(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2006-06-23
Maior empresa do setor de produção de polpa de celulose no Brasil, a Aracruz Celulose costuma dar pouca importância às campanhas publicitárias na mídia. Os ares da Copa do Mundo da Alemanha, no entanto, fizeram com que a empresa resolvesse colocar de vez o time em campo para popularizar sua marca entre os brasileiros. O “esquema de jogo” publicitário, ofensivo, passa por diversos setores do “gramado midiático”, incluindo anúncios em jornais, rádios e revistas e, ponto alto, um filme comercial para a tevê que tem Pelé no “comando do ataque” e vem sendo exibido em horário nobre e no intervalo dos jogos da Seleção.

A tática parece boa, mas os “contra-ataques” começam a levar perigo à “meta” da Aracruz. Além das crescentes críticas às peças publicitárias, a empresa, nos últimos dias, também tem aparecido na mídia de forma negativa, seja no embate jurídico que trava com a Funai pela posse de terras indígenas no Espírito Santo, seja pela denúncia de desmatamento ilegal de Mata Atlântica no município de Linhares (ES). Em relação à Funai, o time da Aracruz passou a adotar tática defensiva, com a intenção de provar que as terras em disputa são de fato suas. No segundo caso, segundo relato de moradores confirmado pelo Ibama, os tratores da empresa chegaram a tentar derrubar árvores em pleno horário do jogo do Brasil, para minimizar a resistência popular. De uma hora pra outra, o esquema da empresa ficou com cara de “antijogo” e a partida já ameaça terminar em “gol contra”.

Em Linhares, segundo denúncia feita pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Aracruz desmatou uma área de Mata Atlântica localizada na nascente do córrego Faria, no Vale Jacutinga, onde existiam árvores com mais de seis metros de altura. De acordo com o relato dos agricultores, a empresa utilizou 27 tratores que, em cerca de 20 minutos, teriam derrubado três hectares de vegetação nativa. A ação começou no dia 16 de junho, mas foi interrompida pela ação dos moradores da região. Dois dias depois, um domingo, os tratores tentarem retomar o trabalho enquanto a Seleção penava em campo contra a Austrália: “A derrubada começou por volta das duas e meia da tarde, quando todo mundo estava concentrado no jogo”, conta Elias Alves, coordenador estadual do MPA.

A ação mais uma vez foi impedida pela organização dos agricultores, que utilizaram idosos, crianças e gestantes para bloquear a “entrada da área” e, literalmente, garantir o empate. Segundo nota divulgada pelo MPA, uma das coordenadoras do movimento, grávida de nove meses, chegou a se sentar em frente aos tratores para impedir o desmatamento: “Os tratoristas disseram que tinham autorização do Ibama para a derrubada. Pedimos o documento e eles não mostraram. Então, entramos na frente das máquinas e impedimos a destruição”, conta Cristina Soprani. Diante da resistência, a Aracruz, segundo relato de Elias Alves, chamou a polícia: “Foram duas viaturas, dez policiais militares e quatro jagunços da empresa enviados para acabar com a mobilização. Também foram enviados uma ambulância e um caminhão pipa. A polícia disse que foram chamados para garantir o trabalho da empresa”, conta.

A Aracruz registrou ocorrência policial contra os agricultores, pois garante dispor de documentos e considera sua ação legal. A direção da empresa informou que tem autorização do Ibama para desmatar aquela área desde 2001. Segundo o atual superintendente estadual do Ibama, Ricardo Vereza, essa autorização, mesmo se for apresentada, não tem validade legal: “Mesmo que tenha recebido [a autorização], a Aracruz não poderá derrubar. A área foi embargada e, se for comprovado o crime, a empresa será autuada e a área deverá ser reflorestada”, disse.

PROPAGANDA ENGANOSA?
Os críticos do comercial que a Aracruz exibe na tevê afirmam que a empresa é oportunista ao tentar usar a imagem de Pelé e outras celebridades brasileiras para passar uma imagem de proximidade com o Brasil e o seu povo que, alegam, é falsa. Além do ex-craque de futebol, também aparecem na propaganda o pugilista Popó, a ginasta Daiane dos Santos, o músico Seu Jorge, o técnico de vôlei Bernardinho e o ex-astronauta Marcos Pontes. Como pano de fundo, a música “Balé de Berlim”, entoada pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil.

O primeiro a dar o alarme para a tática publicitária da Aracruz foi o colunista Nelson de Sá, do jornal Folha de SP, que, citando matéria da CARTA MAIOR, ressaltou a coincidência da presença de afro-descendentes na propaganda ao mesmo tempo em que a empresa acabava de ser condenada no Tribunal Permanente dos Povos, realizado na Europa, por, entre outras coisas, “praticar violência contra quilombolas e descendentes de escravos”. Os bons observadores podem notar também que a escolha de Popó e Daiane busca agradar aos públicos da Bahia e do Rio Grande do Sul, dois estados onde a crescente presença da Aracruz vem sendo denunciada pelo movimento socioambientalista.

Diversas entidades ligadas ao Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente (FBOMS) e à Rede Alerta Contra o Deserto Verde (que denuncia a expansão da monocultura do eucalipto no país) expressaram seu desagrado com a publicidade da Aracruz na tevê. O detalhe também não foi esquecido na nota do MPA que denuncia a ação da empresa em Linhares: “Enquanto a atenção dos brasileiros está nos jogos da Copa e na propaganda da Aracruz Celulose, a empresa destrói a Mata Atlântica. Durante a destruição da floresta, a peça publicitária que era veiculada na televisão tentava mostrar uma boa imagem da Aracruz, que esconde os crimes cometidos contra comunidades indígenas, quilombolas e camponesas”.

PV CRITICA GILBERTO GIL
No Congresso, a primeira reação veio do PV. Em nota oficial, o partido afirma que a peça publicitária da Aracruz causa “constrangimento nacional” e se aproveita da paixão do brasileiro por futebol: “De modo oportunista, a empresa multinacional, produtora de celulose, quer nos passar a impressão de que tem uma relação profunda com o povo e a nação brasileira. Eis que o nome da Aracruz aparece ao lado dos grandes mitos nacionais. Na prática, estes que representam o melhor do imaginário de nação brasileira, foram chamados para iludir o povo, fazendo-o crer que também a Aracruz é ‘coisa nossa’. Não é bem assim. O fato é que a Aracruz é uma multinacional instalada em várias partes do mundo com o objetivo de produzir celulose”, diz o documento.

Assinado pelo presidente nacional do PV, deputado federal Édson Duarte (BA), a nota surpreende por atacar frontalmente o ministro Gilberto Gil, que é um dos ícones do partido: “O que causa espanto, além da Aracruz fazer uso de símbolos do imaginário nacional, é o fato deste comercial, que tenta juntar uma marca multinacional ao que de melhor o Brasil produz, ter como trilha sonora a música ‘Balé de Berlim’, feita pelo ministro da Cultura e integrante do Partido Verde, Gilberto Gil. Para nós ambientalistas e membros do PV é constrangedor notar que um companheiro - e servidor do Estado brasileiro - aceitou cachê desta multinacional para ilustrar sua imagem junto ao povo brasileiro. Consideramos antiético e paradoxal que um membro do PV aceite participar desta publicidade”. O ministro não fez comentários sobre a nota do partido.
(Por Maurício Thuswohl, Agência Carta Maior, 23/06/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=18847

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -