O acesso à água potável será o tema deste ano da principal publicação da ONU sobre
desenvolvimento humano, o RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano), que será lançado no
segundo semestre. A revelação foi feita pela economista peruana Cecília Ugaz, consultora da
unidade do PNUD que coordena o estudo. Na cerimônia de abertura da Conferência Internacional
2006 — Empresas e Responsabilidade Social, ela disse que a água é um bom indicador para
avaliar se o crescimento econômico beneficiou a população pobre, com a expansão dos serviços
públicos.
A conferência é realizada pelo Instituto Ethos, com apoio do PNUD Brasil. Começou na
segunda-feira (19/06) e termina hoje (22/06)
“O acesso à água é um bom de indicador de desenvolvimento, de desigualdade. Quanto do
crescimento econômico foi para as pessoas pobres?”, afirmou. “Essa é a primeira vez que o
relatório enfoca um elemento. Água é um direito humano, é necessária à vida e, além disso,
água é poder. Ter controle sobre as fontes de água potável é poder. E fornecer água à
população pobre é uma forma de empoderá-las”, completou.
Cecília destacou que o Brasil tem grande disponibilidade de água, mas que enfrenta
dificuldades nos serviços de abastecimento. “O problema não é a escassez, mas a desigualdade
de acesso”, disse. “Em Porto Alegre, por exemplo, os serviços de água funcionam muito bem.
Já no Nordeste, o déficit de atendimento é enorme”, ressaltou.
A concessão dos serviços de abastecimento a empresas privadas foi outro ponto abordado pela
consultora do RDH. Segundo ela, como o “mercado de água” é um monopólio natural, a adoção de
um marco regulatório é fundamental. “Por outro lado, as concessões representam um risco para
o setor privado. As tarifas são reguladas, o investimento inicial é alto e o retorno é de
longo prazo”, ponderou.
“Mas nós precisamos do setor privado”, cravou a economista antes de apontar as parcerias
público-privadas como uma das saídas para expandir a cobertura dos serviços de água. De
acordo com ela, é fundamental que esses acordos busquem o equilíbrio entre a eficiência em
termos de negócio e a eqüidade na distribuição do benefício. Nesse sentido, os subsídios
cruzados — quando uma região mais populosa paga uma tarifa maior para financiar outras
regiões onde a prestação do serviço não seria comercialmente viável — são essenciais,
segundo Cecília.
Por Alan Infante,
PrimaPagina/PNUD