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2006-06-26
Você costuma ser um observador atento do meio a sua volta? Caso sim, talvez tenha percebido alguma mudança nos tipos e no número de aves nos últimos anos. A ornitóloga do Instituto de Biociências (IB) da USP, Elizabeth Höfling, constatou, por meio de observações continuas nos últimos 22 anos, que o número de espécies de aves na Cidade Universitária vem aumentando. Para a professora, uma mudança nesse sentido pode ser constatada no ambiente urbano em geral, embora ainda não existam pesquisas científicas nem algum censo orientados para a verificação desses dados

Os estudos de Elizabeth renderam o livro Aves no campus, sobre as aves da Cidade Universitária. Na comparação dos dados de suas quatro edições, o livro revela algumas surpresas. Segundo a pesquisadora, na primeira edição, datada de 1993, foram listadas 134 espécies de aves. Já a terceira, lançada seis anos depois, registra 9 espécies a mais. Na quarta edição, ainda a ser lançada, 156 espécies de aves serão abordadas, 13 a mais que na anterior. A pomba-de-bando (Zenaida auriculata) é uma das espécies que, no inicio dos estudos da professora, não era encontrada no Campus e agora é. O papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), mais raro antes, agora dá o ar de sua graça com mais freqüência.

Para a ornitóloga, as mudanças devem-se ao maior tempo de observação das espécies - quanto mais se estuda um ambiente mais se descobre sobre ele - e ao fato de a USP ser um ambiente mais protegido. “O número de espécies aqui dentro não é encontrado em lugar nenhum de São Paulo”, observa Elizabeth. A postura da comunidade universitária diante da questão ambiental é, para ela, outro fator de preservação das espécies “Eu não vejo as pessoas que freqüentam o Campus depredando, matando bichos. Estão mais conscientizadas e fazem do Campus um ambiente mais protegido.”

Já para a constatação do aumento do número de aves no perímetro urbano, observado por muitas pessoas, Elizabeth vê como justificativa o fim da "cultura do estilingue". Para ela, a mudança de hábitos das crianças, que antes comumente usavam estilingues e alçapões para caçar pássaros, e a educação ambiental que hoje recebem, tem um reflexo visível na composição do nosso ambiente. “Hoje as crianças são educadas para preservar, não para matar”, pondera.

Para Núria Hanglei Cacete, professora da Faculdade de Educação (FE), a educação formal que as crianças recebem nas escolas de fato levam a uma conscientização ambiental, mas acredita que esse debate ainda deve alcançar maiores proporções. “As escolas discutem a questão do lixo, da reciclagem, mas essas discussões poderiam se tornar mais amplas. Os próprios parâmetros curriculares colocam a questão do meio ambiente como transversal, ou seja, todas as áreas têm que tratá-la”. Poderia ser ampliada também a participação de atores não governamentais, como as ONGs e as próprias famílias.

A emergência de uma consciência ambiental nos últimos anos, que se reflete na mudança de hábitos e na crescente importância da educação ambiental, pode estar atrelada, contudo, a uma situação limite de depredação do nosso meio. Como observa Núria, “Vivemos uma crise que está posta para toda a humanidade: a escassez de recursos naturais. A lapidação do meio existe há tempos, mas a consciência disso é recente”.
(Por Kívia Costa USP/Notícias online, 25/06/2006)

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