A demanda por alimentos sem agrotóxicos incentiva o crescimento da
produção de orgânicos no Brasil. A estimativa para este ano é de 40% de
acréscimo no país e de 15% em Santa Catarina. No Estado, duas mil famílias
produzem 36 mil toneladas de orgânicos por ano.
A produção não se restringe apenas às hortaliças, mas avança para itens
como cereais, frutas, condimentos, carne e leite. Cerca de 120 municípios
realizam feiras agroecológicas para divulgar e vender este tipo de
alimento. Os agricultores estão organizados em associações e formaram o
consórcio de produção e exportação de orgânicos de Santa Catarina. O
presidente do consórcio, Glaico Sell, afirma que a procura tem crescido e
que as exportações devem iniciar em dois anos.
- Mesmo assim, seria preciso a adesão de outras entidades para estimular
o consumo - afirma.
De acordo com ele, o setor poderia contar com a ajuda de igrejas, médicos,
nutricionistas e professores para indicar os orgânicos como alimento
saudável e não poluente. O engenheiro agrônomo da Epagri e coordenador do
Programa Estadual de Agroecologia, Paulo Tagliari, afirma que prefeituras
e que as Centrais de Abastecimentos (Ceasas) podem oferecer espaços para
a venda destes produtos.
Na avaliação de Glaico Sell, o mercado a ser explorado ainda é grande,
mas considera fundamental as crianças das escolas públicas receberem
orgânicos como parte da merenda escolar. No Estado, atualmente 155
escolas estão incluídas no projeto Sabor Saber que leva alimento saudável
às crianças. A previsão é de que, até o final do ano, 180 participem do
programa. No total, 91 mil alunos são beneficiados.
Eventos nesta semana visam esquentar consumo
Das duas mil famílias, cerca de 700 têm certificação de qualidade, de
acordo com cálculos da Epagri, o que permite, por exemplo, corrigir
eventuais falhas se houver reclamação de consumidores.
Para incentivar o consumo de produtos orgânicos no país, será promovida a
2ª Semana dos Alimentos Orgânicos, que ocorre com eventos simultâneos em
vários estados. A semana começa amanhã e prossegue até o dia 30 de junho.
O coordenador da Comissão de Produção de Orgânicos de SC, Eduardo Amaral,
informa que estão previstas palestras, feiras, trabalhos educativos nas
escolas e promoções de orgânicos nos supermercados.
O que são e quais as vantagens
Os produtos orgânicos são cultivados sem agrotóxicos e sem fertilizantes
químicos. Provêm de sistemas agrícolas baseados em processos naturais,
que não agridem a natureza e mantêm a vida do solo intacta. As técnicas
usadas para se obter o produto incluem o uso de compostagem, adubação
verde e manejo orgânico do solo
Sabor: é pessoal, porém existem certos critérios determinados por
"degustadores" que afirmam que os alimentos orgânicos possuem mais
"gosto" que os alimentos produzidos pelo sistema convencional
É nutritivo: alimentos orgânicos normalmente possuem uma menor quantidade
de água em sua composição quando comparado com os alimentos convencionais
(aproximadamente 20% menos). Isto significa que os nutrientes estão mais
concentrados, assim como o conteúdo de açúcar - daí o sabor mais
adocicado dos vegetais orgânicos
É mais saudável: crescem sem pesticidas e fertilizantes químicos
sintetizados artificialmente
São produtos livres de organismos geneticamente modificados
Consumidor paga mais pela qualidade
A presidente da Associação das Donas de Casa (Adocon/SC), Elizabete
Baesso, calcula que os alimentos orgânicos custam cerca de 30% a mais do
que os convencionais. Mas, na avaliação dela, é preciso incentivar o
consumo para baixar o preço.
Os itens sem agrotóxicos estão nas prateleiras dos supermercados, nas
feiras e na merenda escolar das crianças catarinenses.
Frutas, hortaliças, verduras, arroz, feijão, cereais, leite e carne são
alguns dos produtos nas gôndolas. De acordo com a presidente da Adocon,
há três tipos de consumidores de orgânicos atualmente: quem realmente
gosta e prefere este tipo de produto, os que consomem por recomendação
médica e os chefs de cozinha, que os têm adotado a cada dia mais nas
receitas de pratos de restaurantes.
- São alimentos mais saudáveis, que contribuem para reduzir os danos ao
meio ambiente e à saúde - destaca.
A dona de casa Cleide dos Santos Breão, de 51 anos, que mora em São José,
na Grande Florianópolis, consome produtos orgânicos há 11 anos.
Ela diz que a filha Elisangela iniciou uma pequena produção,
principalmente de morango, rúcula, cebola e tomate e que tem havido boa
aceitação no mercado. O comerciante Alvir Lemos, de 35, costuma adquirir
mais alimentos convencionais do que orgânicos.
Apesar de fazer compras todos os dias, esquece de olhar os sem agrotóxicos,
mas já consumiu alface e tempero verde naturais.
- É falta de hábito - afirma.
(Por Claudia Marcelo,
Diário de Santa Catarina, 22/06/2006)