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2006-06-26
Quando Anne Pashby se mudou para Baltimore, no ano passado, ela ficou impressionada com a complexidade da reciclagem na cidade. "Nunca acertava qual era o dia do papel, o dia da cartolina e o das latas", disse Pashby, 38, gerente de recursos humanos. "Então desisti."

Mas ela não queria desistir do meio ambiente. Procurando uma forma mais fácil de tornar sua vida mais verde, ela consultou uma "calculadora de carbono" no site do Conservation Fund (conservationfund.org) e descobriu que os eventos de sua vida diária, como dirigir um carro, aquecer sua casa e fazer viagens de avião, produziam cerca de 14 toneladas por ano de emissões de carbono, ou "pegada de carbono". O Conservation Fund, grupo sem fins lucrativos de Arlington, Virgínia, ofereceu neutralizar essa quantidade por US$ 57 (em torno de R$ 130), plantando 11 árvores no vale do Mississippi -o suficiente para remover 14 toneladas de dióxido de carbono da atmosfera. Ela aceitou com prazer. "Senti-me bem", disse ela. "Pude acalmar minha consciência sem gastar muito dinheiro."

São os chamados incentivos verdes: formas fáceis de os consumidores ajudarem o meio ambiente sem mudar seu comportamento. Tais incentivos vêm proliferando: os esquiadores, por exemplo, podem pagar mais US$ 2 (em torno de R$ 4,5) em alguns resorts para compensar a poluição produzida por um passeio de carro pelas montanhas; o dinheiro vai para organizações ecológicas. Em sites TerraPass.com ou CoolDriver.org, os motoristas podem calcular a poluição produzida por seu carro em um ano e direcionar uma soma correspondente a projetos de energia limpa.

Oportunidades similares para se tornar "neutro no clima" podem ser encontradas em shows de música, festivais e eventos de esporte, e até nas compras: no dia 9 de junho, a Gaiam, loja de Broomfield, Colorado, que vende produtos que incluem luz solar e lençóis de algodão orgânico, começou a oferecer uma opção de frete "neutro para o ambiente" por US$ 2, transferindo a taxa para o Conservation Fund plantar árvores.

Os incentivos verdes agradam à consciência das pessoas. "Gosto da idéia de, por poluir certa quantidade, pagar certa quantia", disse Morgan Waters, 36, médico de Sacramento, Califórnia. No outono, ele pagou cerca de US$ 40 (em torno de R$ 90) para o TerraPass, uma empresa de Menlo Park, Califórnia, para contrabalançar as emissões de seu Volkswagen Jetta. O TerraPass envia o dinheiro para projetos que promovem energia verde e eficiência industrial. Waters também paga US$ 6 (aproximadamente R$ 13) por mês para a empresa fornecedora de eletricidade por energia renovável.

O desafio aos consumidores é compreender exatamente para onde vai o dinheiro, e como os incentivos de fato ajudam o meio ambiente.

Alguns são fáceis de entender. No Lenox, um hotel em Boston, o pacote Eco Chic, US$ 309 (em torno de R$ 710), custa mais do que a diária normal (a partir de US$ 239, ou R$ 550). Em troca, os hóspedes recebem café da manhã, passes para o transporte público de Boston -para que não tenham que dirigir- e uma cópia do "The Consumers Guide to Effective Environmental Choices: Practical Advice from the Union of Concerned Scientists" (guia de escolhas ambientais eficazes para o consumidor: conselhos práticos da associação de cientistas preocupados). Além disso, o hotel compra suficiente energia renovável para evitar o efeito estufa produzido pela estadia: cerca de 35 kg de emissões de carbono por noite.

Outros incentivos verdes podem ser mais complicados. "Eu estava pensando em comprar energia verde, mas quando procurei, encontrei tantas opções diferentes", disse Zoe Chafe de Washington, pesquisadora do Worldwatch Institute, grupo de pesquisa ambiental. "Algumas eram por meio da empresa fornecedora de energia elétrica; outras diziam: Coloque seu dinheiro aqui e nos ajudará a criar uma fazenda de esterco para gerar energia alternativa."

Cerca de 20% das empresas fornecedoras de energia elétrica da nação oferecem aos clientes a energia chamada verde. Em Sacramento, Waters participa do programa Greenenergy, oferecido pelo município de Sacramento, que soma seu uso de eletricidade e tenta comprar uma quantidade equivalente de energia de uma fazenda eólica ou outro tipo de energia renovável. Mas não há suficientes plantas de energia limpa em Sacramento, então a empresa compra certificados de energia renovável ou "etiquetas verdes" de fazendas eólicas em outras partes. As etiquetas certificam que uma empresa de energia limpa em alguma parte vendeu uma quantidade de energia.

Quando os consumidores não têm uma opção local, eles podem comprar sua própria etiqueta verde ou outros produtos "para contrabalançar o carbono", como o financiamento de projetos de energia limpa e reflorestamento em outras partes do país. Chafe, por exemplo, encontrou a NativeEnergy, empresa cuja maioria dos proprietários são 11 tribos nativas americanas nas Dakotas, Nebraska e Wyoming. Por US$ 8 (cerca de R$ 18) por mês, a NativeEnergy , de Charlotte, Vermont, compensa 100% do uso elétrico dos clientes financiando projetos de metano que captam o gás produzido pelo esterco.

