Poderia ter sido pior. Esta é avaliação das organizações e países
conservacionistas que participaram nos últimos 5 dias, na ilha caribenha
de Saint Kitts e Nevis, da 58ª Reunião da Comissão Internacional da
Baleia (CIB). O encontro
iniciou-se, nas palavras do vice-comissário brasileiro José Truda Palazzo
Jr., com o “pior clima possível”. Esperava-se que o Japão, principal
defensor da caça, conseguisse derrubar medidas de proteção ao maior
mamífero do planeta.
A principal vitória japonesa foi obtida no domingo, quando pela diferença
de um voto (31X30) os países baleeiros aprovaram uma declaração da CIB
reconhecendo que a moratória à caça já não é mais necessária. Estabelecida
há 20 anos, a proibição não foi de forma alguma suspensa, uma vez que é
necessário 75% dos votos para a retomada da caça comercial. Contudo, esta
declaração, o maior triunfo obtido na CIB pelo Japão nas últimas duas
décadas, significa que a queda da moratória ganhou força política.
Prova disso foram declarações dos primeiros-ministros da Islândia e
Noruega, dois países com tradição baleeira, elogiando a proposta aprovada
em St. Kitts. “É correto ter uma política consistente de cotas para a caça
de baleias”, disse o norueguês Jens Stoltenberg, segundo artigo da
agência Reuters . Já o islandês Geir Haarde afirmou ver a decisão como um
“apoio ao uso correto de recursos naturais.”
Tais visões convergem com as explicações dadas anteriormente a O Eco pelo
secretário para assuntos de pesca da Embaixada Japonesa no Brasil,
Ichiro Abe. Segundo ele, a moratória foi sufiente para causar uma
superpopulação de baleias, permitindo assim a volta da caça comercial.
Aliás, um dos trechos do documento aprovado na 58ª Reunião afirma que a
população de cetáceos já estaria contribuindo para a redução de estoques
de outros animais marinhos.
A delegação brasileira considerou o triunfo japonês apenas simbólico, uma
“vitória de pirro”, segundo Truda Palazzo. “A decisão não tem quaisquer
efeitos diretos sobre a forma de trabalho da CIB ou sobre a moratória da
caça, mas coloca em evidência o crescente sucesso do Japão em atrair votos
para seu bloco à custa de promessas de ajuda financeira”, diz.
Pressão
A força do bloco japonês também pôde ser medida pelo tamanho de sua
delegação: 35 membros foram levados a St. Kitts. O Brasil contou apenas
com três comissários. No comitê científico, onde se discute, por exemplo,
o crescimento populacional das baleias, a situação também não foi
diferente. Cerca de 80 cientistas representaram o Japão enquanto os
Estados Unidos, único país conservacionista capaz de confrontar a maioria
japonesa, enviou 20 cientistas para participarem das decisões.
Para organizações ambientalistas, o mais importante da plenária em St.
Kitts foi o Japão não ter conseguido aprovar decisões que poderiam ter
impacto direto sobre a conservação de cetáceos. Por exemplo, havia uma
proposição de que a CIB deixasse de tratar de cetáceos menores, como
golfinhos e botos. Ou ainda, para que a atividade de turismo de observação
deixasse de ter um comitê específico. Sobretudo, foi considerada crucial
a derrota da proposição de voto secreto feita pelo bloco baleeiro. Se
tivesse sido aprovada, temia-se que a moratória caísse com mais facilidade.
A proposta brasileira, feita em conjunto com Argentina, Austrália e Nova
Zelândia, de criação de uma área livre de pesca de baleias, o Santuário
do Atlântico Sul, foi levada mais uma vez à votação. O resultado, abaixo
dos 75% necessários, não permitiu a implementação da zona protegida.
Segundo Truda Palazzo, a vitória por maioria simples foi política, pois
mantém em pauta o interesse dos países do Sul em proibírem a caça.
Agora, todos os olhos devem se voltar para os Estados Unidos, onde
ocorrerá a próxima reunião da CIB, mais precisamente em Anchorage, no
Alaska. Tradicionalmente pró-conservação de baleiais, o governo americano
defende a pesca controlada para os povos indígenas, como o fazem
exatamente os esquimos do Alaska. Porém, espera-se que os países baleeiros
pressionem os Estados Unidos a flexibilizar cotas de caça comercial para
que os índigenas americanos continuem a ter direito de caçar.
(Por Gustavo Faleiros,
O Eco,
20/06/2006)