Engenheiros da Camargo Corrêa têm a tarefa de estancar o vazamento, mesmo
desejo da diretoria da Campos Novos Energia (Enercan), que é a empresa
que administra a usina.
- Estou mais calmo porque agora podemos identificar esse rompimento e
iniciar a recuperação. O importante é que não houve nenhuma inundação na
região - revelou o diretor superintendente da Enercan, Enio Schneider.
O esvaziamento da barragem foi um caso inédito registrado em obras de
usinas hidrelétricas no país - os prejuízos já estão calculados em, pelo
menos, R$ 30 milhões/mês. O lago que foi seco abrange uma área
correspondente a 32 quilômetros quadrados e tinha profundidade que
variava entre cinco metros (na cidade de Anita Garibaldi) e 180 metros,
na posição situada na boca da barragem.
A quantidade de água despejada não foi calculada. O volume foi absorvido
pelas usinas de Machadinho (no Rio Grande do Sul) e Itá, que estavam
operando com a capacidade limitada devido à estiagem. Com a entrada desse
volume oriundo do Rio Canoas nos lagos formados pelos rios Pelotas (faz
divisa com o Rio Grande do Sul), em Machadinho, e Uruguai, em Itá, as
hidrelétricas puderam reativar o funcionamento de duas turbinas para a
geração de energia.
Entenda o caso
- A usina de Campos Novos está situada sobre o Rio Canoas, num vale que
divide os municípios de Campos Novos e Celso Ramos.
- A barragem foi erguida para conter o leito do rio e formar o lago com
202 metros de altura. O lado onde está a face rebocada em concreto fica
em contato com a água durante a formação do lago. Ela é chamada de
montante e está situada no lado onde o rio nasce.
- Já o lado onde está o sistema de enroncamento (maciço de pedras
compactadas) da barragem, que é formado por rochas, não fica em contato
com a água. É chamado de jusante porque está na posição que indica onde o
rio desemboca, na direção Sul.
- Quando o lago está cheio, a água é direcionada para o canal de
aproximação e para o vertedouro, que é formado por três aberturas que
servem para escoar a água quando a barragem estiver cheia. A água que é
direcionada para esse local segue para uma canalização que direciona a
pressão para acionar as três turbinas situadas a mais de 100 metros abaixo
desse nível.
Os túneis de desvio
- Para a barragem ser erguida, o leito do Rio Canoas teve que estar seco.
Para isso, foram construídos dois túneis de desvios (foto) que serviram
para mudar o curso da água para liberar a área durante a construção da
barragem. Esse dois túneis são colocados lado a lado e ficam cerca de 700
metros distantes da barragem. O da esquerda é o número um e, o da
direita, o dois.
- Eles medem 900 metros de comprimento e levam a água para dentro das
rochas que servem de base do vale onde está o município de Campos Novos,
e direcionam o rio para o leito normal, situado no lado da jusante da
barragem. Cada túnel é formado por três comportas (vãos), que medem quatro
metros de largura e 14 de altura.
- O primeiro registro de vazamento ocorreu no final do ano passado,
quando iniciou o enchimento do lago, no primeiro vão do túnel dois. Essa
abertura apontou uma vazão de água de 50 metros cúbicos por segundo.
Esse problema foi solucionado com o uso de materiais pesados, como metais,
que fecharam a rachadura. O segundo registro aconteceu em abril no
terceiro vão do mesmo túnel.
- Um vazamento de 30 metros cúbicos por segundo começou nesta semana, mas
a pressão da água aumentou a saída da água na madrugada de terça-feira
(20/06) provocando uma saída de quase 4 mil metros cúbicos por segundo,
que resultou no fechamento do túnel.
- O custo da obra é de R$ 1,5 bilhão, e a previsão de acionamento da
primeira turbina era setembro ou outubro - a geração de energia será de
880 megawatts.
(
Pioneiro, 23/06/2006)