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2006-06-22
Muitas pessoas que contraíram o vírus H5N1, da gripe aviária, na Indonésia não conheciam a doença e nunca receberam informações a respeito dela, afirmaram especialistas na quarta-feira. E, segundo esses especialistas, as crianças estavam entre os mais vulneráveis à gripe. "As crianças podem sair para brincar com galinhas doentes, uma atividade a que os adultos estão menos expostos", disse à Reuters, durante um encontro de especialistas sobre a doença, Thomas Grein, um importante epidemiologista da Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Outra atividade de risco é matar animais doentes, depená-los e prepará-los para serem ingeridos. Mas se a pessoa lavar as mãos, isso pode reduzir o risco de forma bastante dramática", disse. "Novamente, essa é uma prática menos usual entre os jovens que entre os adultos." O vírus H5N1 contaminou 51 pessoas, das quais 39 morreram, na Indonésia desde 2005 e é hoje endêmico nas aves de criação de quase todas as 33 Províncias do país.

Nesse país composto por 17 mil ilhas, é comum que as famílias criem galinhas no fundo dos quintais como fonte de alimento e como forma de complementar sua renda -- o que significa que todos os indonésios, e não apenas os que trabalham no setor avícola, estão expostos à doença.

As crianças respondem por mais de 40 por cento dos casos de contaminação pelo H5N1 na Indonésia. As pessoas não estão acostumadas com a idéia de que as aves doentes podem ser perigosas, e as crianças costumam brincar com as galinhas ou serem colocadas para limpá-las. "Isso mostra que o perfil de risco é muito mais amplo do que esperávamos. Ele não se limita aos trabalhadores do setor avícola. E isso porque o vírus é encontrado com muita frequência nas galinhas de fundo de quintal", disse Steven Bjorge, da OMS.

"Houve outras doenças em aves, mas elas não passaram para os seres humanos antes. Essa é uma situação com a qual eles não estão familiarizados," afirmou. "As pessoas precisam entender que as galinhas mortas são um importante fator de risco."

PROBLEMA MAIS DISSEMINADO
Em Hong Kong, onde o vírus realizou o primeiro salto conhecido para os seres humanos, em 1997, nove das 18 pessoas envolvidas nas contaminações tinham 6 anos de idade ou menos. A primeira vítima era um garoto de 3 anos que morreu 12 dias depois de apresentar febre, dor de garganta e tosse, em maio daquele ano. Apesar de especialistas nunca terem confirmado a forma de contaminação, a criança frequentava uma creche que criava galinhas e patos em um pequeno zoológico.

Ao menos duas outras crianças de Hong Kong iam a uma escola localizada perto de um mercado atacadista e brincavam frequentemente em uma área usada para armazenar gaiolas de galinhas. As gaiolas não eram lavadas. Segundo especialistas, as aves contaminadas espalham uma grande quantidade de vírus por meio de suas fezes e as partículas de matéria fecal são um importante meio de transmissão da doença.

Se as fezes forem mantidas úmidas e em uma temperatura amena, o vírus pode sobreviver durante dias. "Se galinhas contaminadas com o H5N1 estão espalhando o vírus em suas fezes, no chão das casas onde as pessoas moram, então há uma chance maior de exposição ao H5N1", disse Julian Tang, da Universidade Chinesa em Hong Kong.

"O vírus pode sobreviver algum tempo nas fezes de galinha. Depois, quando ela seca, ele pode ser inalado com a poeira. Isso pode acontecer se as fezes no chão são agitadas por pessoas caminhando ou crianças brincando", disse. "As crianças estariam mais vulneráveis porque tendem a brincar no chão", disse Tang. A falta de informações também seria um fator importante para explicar a morte de quatro moradores do Azerbaijão em fevereiro e março. Antes de ficarem doentes, os quatro depenaram cisnes encontrados mortos para fabricar travesseiros.

As penas também podem ter contaminado um indonésio de 18 anos que fabricava petecas. O indonésio morreu no mês passado. Apesar de as autoridades não terem dito como ele morreu, o indonésio trabalhava escolhendo penas. "As aves alisam suas penas com o bico. Se estiverem contaminadas, o bico pode apresentar excreções com o vírus. O vírus seria então transferido para a pessoa que manusear as penas ou que inspirar pó de pena", afirmou John Oxford, do Royal London Hospital.
(Reuters, 21/06/2006)
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