Com sua utilização no processo de produção de um tipo de óleo diesel de
melhor qualidade, a partir do início de 2007 o mercado de óleo de soja não
será mais o mesmo. A Petrobras vai entrar firme como um dos maiores
compradores do produto numa medida que deve mexer com cotações, produção,
logística e outros componentes da cadeia do agronegócio. Pelos planos de
produção iniciais do H-Bio, como é conhecido o novo diesel, serão
necessários 256 mil metros cúbicos do óleo vegetal no primeiro ano e de 425
mil metros cúbicos em 2008. Isso significa 16,4% do que o Brasil exporta
anualmente, ou 2.821 mil metros cúbicos. O impacto do novo produto reduzirá
as importações de diesel em 15% no primeiro ano e de 25% em 2008,
significando redução de US$ 240 milhões na saída de divisas.
Estas informações foram fornecidas na manhã de ontem (20/06) pelo Diretor de
Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, durante a realização do
primeiro teste de produção industrial do país do H-Bio, realizado na
Refinaria de Araucária (Repar), da Petrobras no Paraná, com a presença do
presidente Luís Inácio Lula da Silva. O teste marcou o lançamento do
programa H-Bio Diesel.
O presidente confirmou que tanto o H-Bio como o biodiesel são componentes
importantes de sua estratégia de montar parcerias com países pobres para
que passem a produzir o que denominou de "combustível verde". "Nós temos a
tecnologia e poderemos fazer parcerias com países pobres africanos para
que eles exportem para Europa. Este não é um projeto apenas para o Brasil,
mas para muitos outros países mais pobres", disse o presidente. Acompanhavam
o presidente os embaixadores de Camarões, Gabão e Venezuela.
Paulo Roberto Costa confirmou que a empresa está em negociações com o
Agência Nacional do Petróleo (ANP) para que entre setembro e outubro
estejam definidas as regras destas aquisições, de maneira semelhante ao que
ocorre com o biodiesel, onde a estatal compra 100% da produção do País para
misturá-la ao óleo diesel numa proporção de 2% atualmente e que chegará a
5% em 2008. Para o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, "o
biodiesel e o H-Bio são complementares e representam um novo tipo de
economia de combustível no cenário mundial".
O processo do H-Bio foi desenvolvido no centro de pesquisas da Petrobras
por uma equipe liderada pelo pesquisador Jefferson Roberto Gomes,
homenageado pelo presidente da República na Repar. Em 18 meses de trabalho
a Petrobras descobriu que poderia acrescentar óleo vegetal na fase de refino
para a produção de diesel, obtendo um combustível com as mesmas
características moleculares do diesel convencional, mas com menor teor de
enxofre e uma melhor capacidade de queima e que na área técnica ficou
conhecido como "diesel de boutique". "A composição molecular do H-Bio já
está presente no diesel mineral, por isso não há problemas", explicou Alípio
Ferreira Pinto, do Centro de Pesquisas da Petrobras.
Os primeiros testes realizados na refinaria Gabriel Passos (MG) demonstraram
a viabilidade técnica e comercial do processo que começou a ganhar escala
industrial ontem em Araucária. O H-Bio exige uma planta que possua unidade
de hidrotratamento e, na primeira etapa, será produzido no Paraná, Rio
Grande do Sul e Minas Gerais com investimentos de US$ 38 milhões. Em 2008
entram em operação outras duas refinarias. A entrada da segunda etapa de
operações exigirá outros US$ 20 milhões de investimentos. A Petrobras já
registrou duas patentes de criação e aperfeiçoamento do processo de produção
na Europa, EUA e no Brasil.
Segundo Gabrielli, "se houver um momento em que o preço do óleo de soja
fique muito acima do óleo diesel importado o programa pode ser descontinuado
já que não exige grandes investimentos e aproveita a capacidade existente
nas refinarias. Mas ele é tão vantajoso economicamente que não a acreditamos
que isso vá acontecer", explicou.
A Petrobras testou uma mistura de 20% de H-Bio no diesel na fase de pesquisa
e não encontrou problemas. Na fase industrial, a mistura caiu para 18% mas
ela depende do perfil e capacidade de hidrogenação de cada refinaria. Para
Gabrielli, "na média, a mistura deverá chegar a 15%". O diretor de
abastecimento Paulo Roberto Costa garantiu que nestas proporções "não haverá
a necessidade de qualquer mudança ou adaptações nos motores dos veículos".
O presidente Luis Inácio Lula da Silva classificou o H-Bio como "uma
revolução de grandeza incomensurável para o Século XXI na área de
combustíveis". Segundo ele, o novo diesel deve garantir aos produtores de
soja o mesmo equilíbrio que hoje têm os produtores de cana-de-açúcar com o
álcool. "Com o biodiesel trouxemos o pequeno produtor para a área de
produção de combustíveis. Agora, com o H-Bio, estamos trazendo o
agronegócio", destacou o presidente.
(Por Norberto Staviski,
Gazeta Mercantil, 21/06/2006)