O mercado financeiro dá sinais de que está valorizando mais as grandes empresas que adotam práticas de responsabilidade social, sustentabilidade ambiental e boa governança corporativa. A avaliação é do coordenador de desenvolvimento do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial da BOVESPA), Ricardo Nogueira. Segundo ele, até abril o índice, que agrupa ações de empresas socialmente responsáveis, valorizou-se 12% a mais que o IBOVESPA (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo), que reúne os papéis mais negociados na Bolsa paulista.
A comparação foi feita por Nogueira na terça-feira (20/06), durante a Conferência Internacional 2006 — Empresas e Responsabilidade Social, realizada pelo Instituto Ethos e apoiada pelo PNUD.
Lançado em dezembro de 2005, o ISE tem em sua carteira 34 ações (ordinárias e preferenciais) de 28 empresas da BOVESPA, que representam 12 setores econômicos. Entre elas Perdigão, Votorantim, CPFL Energia, EMBRAER (Empresa Brasileira de Aeronáutica), Natura, Gol, Aracruz Celulose, a petroquímica Braskem e o Banco do Brasil.
Apesar de o ISE ter se valorizado de dezembro até abril, Nogueira ressalta que é muito cedo ainda para assegurar que essas empresas são realmente mais lucrativas que aquelas que não se preocupam com a responsabilidade social. “Temos ainda uma visão de curto prazo que é incoerente com a questão da sustentabilidade, e existem outros fatores que influenciam também essa valorização. Mas quando comparamos as empresas que estão no ISE com outras do mesmo setor que não estão, vemos que elas têm tido um desempenho maior”, afirmou.
As ações dessas empresas são compradas por dois tipos de investidores, de acordo com Nogueira. “Tem aquele que é pragmático, que acredita que essas empresas têm menor possibilidade de dar prejuízos com processos trabalhistas e multas ambientais e da Receita Federal, por exemplo. E tem também o tipo engajado, que ainda é minoria”, destacou.
Mesmo ainda não sendo possível avaliar se a valorização das empresas continuará a longo prazo, uma tendência já pode ser apontada em relação à iniciativa privada: a preocupação com a sustentabilidade vem crescendo, afirmou Edoardo Gai, responsável pelo departamento de pesquisas para a definição do DJSI World (sigla em inglês para Índice Mundial de Sustentabilidade Dow Jones) na Sustainable Assets Managment, também presente no evento. O índice foi criado em 1999 pela Bolsa de Nova York, com o mesmo objetivo do ISE, e tem seis empresas brasileiras em sua carteira, entre elas Itaú, Itaúsa, Aracruz Celulose e Unibanco.
“Muitas empresas perceberam que precisam cuidar da mudança climática, por exemplo, para evitar futuros problemas. Todo ano, os desastres naturais trazem muitos danos e perdas financeiras”, observou. Ele apontou que, de 2002 a 2005, o número de empresas norte-americanas que relataram uma diminuição do poluente dióxido de carbono (CO2) duplicou: passaram de cerca de 200 para 400. Entre as principais preocupações das empresas que fazem parte do DJSI World estão, além do clima, a boa governança corporativa e questões demográficas. “As ações dessas empresas têm se mostrado, sim, mais rentáveis e podemos dizer que as questões de sustentabilidade social, ambiental e governamental vão moldar os investimentos no futuro”, disse.
Por Talita Bedinelli,
PrimaPagina/PNUD