Hidrelétrica de Campos Novos (SC): Antes submersa, mata nativa dá lugar ao lodo
2006-06-26
As encostas, antes verdejantes, que formam o vale que divide os municípios de Celso Ramos e Campos Novos, agora estão com mais da metade da sua estrutura sem a mata. As estradas feitas para o trânsito de veículos da construtora durante a obra da usina continuam intactas. Algumas terão de ser refeitas para que os engenheiros da Camargo Correa possam fazer o serviço de reparo do vazamento.
O local onde estava o lago apresenta perigos para a população. Durante os nove meses que a área esteve submersa, o solo virou um lodo e há riscos de desabamento. O setor de Meio Ambiente da Enercan monitora a região para prevenir que pessoas cheguem ao local.
Nas lagoas formadas junto ao leito que foi seco, foram feitas vistorias para retirar peixes que ficaram na área antes submersa.
Esse cenário vai ficar exposto até a conclusão da obra de reparo e o enchimento do lago. Com o esvaziamento, o Rio Canoas voltou ao seu leito normal.
Sábado pela manhã, quando abriu a janela da casa, situada a menos de 20 metros da margem do Rio Canoas, em Celso Ramos (SC), a dona de casa Isabel Menegazzo, 33 anos, se sentiu mais aliviada.
Ela enxergou a água do rio escolhido para gerar os 880 megawatts pela usina de Campos Novos, tranqüila. Assim, percebeu que o lago de 32 quilômetros quadrados formado pela barragem da hidrelétrica havia, enfim, sido esvaziado. Os moradores temiam um rompimento na usina e a inundação da região.
Isabel mora com o marido, Francisco de Oliveira, e o filho Lucas, de três anos, na barranca do Canoas. Desde a madrugada de terça-feira, quando a pressão da água provocou o aumento da rachadura no segundo túnel da usina, e lançava de volta para o leito o volume de quase 4 mil metros cúbicos por segundo, a família vivia com medo. Lucas era o mais assustado. Olhava para a mãe e perguntava:
- Se a barragem estourar, a água vai vir aqui?
Isabel não sabia o que dizer. Apenas tranqüilizava o garoto usando a informação que lhe foi repassada por funcionários da construtora Camargo Corrêa, responsável pela obra.
- Não, filho. Fica calmo que nada vai acontecer. Se ocorrer algo mais grave, eles (funcionários) irão no avisar - disse.
Água foi deslocada para Machadinho e Itá
A abertura que provocava a saída da água do lago estava situada numa distância de 700 metros da estrutura de 202 metros de altura, erguida em rocha e concreto, que serve para conter o avanço do rio e direcionar a água para as três turbinas de geração de energia.
- Ficamos duas noites sem dormir direito. Rezei um monte para que nada acontecesse. Parece que agora está mais calmo - disse Isabel, ontem à tarde, quando o lago já havia sido praticamente esvaziado.
Esse também é desejo dos engenheiros da Camargo Corrêa, que têm a tarefa de estancar o vazamento, e da diretoria da Campos Novos Energia (Enercan), empresa que administra a usina.
- Estou mais calmo porque agora podemos identificar esse rompimento e iniciar a recuperação - disse o diretor-superintendente da Enercan, Enio Schneider.
A água do lago foi levada para as usinas de Machadinho e Itá que estavam operando com a capacidade limitada devido à estiagem.
(Zero Hora, 25/06/2006)
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