Algumas escolhas podem ser complicadas. Dois meses depois de se mudar, Chafe ainda está comprando energia comum. "Estou tentando entender exatamente para onde meu dinheiro irá, antes de tomar uma decisão", disse ela.

Pode ser ainda mais difícil selecionar os muitos grupos que prometem reduzir sua pegada de carbono. A Clif Bar, empresa de Berkeley, Califórnia, que vende barras energéticas, também vende "Cool Tags" de US$ 2 em shows e eventos esportivos para contrabalançar o custo verde da viagem; o dinheiro vai para as fazendas eólicas da NativeEnergy. Sites como Carbonfund.org e GreenTagsUSA.org têm calculadoras de carbono para estimar a poluição e oferecer produtos para compensá-la. A Ford Motor tem uma parceria com a TerraPass para estimular os motoristas a comprarem compensações de carbono.

Tantos agentes entraram nesse mercado que os consumidores têm muita escolha. Pashby, a gerente de recursos humanos de Baltimore, compensou sua pegada de 14 toneladas de carbono com US$ 57 para o Conservation Fund. Ela teria desembolsado US$ 200 (em torno de R$ 450) para a mesma compensação pela GreenTagsUSA.org, patrocinada pela Bonneville Environmental Foundation, grupo sem fins lucrativos que apóia energia renovável. Outra opção seria pagar US$ 77 (aproximadamente R$ 225) para Carbonfund.org, organização sem fins lucrativos que promove formas de reduzir ou compensar emissões de carbono.

Apesar de os grupos parecerem vender a mesma coisa, as abordagens variam. Alguns, como o Conservation Fund, plantam árvores para absorver o carbono. Outros, como o TerraPass e o NativeEnergy, tentam evitar a poluição em primeiro lugar, patrocinando projetos de produção de energia limpa com etiquetas verdes e outros métodos. Alguns grupos, como o Carbonfund.org, tentam fazer os dois.

Pashby escolheu o Conservation Fund porque "árvores são mais bonitas que fazendas eólicas". Mas não está claro qual opção é melhor para o planeta. "O desafio para o consumidor é que não há um padrão uniforme para o que constitui uma redução válida na poluição", diz Daniel Lashof, diretor de ciências do centro de clima do Conselho de Defesa de Recursos Naturais. As exceções, disse ele, são etiquetas verdes com o certificado Green-e, um selo de aprovação emitido pelo Centro de Soluções de Recursos, grupo sem fins lucrativos com base em San Francisco que se certifica que as empresas de energia limpa vendem a quantidade de energia que dizem fazer.

O selo, entretanto, é limitado a etiquetas verdes e não se aplica a empresas que oferecem um conjunto de projetos. Os que envolvem reflorestamento podem ser especialmente difíceis de se verificar. "Não há muito acompanhamento do reflorestamento na Costa Rica. Como você sabe se o mesmo alqueire não está sendo vendido para várias pessoas?", disse Brendan Bell, representante do programa de questões energéticas e aquecimento global da Sierra Club.

Algumas empresas estão tentando melhorar a possibilidade de verificação. O Conservation Fund envia certificados a seus clientes, dizendo a eles quando e onde suas árvores serão plantadas. O TerraPass tem suas transações acompanhadas pelo Centro de Soluções de Recursos. E o Climate Neutral Network, grupo independente sem fins lucrativos em Portland, Oregon, desenvolveu um certificado "Climate Cool" para produtos que compensam as emissões de carbono, apesar de não ter sido amplamente adotado. O Centro de Soluções de Recursos também está desenvolvendo um certificado similar ao Green-e, que espera oferecer neste verão.

"Estamos tentando desenvolver padrões para podermos tornar isso transparente e não ter escândalos que destroem o mercado", disse Lars Kvale, analista do Centro de Soluções de Recursos.

A possibilidade de fiscalização pode ser especialmente importante na arena comercial. NativeEnergy, TerraPass e outras empresas lucram comprando e revendendo etiquetas verdes e outros investimentos. "Fiquei surpreso quando soube mais tarde que a TerraPass é uma empresa que visa o lucro", disse Waters, o médico de Sacramento. "Isso poderia muito bem ter afetado minha decisão de comprar. Gosto de pensar que todo centavo do que estou dando apóia a causa."

A TerraPass diz que tenta informar a todos clientes sobre seu status comercial e que seu modelo permitiu que atraísse capital, crescesse mais rápido e assim servisse melhor ao meio ambiente. Por enquanto, a solução serviu para Waters. "Faz-me sentir que estou fazendo algo, e dá uma sensação muito pessoal", disse ele. "Gostaria de pensar que quando for hora de renovar, vou comparar e encontrar o grupo mais eficiente."
(Por Christine Larsonthe, The New York Times, 26/06/2006)
linK:http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2006/06/26/ult574u6719.jhtm

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