Satélite mostra que mais da metade da zona urbana de Manaus foi desmatada
2006-06-23
Dos 44 mil hectares da zona urbana de Manaus, 28 mil já foram desmatados –
sendo que 34,3% das áreas verdes perdidas (ou seja, 9,6 mil hectares)
foram destruídos entre 1986 e 2004. Esta é a principal conclusão de um
estudo divulgado ontem (22/06) pelo Sistema de Proteção da Amazônia
(Sipam).
O estudo do Sipam foi realizado por oito pesquisadores, entre julho do ano
passado e fevereiro deste ano. Eles analisaram imagens de satélite
Landsat referentes a 1986, 1995 e 2004. O levantamento mapeia a perda e a
manutenção de áreas verdes em cada uma das seis zonas administrativas da
capital amazonense (Norte, Sul, Leste, Oeste, Centro-Oeste e Centro-Sul).
"Muita gente fala do desmatamento no interior da floresta. Mas nosso
objetivo foi alertar também para a destruição das áreas verdes nas zonas
urbanas", declarou a analista coordenadora do estudo, Ana Cláudia
Nogueira.
A geógrafa Bertha Becker, uma das maiores estudiosas da Amazônia, também
costuma chamar a atenção para a realidade urbana da região. Segundo ela,
cerca de 70% dos 20 milhões de habitantes amazônicos moram nas cidades
(sejam elas grandes ou pequenas).
"A gente percebe que o desmatamento de 1986 a 1995 foi de quase 5 mil
hectares. E que entre 1995 a 2004, ele passou um pouco de 5 mil hectares",
explicou Nogueira. "Ou seja, a taxa de desmatamento praticamente se
manteve".
"Esse diagnóstico não foi demandado por nenhum órgão", esclareceu o
gerente do Sipam em Manaus, Luciano Laybauer. "É um trabalho pró-ativo,
que pode servir de subsídios para ações governamentais".
A zona urbana de Manaus corresponde a apenas 4% da área total do
município, mas concentra sua população estimada pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) em 1,8 milhão de pessoas. "A população
da cidade cresceu 120% nos últimos 20 anos", afirmou Nogueira. "Mas não se
pode culpar o migrante pela degradação ambiental. Todos temos nossa
parcela de culpa e podemos, também, contribuir para a solução desse
problema".
A coordenadora de Áreas Protegidas da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente de Manaus, Rosana Subirá, lembrou que a maioria dos fragmentos de
área verde da cidade estão isolados. "A gente está trabalhando com o
conceito de corredores ecológicos. Precisamos integrar essas áreas, na
medida do possível, para garantir o fluxo gênico [o deslocamento dos
animais]".
Ela afirmou ainda que a maior parte da vegetação nativa remanescente na
cidade se localiza em propriedades privadas. "Por isso incentivamos a
criação de reservas particulares do patrimônio natural, um modelo de
unidade de conservação previsto em lei", justificou. "Conseguimos que a
primeira fosse criada neste ano, pela empresa Moto Honda, com caráter
perpétuo".
O Sipam planeja fazer um acompanhamento contínuo do desmatamento na área
urbana de Manaus. No próximo ano, serão analisadas as imagens de satélite
referentes a 2005 e 2006.
(Por Thaís Brianezi, Agência Brasil,
22/06/2006)
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