O porquê da viabilidade de Angra 3 – Artigo *
2006-06-22
A complementaridade entre energéticos é a única estratégia que dispomos para a
otimização do conjugado modicidade tarifária/confiabilidade, já que o gerenciamento da
expansão do Sistema Elétrico Brasileiro é similar ao gerenciamento de uma carteira de
investimentos: os princípios da gestão de riscos (confiabilidade) indicam uma
estratégia de diversificação no sentido de garantir a rentabilidade (modicidade
tarifária).
A necessidade de centrais térmicas para a geração de eletricidade no Brasil
não é motivada pelo esgotamento do potencial hídrico, mas para fazer frente aos riscos
hidrológicos. Ela é proveniente da necessidade de regulação do sistema, que não vem
conseguindo mais aprovação para construir os grandes reservatórios plurianuais que
serviam para regulá-lo.
A desejável expansão da contribuição de outras fontes renováveis, como eólica, solar,
biomassa, não reduzirá a necessidade da complementação térmica, já que todas as fontes
renováveis dependem dos ciclos da natureza e requerem tal complementação para os
períodos em que não estão plenamente disponíveis. O País dispõe de urânio, carvão,
biomassa, gás natural e petróleo, cada qual com suas especificidades de uso e relevante
papel no nosso sistema elétrico que, felizmente, se manterá ainda por muitas décadas
como hídrico. Fator de utilização, abundância, logística de aprovisionamento, preço, impacto
ambiental e outros usos (transporte, indústria) determinarão a contribuição de cada uma
dessas fontes.
O Brasil possui a 6 maior reserva de urânio do mundo, tendo prospectado 1/3 de seu
solo, apenas na camada superficial (100 metros). Somente a produção das jazidas de
Lagoa Real (BA) e Santa Quitéria (CE) – 250 mil toneladas – correspondem ao dobro de
todas as reservas de gás da Bolívia ou a 40 anos de operação do polêmico gasoduto
Venezuela-Brasil. A essa riqueza do nosso solo soma-se a riqueza intelectual conquistada
pelos brasileiros. Temos o domínio de todas as etapas do ciclo de produção do
combustível nuclear e capacitação em projeto, construção e operação de usinas nucleares.
Um patrimônio tecnológico disponível em bem poucos países.
Angra 2 opera há cerca de cinco anos com desempenho comparável às mais modernas usinas
nucleares do mundo. Angra 1 de fato teve inúmeros problemas no início de sua operação,
que foram sanados de forma competente já há vários anos. O preço do MWh gerado por
Angra 3, estimado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e já apresentado ao Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE) é de R$ 138,14. É um valor inferior ao preço
máximo (R$ 140) atingido por usinas térmicas no último leilão de energia da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 16/12/2005.
O investimento por kW médio a ser
gerado por Angra 3 é de R$ 7.000 – dentro da faixa das novas hidrelétricas oferecidas
nesse mesmo leilão: de R$ 5.500 a R$ 8.500. Dotada de um sistema de instrumentação e
controle digital, Angra 3 será construída com base nas tecnologias de mais de 30 usinas
nucleares em construção hoje no mundo. Sua operação terá um mínimo impacto
socioambiental em termos de uso do solo, necessidade de novas linhas de transmissão e
produção de gases de efeito estufa. Próxima aos maiores centros consumidores, terá
importante contribuição para a estabilidade do sistema elétrico nacional.
Como já
ocorre com Angra 1 e Angra 2, os rejeitos gerados pela operação de Angra 3 serão
armazenados de forma segura e fiscalizada em depósitos dentro da própria Central
Nuclear, ao longo de toda sua vida útil, isto é, 60 anos. Este prazo será muito mais do
que suficiente para que a CNEN implante repositórios com base nas melhores tecnologias
disponíveis no momento em que esses se fizerem indispensáveis. Tais providências já
estão sendo tomadas em convênio com a Eletronuclear.
O Plano Decenal de Expansão de
Energia do MME – PDEE/2006-2015 planeja a operação de Angra 3 para 2013.
Sua viabilidade técnica, econômica e socioambiental é evidente: apenas opiniões com
base em dados equivocados podem negá-la.
* Othon Luiz Pinheiro da Silva é
engenheiro naval, diretor-presidente da Eletronuclear
Gazeta Mercantil, 22/06/2006
http://www.gazetamercantil.com.br/pt/opiniao/coluna.aspx?ID_NOTICIA=162648577