O título poderia ser outro: "O biodiesel como oportunidade de negócios para grandes e
pequenos", ou ainda, sendo mais abrangente, "O biodiesel, uma alternativa de negócios e
o planeta agradece muito". A verdade é que em boa hora o país acorda para mais uma
alternativa coerente na área dos combustíveis renováveis e pouco poluentes com o
Programa Nacional do Biodiesel.
Anteriormente, os governos militares já haviam criado o Proálcool, que com seus erros e
acertos foi o maior programa de biocombustíveis que o mundo já viu e, demorou um pouco,
mas as grandes nações estão interessadas em importar o modelo.
Na área do biodiesel, muito pouco ainda tem a ser inventado em termos tecnológicos, mas
muito tem a ser feito no campo da diversificação e eficientização da produção da
matéria-prima, na logística pré e pós-usina, situações que reduzem sensivelmente o custo
de produção e refletem na competitividade e no preço final.
Os erros encontrados no Proálcool podem ser evitados. Refiro-me especificamente ao
monopólio da produção da matéria-prima e industrialização, mesmo com processos
industriais diversos. Ambos os programas estão diretamente ligados ao produtor rural,
tocam a economia através do transporte, são alternativas aos combustíveis fósseis e são
ambientalmente corretos. O biodiesel tem uma grande vantagem, por se tratar de um
combustível mais estratégico para a economia, pois sem a gasolina (sobre a qual o
álcool é adicionado) o Brasil sofre mas não pára, mas sem o diesel (ao qual será
misturado o biodiesel), o Brasil pára, fazendo uma projeção simplista e pouco técnica.
É claro que o mundo sem petróleo é um cenário futuro a que poucos de nós irão assistir.
No entanto, é bom lembrar que se o petróleo vai durar mais 50, cem ou 200 anos, disso
nós não sabemos. O que já temos certeza é de que os efeitos da sua falta já são sentidos
hoje.
É importante que se fale da diversificação de culturas além da soja e outras rotas
tecnológicas. O girassol e a canola como culturas de inverno, o milho, o amendoim, a
palma e a mamona no norte e nordeste, sem contar a possibilidade do reaproveitamento dos
óleos de frituras de restaurantes, residências e indústrias e das gorduras animais.
Nesse processo, e com todo o mercado que se desenha no plano interno e externo, as
perguntas necessárias que ficam são: Quem vai produzir tanta oleaginosa para o
biodiesel? Quem vai transportá-la? Quem vai dar assistência técnica? Quem vai produzir
o óleo?
Neste ponto, há que se reconhecer que Passo Fundo larga na frente e se credencia para
ser a Capital Brasileira do Biodiesel, pois está instalando a maior planta da América
Latina. Economicamente, politicamente e ambientalmente correto. Parabéns, Passo Fundo!
* Marcos Alexandre Cittolin é advogado e ex-secretário do Desenvolvimento Econômico
de Passo Fundo
(
Zero Hora, 22/06/2006)