Medidas para proteger os recifes de corais são insuficientes
2006-06-23
O estabelecimento de áreas no mundo todo para proteger os recifes de corais é inútil, por causa da falta de fundos para mantê-las, o que pode fazer com que, em 2050, a maioria destes ecossistemas tenha desaparecido. Segundo um estudo que será publicado nesta sexta-feira (23/06) na revista Science, apenas 18,7% de todos os recifes de corais situados em águas tropicais estão incluídos em áreas de proteção marinha, e menos de 2% desfrutam de uma proteção completa contra a pesca ilegal e outras ameaças.
"O porcentual de 2% é triste e dramático, especialmente se for entendido que é uma estimativa muito conservadora, e que o número real pode ser de até 0,01%", disse Camilo Mora, pesquisador colombiano que trabalha atualmente para a Universidade Dalhousie, no Canadá, e principal autor do estudo. A pesquisa de Mora representa a primeira avaliação global da extensão, efetividade e deficiências na proteção dos recifes de corais pelas Áreas Marinhas Protegidas.
A equipe liderada por Mora reuniu uma base de dados de 102 países, com imagens de satélite dos recifes no mundo todo, e entrevistou mais de mil gerentes e cientistas de áreas de proteção marinha para determinar o rendimento de conservação das regiões. "Os recifes de coral são como as florestas tropicais, áreas onde se concentra uma enorme biodiversidade e que, portanto, têm uma grande importância ecológica. Mas também são fundamentais economicamente, porque atraem turismo e a exploração da pesca", explicou Mora.
Mora afirmou que três grandes grupos de ameaças podem fazer com que em poucos anos, até 2050, a maioria dos recifes coralinos tenha desaparecido dos oceanos. "A ameaça mais grave é a mudança climática. O aumento de apenas um grau na água dos oceanos poderia produzir o clareamento dos corais e, portanto, sua morte", disse Mora.
O clareamento está vinculado à associação simbiótica que os corais têm com algumas algas que se aderem a sua superfície e lhes dão cor. Quando as águas se aquecem, as algas desaparecem, o coral fica mais claro e eventualmente morre. "Muitos modelos climáticos prevêem que em 2050 o aquecimento da água seja de 2 a 5 graus" adverte Mora.
A segunda ameaça se refere à exploração dos recursos pesqueiros. Neste caso, o desaparecimento de certos peixes pode levar à explosão demográfica de algumas algas que competem pelo espaço ocupado pelos corais. "Com a morte dos peixes, a alga cresce, se espalha e acaba matando o coral", acrescenta. E em terceiro lugar, os recifes vivem ameaçados pela poluição associada ao rápido desenvolvimento das áreas litorâneas, principalmente por causa do turismo.
De acordo com Mora, estas ameaças estão se concretizando atualmente nas duas principais zonas de recifes de corais do mundo, na bacia indo-pacífica (Indonésia, Filipinas e Papua Nova Guiné), o maior centro de diversidade coralina do mundo, e no Caribe. "Nas duas regiões, a proteção aos corais é ruim" disse ele. Mora criticou o fato de os países terem criado o que o estudo chama de "parques de papel", onde há leis e normas para a proteção de espaços marítimos, mas não há fundos econômicos para implementar essas políticas.
O doutor Peter Sale, diretor assistente da Universidade das Nações Unidas e professor da Universidade de Windsor (Canadá), concorda: "Este estudo nos lembra que, apesar dos recentes esforços para proteger os recifes de corais, até agora nossas ações não são suficientes para fazer o que é necessário e salvar os hábitats marítimos mais diversos".
(Efe, 22/06/2006)
http://www.ambientebrasil.com.br/rss/ler.php?id=25298