Problemas ambientais não fazem parte da realidade dos brasileiros
2006-06-22
Um estudo realizado pela Market Analysis em oito capitais do país revela que existe um grau importante de sensibilidade, entre os brasileiros, sobre o impacto ambiental das ações humanas, mas que ainda falta muito para tal questão ocupar um lugar de relevância em suas preocupações do dia-a-dia.
Interrogados sobre quão grave consideram uma série de conseqüências ecológicas da ação do homem, 82% dos brasileiros – em média – julgam como “muito sério” os fenômenos de contaminação, extinção de espécies, exaustão de recursos energéticos e mudança climática.
Quer dizer que a consciência ambiental atingiu seu ápice? Significa que estamos perante uma revolução das massas pela sustentabilidade?
Nem um pouco. A admissão da gravidade desses assuntos permanece desconectada do topo da agenda pública nacional. Crise ambiental simplesmente não está inclusa entre os maiores problemas que o país enfrenta atualmente, na opinião dos brasileiros.
O dado surpreende, haja visto a crescente atenção da mídia a tais assuntos. Tomando como referência o número de menções aos assuntos pela mídia nacional, nota-se que o espaço dedicado ao efeito estufa triplicou nos últimos oito anos, enquanto mais do que duplicaram as matérias sobre poluição da água. Só diminuíram ou permaneceram quase iguais as notas sobre gases poluentes ou espécies em extinção.
Mesmo diante das catástrofes naturais e do esgotamento dos recursos energéticos (e suas conseqüências ambientais) que caracterizaram os últimos anos, menos de 4% (3,6%) dos entrevistados mencionam espontaneamente problemas ambientais como poluição, superpopulação ou mudanças climáticas quando consultados sobre sua visão dos principais problemas do mundo. Apenas entre os formadores de opinião, a posição dos tópicos ambientais chega a ser importante – mesmo assim não chega a ser absolutamente prioritária.
É verdade que o assunto é preocupante para um em cada oito líderes de opinião (13,9%) e ocupa um lugar de destaque junto à violência/guerra/terrorismo e corrupção/degradação moral/intolerância. Ainda assim, perde para fatores vistos por eles como muito mais sérios globalmente, tais como a desigualdade e a pobreza.
A opinião de líderes e público geral coincide em apontar que questões ambientais, na melhor das hipóteses, fazem parte dos problemas do mundo, mas não do Brasil. Menções a questões desse tipo simplesmente somem da agenda nacional.
Calamidades naturais ou impacto humano?
Tal como indicado no gráfico 1, a poluição da água nos rios, lagos e oceanos é o problema ambiental que desperta maior seriedade entre os brasileiros: 93% dos adultos residentes nas grandes cidades julgam o problema como "muito sério". Dentre todos os itens estudados, o que recebeu o menor índice de gravidade foi o da produção e uso do petróleo, embora uma maioria expressiva dos brasileiros o classifiquem como “muito sério” (60%).
Explorando mais a fundo a lógica subjacente às avaliações que o consumidor no Brasil faz dos problemas ambientais, nota-se a existência de duas dimensões de compreensão do assunto. Uma está relacionada à calamidades naturais, como poluição, desaparecimento dos recursos naturais e mudanças climáticas, e outra aos aspectos diretamente referentes às conseqüências econômicas do impacto humano sobre o ecossistema, o que inclui emissão de gases e limitações e problemas decorrentes do uso do petróleo. Ou seja, ainda existe um descompasso ou dissociação parcial entre as conseqüências ambientais da ação humana e a preocupação com as necessidades econômicas que dependem do uso de energia.
Essa brecha na consciência ambiental surge como um dos principais entraves à popularização prática de iniciativas pró-sustentabilidade ambiental. Afinal, na medida em que se dissocia espontaneamente a necessidade energética dos desastres ecológicos, existe pouca legitimidade para iniciativas que priorizem uma política ambiental sólida em detrimento de investimentos em outras áreas ou em detrimento do crescimento econômico.
(Jornal do Meio Ambiente, 21/06/2006)
http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-index_noticias.asp?id=10388