Reflorestamento atrai empresas para Telêmaco Borba (PR)
2006-06-26
A madeira manejada de pinus e eucalipto tem atraído empresas da áreas madeireira e
moveleira para Telêmaco Borba, município a 128 km ao norte de Ponta Grossa, na região dos
Campos Gerais. O pólo industrial criado oficialmente em 1993 conta atualmente com cerca
de 35 empresas, que juntas oferecem cerca de 3,5 mil empregos.
O crescimento econômico de Telêmaco Borba tem ligação direta com o programa de fomento
florestal implantado pela Klabin Monte Alegre, fabricante de papel e celulose, instalada
no município. A principal proposta da companhia é lançar as sementes do futuro. Para isso
apóia-se em ações de sustentabilidade, como o programa de fomento florestal, que já
proporcionou a formação de 40 mil hectares de áreas reflorestadas na região.
O projeto tem por objetivo gerar o equilíbrio do meio ambiente e incentivar produtores
rurais a plantar florestas, visando ao abastecimento próprio da empresa para que não
sejam cortadas árvores nativas para a produção de celulose ou madeira bem como a
comercialização para empresas madeireiras e moveleiras. ""Isso serve para o
desenvolvimento da comunidade. A idéia de plantar florestas torna-se uma possibilidade do
produtor, que diversifica sua renda e ainda ajuda a natureza"", destaca Paulo Vicente
Ângelo, assistente técnico do Programa de Fomento Florestal da Klabin.
Segundo ele, o manejo florestal realizado pela Klabin, e também pelos fomentados, em
forma de mosaico, mesclando florestas plantadas e extensas áreas de matas nativas
preservadas, permite a existência de uma rica biodiversidade em suas florestas. Por
sinal, ponto fundamental para que a empresa fosse certificada pelo Forest Stewardship
Council (FSC), um dos importantes diferenciais da empresa, o qual atesta que a produção
ocorre respeitando todos os aspectos econômicos, sociais e ambientais.
Dentro dessa proposta de desenvolvimento da comunidade, as florestas da região de
Telêmaco têm atraído diversas indústrias. Uma delas é a Indústria Brasileira de Molduras,
que instalou-se no município há dois anos. Segundo o diretor administrativo, Armando
Giacomet, a implantação da empresa foi possível por causa de uma parceria com a Klabin
Monte Alegre e também pela facilidade em aproveitar as florestas da região. ""Só faz
sentido a implantação de um projeto desses porque existe disponibilidade de
matéria-prima"", reforçou Giacomet.
A fábrica de molduras emprega quase 1 mil funcionários diretos e utiliza aproximadamente
40 mil toneladas de madeira por mês. Praticamente 100% da produção vai para o mercado
externo.
Viveiro garante produção de mudas
Mãos delicadas e anônimas podam com perfeição as matrizes (mudas) plantadas no jardim
clonal. Cada uma das miniestacas, resultado da poda, é novamente plantada e preparada
para ir ao campo. De lá, anos depois, torna-se a matéria-prima para a produção de papéis
e móveis, além de servir para o equilíbrio do meio ambiente.
Assim é o processo no viveiro mantido pela Klabin, em Telêmaco Borba. No local são
produzidos 22 milhões de mudas por ano. A missão desse viveiro, informa o coordenador da
área de produção de mudas da Klabin, Dilur Araújo, é disponibilizar as plantas às áreas
próprias da Klabin e também aos fomentados. ""Nesse viveiro dá para produzir tanto mudas
por clonagem como por semente"", destaca.
No jardim clonal, por exemplo, estão plantadas 170 mil matrizes, que geram em torno de
seis brotos por mês, durante dois anos. Depois de serem retirados os brotos, eles são
tratados, passam por um processo de irrigação em estufa e depois são levados para o
campo. Já as mudas por semente ficam um período na casa de germinação em estufa e só
depois desse processo estarão preparadas para serem encaminhadas ao reflorestamento.
De acordo com Araújo, todo o substrato utilizado para adubar as mudas, no período de
fertilização, é elaborado a partir da casca do pinus. ""É um produto natural, que não
provoca contaminação nenhuma à planta que está crescendo"", enfatiza. O pinus leva em
média seis meses para ficar pronto, já o eucalipto pode ser ser levado ao campo em 90
dias.
Produtores investem no plantio
Dentro da proposta de fomento, a Klabin assume a condição de avalista de operações de
crédito para produtores credenciados e interessados no plantio de floresta nos Estados do
Paraná e Santa Catarina. O fomento, segundo o assistente técnico do programa da empresa,
Paulo Ângelo, acontece de diversas formas e atende pequenos, médios e grandes produtores.
No Paraná, num raio de 100 quilômetros em volta da companhia, já existem perto de 5,7 mil
produtores de florestas.
Como incentivo, para o pequeno produtor, a Klabin doa mudas de pinus ou eucalipto - que
são produzidas no viveiro da empresa. Também oferece assistência técnica, por intermédio
de profissionais da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), por
exemplo. Em contrapartida, os produtores comprometem-se a vender as madeiras
reflorestadas para a Klabin. Já os médios e grandes produtores podem também ganhar essas
mudas e revendê-las posteriormente para a empresa, ou comprar as plantas da Klabin e
comercializá-las para outras empresas.
""Plantei as primeiras mudas há 12 anos, quando recebi em doação alguns exemplares.
Plantei sem interesse e depois, ao cortar as primeiras madeiras, percebi que a atividade
podia dar certo"", diz o produtor Antônio Raizer de Oliveira. As primeiras madeiras podem
ser cortadas após seis anos e chegam a render R$ 7 mil por hectare. Como o investimento é
pequeno, já que a terra precisa de um preparo mínimo para receber as mudas e o risco de
perdas é quase nulo, o reflorestamento tem sido uma alternativa para agricultores que
querem fugir da crise do campo.
Atualmente, com uma propriedade de 32 alqueires, Oliveira destina 27 deles para o
reflorestamento. Fora isso, também cultiva milho, maracujá e alfafa, entre outras
culturas. ""Estou comprando mais terras para investir em florestas, pois o risco é
pequeno. Já com a agricultura a gente tem muitas perdas"", observa.
Na opinião do fomentado Geraldo Érico Speltz, ao plantar florestas, além do produtor ter
uma rentabilidade maior, ele colabora incondicionalmente com o equilíbrio do meio
ambiente. ""Se, de um lado, o produtor agrícola tem toda a liberdade para produzir, nós
que plantamos florestas precisamos seguir o código de reflorestamento. Temos de deixar
rigorosamente áreas de vegetação permanente"", esclarece.
Speltz começou a produzir madeiras na década de 90 e vislumbrou grandes oportunidades
nessa atividade. ""Vendi uns imóveis urbanos e comprei terras para plantar"", revela. Ao
total, Speltz tem uma área de 120 alqueires de reflorestamento.
O assistente técnico do programa da Klabin informa que a empresa conta com o Programa
Passiflora, que visa atender o pequeno e micro produtor, por meio de finaciamentos. Os
recursos, segundo ele, são provenientes do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e a
empresa repassa ao produtor como se fosse o próprio agente financiador. ""A gente garante
o produtor junto ao banco, como se fosse um fiador, e ele nos paga em madeira"", destaca.
(Por Erika Zanon, Folha de Londrina, 23/06/2006)
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=26535&dt=20060623