(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
eucalipto no pampa
2006-06-22
A monocultura do eucalipto é o tema da entrevista abaixo, realizada por e-mail pelo Instituto Humanitas Unisinos com o geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira. A entrevista foi motivada pela notícia de que o eucalipto já secou mais de 4 mil nascentes do São Francisco e que nascentes e matas ciliares do Rio estão sendo destruídas pelo avanço das monoculturas de eucalipto e grãos na região de Minas Gerais.

Ariovaldo Umbelino de Oliveira é geógrafo da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Geografia Humana pela USP. Ele também fala sobre a cartilha lançada pela Via Campesina intitulada O latifúndio dos Eucaliptos, que propõe a expropriação das terras com plantio de celulose em prol da reforma agrária. Confira a íntegra da entrevista:

IHU On-Line - Quais as principais conseqüências ambientais da destruição de nascentes e matas ciliares do Rio São Francisco?

Ariovaldo de Oliveira - As nascentes são as fontes de formação de qualquer rio. Com o São Francisco não é diferente. Suas nascentes no cerrado do norte mineiro que Guimarães Rosa chamou de Grande Sertões são uma espécie de caixa dágua, grande esponja, que absorve a água das chuvas, e elas vão para o lençol freático e dele volta à superfície através das nascentes. As matas ciliares são a proteção destas nascentes. O rio São Francisco depende das águas destas nascentes em Minas Gerais. Como mais de 3.800 já secaram, cada dia o rio recebe um volume menor de água. Assim a "conta" será cobrada no futuro, se nada for feito.

IHU On-Line - Como a plantação de eucalipto interfere na questão do desmatamento?

Ariovaldo de Oliveira - O cultivo do eucalipto, pinus e acácia tem aumentado no Brasil. O que mais cresce é o eucalipto. Hoje o Brasil tem mais ou menos 6 milhões de hectares com cultura de madeira para produzir pasta de celulose, carvão vegetal, resinas, etc. O eucalipto interfere diretamente no desmatamento na região de Marabá no Pará, onde é usado para produzir ferro gusa para exportação. Isso também ocorre em Almerim e Marzagão, Porto Grande, no Pará e Amapá. Lá fica o projeto Jarí, para exportação de pasta de celulose. O mesmo ocorre no Espírito Santo, Sul da Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

IHU On-Line - Como o senhor vê o projeto de transposição do leito do Rio São Francisco? A revitalização seria uma melhor alternativa?

Ariovaldo de Oliveira - O São Francisco é um rio que está morrendo, pois suas nascentes estão secando. A revitalização é a única solução. Somos contra a transposição porque ela é cara e só atende os interesses das construtoras. Além disso, em toda área por onde estão projetados os canais há muita terra devoluta cercada por grandes grileiros que esperam a água para produzir frutas para exportação. Ou seja, vai aumentar o endividamento público e não resolve a questão da seca. Seria muito mais barato captar via cisternas a água da chuva.

IHU On-Line - Qual a sua opinião sobre a cartilha O Latifúndio dos Eucaliptos, em que a Via Campesina prega a expropriação das terras com plantio de celulose em prol da reforma agrária?

Ariovaldo de Oliveira - A cartilha tem finalidade educativa. Informar e formar opinião. Isto é fundamental, pois, a mídia brasileira está toda "comprada" pelas empresas do setor de pasta de celulose. Não há veiculação de opiniões contrárias. A cartilha tem essa função de alertar a todos sobre os riscos da expansão do cultivo do eucalipto. A tese que a Via Campesina apresenta da desapropriação das terras para a reforma agrária está baseada no artigo 184 e 186 da Constituição Brasileira. O artigo 186 diz que "compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei". Já o artigo 186 da Constituição afirma que "a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições que regulam as relações de trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores". Assim, o cultivo do eucalipto fere o item sobre o meio ambiente, por isso a posição defendida.

IHU On-Line - Como o senhor viu a ação das agricultoras que ocuparam a Aracruz Celulose?

