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2006-06-26
Com os preços do petróleo alçando vôo e o Oriente Médio de ponta-cabeça, pode ser um pouco reconfortante saber que os Estados Unidos possuem gigantescas reservas de combustível fóssil. Essa é a boa notícia. A má é que este combustível é o carvão.

Quão mau está demonstrado em “Big Coal”, crítica consistente de Jeff Goodell a uma das maiores, mais poderosas e mais antiquadas indústrias do país. O carvão, argumenta ele, é ruim para a economia, ruim para a saúde pública e especialmente ruim para o meio-ambiente, apesar de seu futuro parecer um tanto quanto luminoso. Ele é relativamente barato. É abundante. E os americanos, que recebem metade de sua energia elétrica dos geradores que queimam carvão, são viciados nele. Como em 2005, mais de 120 novas usinas de combustão de carvão foram ou planejadas ou estão sendo construídas nos Estados Unidos. “Podemos não gostar de admitir”, escreve Goodell, “mas nosso lustrado mercado branco iPod é sustentado por pedras sujas e negras”.

Goodell, editor contribuinte na Rolling Stone, examina o carvão de três pontos de vista em seu ciclo de vida. Ele vai para West Virginia e Wyoming para ver como é extraído e transportado via férrea a usinas de geração de energia em todo o país. Assiste o mineral sendo queimado e transformado em eletricidade. Finalmente, ele mede os efeitos ambientais no lançamento de enormes quantidades de dióxido sulfúrico e de carbono na atmosfera vindas de mais de 1 bilhão de toneladas de carvão queimado a cada ano dentro dos Estados Unidos, e outras bilhões mais de todo o mundo. Visto de qualquer ângulo, o carvão tem a aparência feia.

Há um preço a ser pago pela eletricidade barata. Em lugares como Nova York, São Francisco e Boston, os gastos secretos continuam secretos. Mas Goodell segue para cidades como Madison, West Virginia, onde atualmente as empresas correm atrás do carvão explodindo topos de montanhas, transformando-as em rios e vales. A destruição de florestas levou a monstruosos dilúvios devastadores. As ruínas dos topos das montanhas, que levam ácido e metais pesados aos rios, oportunamente passaram de “lixo” para “sedimento” pela atual administração Bush, limpando um grande obstáculo legal para a execução de novas operações de extração.

Goodell retraça, vivida e concisamente, a triste história da extração de carvão em West Virginia, agora na era de seu crepúsculo. As grandes empresas de mineração, depois de sugarem o dinheiro fácil de fora do Estado, mudaram-se para a Bacia Fluvial Powder, em Wyoming, onde o carvão com baixo índice de enxofre pode ser extraído em larga escala e a indústria obtém muito sucesso. Enquanto isso, voltando para o velho país do carvão, sub-empreiteiras que não fazem parte da união arredondam os cantos e forçam trabalhadores até o limite para arrancarem umas poucas toneladas a mais de minas quase esgotadas.

Mineração de carvão nos EUA, argumenta Goodell, é um negócio mesquinho e sujo com um espantoso registro sobre segurança do trabalhador e poluição ambiental. Uma indústria do século 19, ela enfrentou amplamente os desafios do século 21 ao se entrincheirar em seus calcanhares e olhar resolutamente para trás. Seus principais possibilitadores têm sido maleáveis políticos, amaciados com muito dinheiro, e uma burocracia frequentemente covarde em regulamentos. Esta administração de Bush em particular tem virado as costas para deixar a vida confortável para o carvão, e Goodell, citando em capítulo e verso, trata eficientemente disso.

Goodell trata gravemente de aquecimento global. Industriais do carvão, encarados com clara evidência de que emissões de dióxido de carbono contribuíram amplamente para aumentos nas temperaturas planetárias, resolutamente decidem atirar nos mensageiros. Ao invés de procurarem por uma tecnologia mais limpa, companhias tem se concentrado em desacreditar a ciência atrás do aquecimento global, formando o Conselho de Informação sobre o Ambiente para rotular aquecimento global como uma teoria ao invés de um fato. Um vídeo financiado pela indústria, “The Greening of The Planet Earth”, sugere que temperaturas mais quentes levarão a uma abundância sem precedentes, como desertos transformados em fazendas. Inacreditavelmente, esta campanha provou ser altamente eficaz.

Goodell bate forte mais luta justo, pelo menos durante a maior parte. Ele concorda que o carvão teve alguns progressos com o passar dos anos. Ele quer ver mais disso, especialmente ao adotar uma nova tecnologia chamada ciclo de gaseificação combinado, o qual cozinha as impurezas no carvão antes de transformá-lo num gás sintético que é, então, capturado e queimado em uma turbina. Geradores usando este método podem queimar carvão quase de forma tão limpa quanto o gás natural, mas o processo é mais caro. E há é ai que a borracha encontra o asfalto.

Estão americanos dispostos a pagar 20 a 25 por cento a mais para acender a luz ou o aquecedor em suas casas? Aqui o teimoso Goodell fica um pouco molenga. Essencialmente, ele está pedindo a consumidores médios para cavarem mais fundo e pagarem mais por benefícios vagamente percebíveis no futuro. Apresentar de ganhos futuros geralmente não acrescentarem nenhum ponto de vencimento político, então, para superar isso, Goodell faz promessas selvagens. Um total comprometimento com energia limpa poderia, argumenta ele, “desatar uma bonanza de empregos que faria o que aconteceu com o Vale do Silício nos anos 90 parecer como venda de atacado”. Como isso pode ser efetivado permanece um pouco misterioso. Apenas vai acontecer.

Goodell deveria simplesmente admitir que não há almoço grátis. Os EUA aproveitaram uma gratuita carona em energia por um século e mais, e as companhias de carvão se distinguiram como bandidas por todo o caminho. Agora chegou o dia do julgamento. Nós - e, em um mundo justo, eles – vamos pagar o preço, seja hoje ou amanhã. Goodell, neste bem escrito, pontual e poderoso livro, deixa claro como cristal o que está em jogo.
(Por William Grimes, The New York Times, 23/06/2006)
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