. Se a Cargill realmente deixar de comprar a soja plantada na região de Santarém, os sojicultores vão estar perdidos e a culpa vai recair sobre nós”, analisa.

Desde 2004, o preço da tonelada de soja já caiu 31% em conseqüência do excesso de produção. Na Bolsa de Chicago, onde são cotados os preços internacionais de bens agrícolas, a tonelada do grão estava sendo negociada a US$ 219 em maio deste ano, contra US$ 232 em maio de 2005, uma queda de 6%.

Apesar de ter construído um gigantesco porto para escoamento da soja fabricada no norte do país, a um custo de US$ 20 milhões, a Cargill não produz muito na região de Santarém. Ao menos se comparado com sua produção total. Segundo a empresa, menos de 10% dos grãos escoados pelo porto da cidade paraense são colhidos na região. O restante vem de caminhão do Mato Grosso e de outros estados. Para a empresa, no entanto, abrir mão do potencial de crescimento é arriscado e não está em seus planos, apesar das recentes declarações de seu presidente no Brasil, Sérgio Barroso.

O executivo afirmou, em seminário sobre responsabilidade social no Instituto Ethos no último dia 20, que a empresa precisa rever sua atuação em Santarém, mas negou as acusações de que o porto seja ilegal e de que o plantio de soja na região tenha impacto negativo.

Dados reunidos pelo Greenpeace e divulgados no relatório “Comendo a Amazônia”, publicado no início de abril, mostram que a presença da empresa no oeste do Pará acelerou o desmatamento da floresta e a grilagem de terras. O desflorestamento aumentou de 15 mil para 28 mil hectares ao ano em Santarém e no município vizinho de Belterra desde a chegada da empresa, em 2002. A produção de soja explodiu no período. Se na safra 2002/2003 foram colhidas 600 toneladas, na seguinte, saíram dos solos mocorongos 12,4 mil, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A área cultivada, no mesmo período, passou de 200 hectares para 4.600 ha.

Além disso, o preço do hectare subiu 6.600% desde 2002, mas o valor ainda é menor do que o encontrado no Mato Grosso, onde a Cargill compra a maior parte de sua produção. Desde então, a companhia já instalou dois silos de armazenamento de soja em Santarém, com capacidade total para armazenar mais de 60 mil toneladas de soja por dia. A chegada da empresa coincide com o aumento da violência na região, de acordo com os padres. “Há quatro anos, o oeste do Pará era apenas uma área de fronteira da agricultura”, afirma padre Boeing. “Desde então, várias pessoas já foram ameaçadas de morte, um ativista foi morto (Raimundo Moraes Pinheiro, ex-presidente da Associação de Moradores do Moju, assassinado em 20 de maio de 2005) em Santarém e vários outros em cidades próximas. Tudo devido ao embate entre agricultores familiares e monocultores”. Ninguém acusa a empresa norte-americana de ser responsável direta pela violência, mas todos afirmam que sua presença estimula a grilagem de terras e a produção desenfreada de soja pelo simples fato de haver um comprador garantido.

Além da violência, outros problemas sociais têm surgido, como o aumento do êxodo rural e a favelização da área urbana do município. Vários pequenos produtores se iludem pelos valores oferecidos por suas terras e as vendem. Quando chegam à cidade, descobrem que não receberam tanto assim e ficam desempregados. E ainda há casos de pessoas que nem ao menos recebem, pois são expulsas de suas propriedades para abrir espaço para a soja. Casas e plantações queimadas não são cenas difíceis de serem vistas, assim como sabotagem de lavouras.

A Cargill argumenta, em carta-resposta ao relatório do Greenpeace, que sua presença traz benefícios econômicos para a cidade e minimiza o impacto da soja na Amazônia. A empresa afirma que apenas 1,2% da Amazônia Legal (área que engloba os estados com florestas amazônicas) está ocupada com plantações de soja. Ou seja, apenas 59 quilômetros quadrados.

“Hoje, a soja ocupa cerca de 25 mil hectares - só 8% - das áreas abertas na região de Santarém. Um dos desafios históricos dessa área tem sido o respeito com o duro Código Florestal do Brasil. Na região de Santarém, a Cargill está trabalhando com a The Nature Conservancy, uma organização ambientalista reconhecida internacionalmente, a União de Produtores de Santarém e com fazendeiros que vendem soja para nossa unidade de exportação para identificar e implementar práticas de melhor manejo e administração ambiental”, dia a carta. O Código Florestal afirma que as propriedades agrícolas na Amazônia devem manter 80% de sua área com mata nativa. Apenas 20% podem ser desmatados para produzir.

A carta também afirma que a empresa apóia esforços de produção sustentável em áreas além da polêmica região e que faz parte da Mesa Redonda sobre Soja Responsável, que conta com a presença de ONGs de peso como o WWF. Inclusive convida o Greenpeace a fazer parte dela.
(Por Daniel Beltra/ Greenpeace, 26/06/2006)
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