Ariovaldo de Oliveira - A sociedade brasileira não está acostumada a ver ações políticas de massa. Ou seja, o que as elites do País querem é um povo "cordeirinho", que não reaja. Com os movimentos sociais rurais acabou este tempo. Agora, eles fazem manifestação de massa. Tratou-se de um ato político para chamar a atenção das autoridades. As autoridades fingem que estão cumprindo a lei. As mulheres da Via Campesina deram dois recados com o ato: primeiro, não é mais possível continuar o descaso com o meio ambiente; segundo, as pesquisas têm que ter finalidade social e não ser contra a sociedade.

IHU On-Line - A cartilha expõe os motivos do ato ocorrido em março deste ano e destaca restrições à monocultura. Acha que a ação das mulheres possibilitou a compreensão dessa mensagem pelo público? Se acha que não, qual teria sido a falha?

Ariovaldo de Oliveira - A mídia gaúcha é extremamente preconceituosa (particularmente a RBS, Zero Hora etc.). Eu estava em Porto Alegre quando ocorreu o fato. A mesma matéria da RBS foi ao ar pelo Jornal Nacional. A mesma manchete do Zero Hora foi manchete no Brasil inteiro. A mídia brasileira é a voz das elites. As elites nunca aceitaram a idéia de perder o poder. A sociedade tomou ciência pela mídia, mas devagar ela vai vendo de outra forma o que aconteceu. Seguramente o episódio vai entrar para os fatos políticos mais significativos deste ano de 2006, como a greve de fome de Dom Cappio foi no ano passado.

IHU On-Line - Como o governo federal tem conduzido a questão da reforma agrária e da preocupação ambiental?

Ariovaldo de Oliveira - Lamentavelmente, Miguel Rosseto e sua equipe não fizeram nem mesmo a reforma agrária que disseram que iriam fazer no II Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA). Eles (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Incra) mentem para a sociedade que estão cumprindo as metas, o que não é verdade. No ano de 2005 disseram que assentaram 127 mil famílias. Mentira! Assentaram apenas 45 mil. O restante foram famílias que tiveram suas posses ou situações regularizadas em assentamentos já existentes. O mesmo já tinha ocorrido em 2004 e 2003. Na gestão de Rosseto, o Incra não assentou nem 100 mil famílias em assentamentos novos, quando já deveriam ter assentado 260 mil segundo o II PNRA. No Rio Grande do Sul a situação é vexatória, pois, em 2005, o Incra anunciou ter assentado 648 famílias, entretanto, como assentamentos novos, ou seja, reforma agrária verdadeira, foram apenas 220 famílias. Quanto à questão ambiental, o quadro também é preocupante, pois primeiro vieram os transgênicos, agora o governo aprova uma lei para explorar madeira em terra pública.

IHU On-Line - Quais as possibilidades de transformarmos o Brasil em um deserto em função da monocultura de árvores? O senhor tem conhecimento sobre a questão do deserto verde no Rio Grande do Sul? O que pensa sobre isso?

Ariovaldo de Oliveira - A questão do plantio de eucalipto no pampa gaúcho é preocupante, pois, os estudiosos da UFRGS sobre o tema alertam que o balanço hídrico para esta cultura está no limite. Isso quer dizer que chove mais ou menos o que a planta precisa, caso esta quantia de chuva não caia, ela vai buscar água do subsolo, e aí estará diminuindo a quantidade de água no subsolo, logo contribuindo para a arenização do solo. Os empresários brasileiros, os "novos ricos", em geral, são semi-analfabetos do ponto de vista intelectual. Eles acham que a natureza não vai responder negativamente no futuro. Julgam que podem derrubar a vegetação, podem plantar o que querem. A natureza pode demorar, mas ela reage. Estes empresários precisam perceber que a humanidade é nada frente a história da natureza. Por isso, a destruição da natureza coloca em risco o futuro da humanidade, e depois de tudo destruído não dá para dizer: "Eu não sabia", porque aí será tarde demais.

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para também lembrar aos gaúchos que estão no Cerrado, do Centro-Oeste ou mesmo do Nordeste. Lá o problema é igual. Ou seja, logo vão começar a colher as destruições que estão fazendo. Os movimentos sociais estão trazendo para o seio da sociedade brasileira o brado de alerta. O brado que avisa que o futuro pode ser pior, se nada for feito já. Por isso, trata-se de evitar já o pior, no futuro.
Informações do Instituto Humanitas Unisinos, via Adital.

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -