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2006-06-21
O verão chega oficialmente em Nova York nessa quarta-feira (21/06). Para aqueles que não vão passar férias nos Hamptons, existem poucas coisas com as quais podemos contar. A cidade terá um cheiro diferente. A mudança, tenha certeza disso, não será inspiradora. Milhares de nova-iorquinos andarão pelas ruas todos os dias usando o que parece ser nada além de roupa de baixo. E continuaremos, entretanto, a ler sobre como a cidade é a capital do chique.

A Con Edison, empresa de energia, assegurou que os nova-iorquinos passarão por um verão sem apagões. Pode até ser verdade, mas a empresa também antecipa que a demanda de eletricidade atingirá níveis recordes, superando o ano passado. Não será surpresa se alguns bairros ficarem no escuro.

Plataformas do metrô ficarão insuportáveis. A via de regra entre os trabalhadores do metrô é que se na rua o termômetro marcar 32ºC, na plataforma a temperatura será de 35ºC. Motores e freios produzem a maioria do calor. Mas o ar-condicionado, muito bem-vindo dentro dos carros, contribui para o sofrimento dos pedestres.

Quando os novos trens com potentes sistemas de ar-condicionado chegam na estação, dá para sentir a temperatura na plataforma subir vários graus. Culpe as invariáveis leis da física. "A fim de produzir frio, você deve primeiro produzir calor", disse Charles F. Seaton, porta-voz da New York City Transit.

Não há nada imutável, entretanto, sobre outro fenômeno do verão em Nova York. Um fenômeno que pode ser definido pela palavra "desperdício". É o costume que muitas lojas e restaurantes têm de ligar o ar-condicionado na potência máxima e deixar as portas da frente abertas para que o frio atinja a calçada.

Com temperaturas em torno de 32 graus nos últimos dois dias, é possível ver esse desperdício de energia por toda a cidade. Porque fazem isso? Quando perguntados, alguns comerciantes e balconistas desdenharam. Poucos reconheceram o desperdício, com a desculpa de que o ato atrai os consumidores para dentro das lojas.

É claro que num calor de 32ºC, um pouco de ar fresco agrada o pedestre. Mas sabe quem fica mais feliz ainda com esse tipo de auto-indulgência? Pessoas da família real saudita e o presidente Hugo Chavez, da Venezuela. O desperdício gratuito numa época em que o barril de petróleo custa US$70 é mais um exemplo do pouco sacrifício feito pela população após o 11 de setembro. O presidente Bush só sugeriu recentemente que talvez não seja má idéia os americanos dirigirem um pouco menos.

Um nova-iorquino que talvez almeje um cargo na Casa Branca pode ter reclamado da falta de uma política de energia nacional num discurso na semana passada. Mas seu colega, o ex-prefeito Rudolph Giuliani deu as costas para a idéia de economia de energia, dizendo que "pode ajudar, mas não é muito efetiva".

A prefeitura, que não hesitou passar leis contra o fumo em restaurantes ou celulares no cinema, evitou aplicar a mesma força nas questões de desperdício de energia, como o ar-condicionado das lojas. "A maioria dos métodos nesse sentido tem sido por meio de incentivos", disse Gil C. Quiniones, vice-presidente da Economic Development Corp. e presidente da Força-Tarefa da Fiscalização de Energia da prefeitura. O incentivo vem em forma de pagamentos em dinheiro e outras vantagens para as empresas que contribuem para a economia de energia.

Mas não se engane, disse Quinones: no dia mais quente do ano, quando as usinas da Con Edison estão funcionando a todo vapor, não é necessário muito para que a distribuição de energia seja comprometida. O desperdício criado por essas lojas e restaurantes vai ser sentido. "Acredite em mim, não é pouca coisa", disse ele. "É muita". Acreditamos, então.
(Por Clyde Haberman, The New York Times, 20/06/2006)
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