Oceano Antártico pode regular nível de carbono na atmosfera
2006-06-24
A circulação nas águas próximas à costa da Antártida pode ser um dos meios essenciais do planeta para regular os níveis de dióxido de carbono na atmosfera, de acordo com pesquisadores de Princeton. Cientistas debatem há tempos os mecanismos por trás da variação nos níveis atmosféricos de dióxido de carbono ao longo da história da Terra, e a equipe de Princeton pode ter encontrado uma pista para a resposta.
Em uma nova pesquisa, a equipe revela que as águas no Oceano Antártico, abaixo dos 60 graus de latitude sul, região que engloba o continente da Antártida, têm um papel muito mais significativo do que se pensava na regulação do carbono atmosférico, e - em contraste com as teorias anteriores - as águas do norte da região fazem comparativamente menos para regulá-lo.
"A água gelada que surge regularmente das profundezas do Oceano Antártico se espalha na superfície ao longo dos dois lados dessa linha divisória, e nós descobrimos que a água realiza duas funções muito diferentes, dependendo de que lado da linha (do paralelo 60) ela corre", disse Irina Marinov, principal autora do estudo. "Enquanto a água ao norte da linha geralmente espalha nutrientes pelos oceanos do mundo, a corrente ao sul absorve o dióxido de carbono, um gás de efeito estufa, do ar. Essa diferença tão bem definida nas funções nos surpreendeu. Isso poderia significar que uma mudança em um lado do ciclo pode não afetar o outro como nós suspeitávamos".
A equipe de pesquisa publicou seus resultados na edição desta sexta-feira da revista Nature.
O Oceano Antártico interessa aos cientistas há tempos, que descobriram que ele influencia o resto do planeta de muitas maneiras. Há dois anos, a equipe de pesquisa de Jorge Sarmiento, também de Princeton, descobriu que os nutrientes nos oceanos mundiais eram dependentes do padrão de circulação do Oceano Antártico, mas não havia percebido como o padrão afetava o ciclo atmosférico do carbono.
Os cientistas também sabem que as águas geladas da Antártida possuem a habilidade de absorver o dióxido de carbono atmosférico, o que poderia tornar a região um das linhas de defesa do planeta contra os crescentes níveis de gases de efeito estufa. Esses e outros efeitos que o Oceano Antártico têm na Terra não são novos para a ciência, mas as distinções entre um efeito e outro vêm sido difíceis de delinear.
"O novo estudo mostra que o dióxido de carbono e o fluxo de nutrientes são separados bastante dramaticamente", disse Sarmiento, professor de geociências. "O que estamos tentando fazer é entender melhor o equilíbrio das forças que ajudam o nosso planeta a manter um estado ambiental firme, assim podemos antecipar o que pode levar esse estado a mudar. Esse artigo nos ajuda a deixar claro como essas forças interagem".
A mudança nos níveis de dióxido de carbono preocupam a comunidade científica, já que esse bastante conhecido gás de efeito estufa poderia ser uma das principais influências do aquecimento global. De acordo com Marinov, a descoberta poderia ajudar a entender como a Terra reagiu ao longo da história, o que pode oferecer pistas de como ela vai se comportar no futuro.
(Estadão, 23/06/2006)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/jun/23/211.htm