Dois gaúchos estão entre os 10 ativistas do Greenpeace detidos na
terça-feira (20/06) durante protesto em São Cristóvão e Névis, pequeno
país do Caribe.
Ana Paula Maciel e Joslei Lessa, ambos de Porto Alegre, foram indiciados
por desobediência civil. Eles foram detidos durante uma manifestação
contra a caça de baleias em frente ao hotel onde acontecia a 58ª Reunião
Anual da Comissão Internacional da Baleia.
Além dos gaúchos, outras duas brasileiras, Bárbara Vitória e Verônica
Lameck, foram indiciadas. O grupo integrava a tripulação do navio Arctic
Sunrise, do Greenpeace, que havia partido de Santarém (PA) para São
Cristóvão e Névis. O governo do país caribenho, favorável à caça de
baleias, havia negado ao navio a permissão para atracar.
Mesmo assim, os ativistas desembarcaram na Ilha de São Cristóvão no último
dia da reunião da CIB, com o objetivo de chamar a atenção do mundo para o
número de baleias mortas pelo chamado programa de caça científica do
Japão – criticado por ambientalistas e por países do bloco contrário à
caça, como o Brasil.
Eles chegaram à praia em botes infláveis. Depois, tentaram montar um
“cemitério” com 863 caudas de baleia de papelão – simbolizando o número
de animais mortos pelos japoneses – com a inscrição “RIP” (acrônimo para
“descanse em paz”, em inglês).
Além dos brasileiros, foram detidos ativistas de Portugal, México, EUA,
Escócia, Argentina e Alemanha. Estudante de Biologia da Ulbra e
responsável pela captação de recursos do Greenpeace, Ana Paula havia
embarcado no dia 31 de março, quando o Arctic Sunrise atracou na capital
gaúcha. Trabalhava como auxiliar de cozinha do navio, que passou por
outras capitais brasileiras antes de chegar a Manaus.
Da capital amazonense, a gaúcha deveria retornar ao Estado, mas foi
convidada a participar dos protestos no Caribe. Há mais tempo no
Greenpeace, Lessa é estudante de Química na Unilasalle e já havia
participado de outras manifestações. Segundo o Greenpeace, os brasileiros
pagaram uma multa (o valor não foi divulgado) e saíram da cadeia na
quarta-feira (21/06).
– Quando há detidos nessas ações, eles normalmente não ficam presos por
muito tempo – explicou Tânia Pires, da ONG em Porto Alegre.
"Fomos tratados como invasores"
A bordo do Arctic Sunrise, que navegava ontem próximo às Antilhas
Holandesas, o porto-alegrense Joslei Lessa conversou com ZH:
Zero Hora - Como aconteceu a prisão?
Joslei Lessa - Eles (a polícia) chegaram muito rápido. Foram ríspidos.
Sentamos na areia, demos os braços e fizemos uma resistência pacífica.
Eles deram voz de prisão e nos arrastaram. Foram truculentos com as
meninas.
ZH - Como foi a noite?
Lessa - Ficamos 38 horas em uma espécie de salão. Separaram duas
brasileiras e as colocaram em uma cela fechada, sem luz. Deixaram-nas lá
por cinco horas para desestabilizar o grupo.
ZH - Estão todos bem?
Lessa - Sim, estamos bem.
ZH - Você já havia passado por algo semelhante?
Lessa - Desse tipo, não. Fomos tratados como invasores.
(Por Rodrigo
Lopes,
Zero Hora, 23/06/2006)