Ministro das Finanças do Reino Unido apóia renovação nuclear do país
2006-06-22
O ministro das Finanças britânico e aspirante a premier, Gordon Brown, declarou apoio à renovação da frota nuclear do Reino Unido, o que levantou fortes críticas da esquerda trabalhista, dos sindicatos e da Campanha para o Desarmamento Nuclear. Em discurso feito para empresários na quarta-feira (21/06), Brown disse que o sistema de mísseis Trident, transportados por submarinos Vanguard, devem ser renovados até o ano 2024. Ele acrescentou que a decisão deveria ser tomada já no próximo ano pelo Governo.
As palavras de Brown causaram indignação na esquerda trabalhista, que não acreditava que um aspirante à posição de Tony Blair se adiantar assim sobre a força de dissuasão britânica. A renovação do parque nuclear pode custar entre 15 e 37 bilhões de euros, dependendo dos tipos de mísseis e submarinos escolhidos. Vários deputados da esquerda trabalhista, assim como militantes de organizações pacifistas, acusaram Brown de tentar diminuir uma importante discussão pública.
A Campanha para o Desarmamento Nuclear emitiu um comunicado que cita uma pesquisa que aponta que 81% dos cidadãos consideram que a decisão de renovar os mísseis Trident compete ao Parlamento e não ao primeiro-ministro. "Tony Blair nos prometeu um debate parlamentar aberto, algo que a posição adotada por Brown pode impedir. É um tema muito importante para ser tratado a portas fechadas. São os representantes escolhidos pelo povo que devem decidir", afirma a presidente da ONG, Kate Hudson.
Segundo Hudson, é hora de estabelecer negociações multilaterais de desarmamento, pois neste momento o país não enfrenta "nenhuma ameaça nuclear. Decidir pela renovação do sistema Trident é começar uma nova corrida nuclear". Para Keith Sonnet, secretário-geral adjunto do Unison, o maior sindicato britânico, a renovação do sistema Trident "pode custar até 25 bilhões de libras, que seriam aplicados em um desafio inexistente".
O ex-chefe adjunto de Defesa e marechal da Força Aérea, lorde Gardner, dúvida que, como disse Blair, seja necessário tomar uma decisão de qualquer maneira antes das próximas eleições. "O mundo pode se tornar mais seguro e, neste caso, não necessitaríamos de um sistema de armas nucleares (...). Qualquer decisão deve ser adiada o máximo possível, pois, caso contrário, poderia desperdiçar dinheiro ou fazer a construção do sistema errado", afirmou.
Enquanto isso, cerca de 120 deputados, entre eles 93 trabalhistas, assinaram uma moção parlamentar apresentada por um ex-secretário de Estado do Governo trabalhista, que pede a Blair a submissão do polêmico assunto à votação parlamentar. O discurso de Brown foi interpretado como um aviso do aspirante a primeiro-ministro de que, com ele, o Governo não se inclinará à esquerda em assuntos como a questão nuclear.
Para a ex-secretária de Estado para o Desenvolvimento Internacional Clare Short, considerada uma aliada do ministro das Finanças, "as esperanças na construção de um consenso progressista de Brown foram frustradas". Para Short, "isto é como a Guerra do Iraque", na qual Blair passou por cima da opinião popular inglesa. "Isso significa que (o Governo) continuará seu rumo desastroso e suas equivocações, que só podem nos tornar prisioneiros da política externa dos Estados Unidos".
(EFE, 22/06/2006)
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