Aderindo ao carvão, Alemanha ainda espera diminuir suas emissões
2006-06-21
A Europa gosta de pensar em si como um lugar que atravessou seu fuliginoso passado industrial, com a energia que vem dos moinhos de vento que pontuam o campo holandês e a linha costeira dinamarquesa ou das usinas nucleares sem carbono que dominam a indústria de energia da França.
Mas como os preços do petróleo levantando vôo e as preocupações crescentes sobre a segurança do gás vindo da Rússia, a Europa deve depender fortemente daquela grande relíquia da era industrial, o carvão: um combustível barato e abundante mas que emite o dobro do dióxido de carbono em relação ao gás natural. Usinas abastecidas por carbono produziram metade da energia na Alemanha e na Inglaterra durante o frio inverno que acabou de passar.
Apesar de os europeus não abrirem mão de seu compromisso com o controle dos gases que causam o aquecimento global, algumas de suas maiores empresas de energia relutam em investir nas tecnologias que possam no futuro proteger o meio-ambiente, como o equipamento na usina de prova que irá capturar o dióxido de carbono e levá-lo a áreas subterrâneas de armazenamento. Apenas algumas usinas isentas de carbono estão sendo planejadas para a União Européia.
Há ainda outro aspecto negativo do carvão, pouco manifesto a 1,5 km da usina daqui. Escavadoras mecânicas começaram a demolir uma cidade de 450 anos que cresceu em torno de moinhos e que obstrui o caminho a uma mina a céu aberto que fornece carvão à usina. Tal desarraigamento é um preço inevitável a ser pago pela fome de carvão da Europa, dizem executivos daqui.
Eles acrescentam que a tecnologia para capturar o dióxido de carbono é muito cara, num momento em que estão prontos para gastar bilhões de euros para substituir as usinas de energia defasadas. Encontrar locais para armazenar o dióxido de carbono costuma dar muita dor de cabeça a países como a Alemanha, que são densamente povoados e possuem uma história de protesto contra o armazenamento de mais poluentes, como o lixo nuclear.
Na Europa, onde empresas de energia afirmam ter limpado os poluente visíveis de suas usinas de carvão – como o dióxido de enxofre – de forma mais persistente do que suas contrapartes americanas, alguns executivos desconfiam das atuais propostas para se converterem à tecnologia do “carvão limpo”.
Eles as descrevem como principalmente táticas de relações públicas patrocinadas pela administração Bush e empresas de energia americanas, mesmo enquanto apenas algumas usinas de captura de dióxido de carbono estejam realmente sendo planejadas para os Estados Unidos. Eles suspeitam que os americanos estejam tentando driblar cortes obrigatórios nas emissões de carbono e que com isso evitem aprimoramentos sólidos na eficiência de suas usinas.
O carvão é o principal gerador de eletricidade da Alemanha, e o governo pretende anular em fases a segunda maior fonte, a energia nuclear, até 2021. Apesar do uso de gás natural estar crescendo – a Alemanha e a Rússia estão construindo conjuntamente um gasoduto sob o Mar Báltico – o corte do último inverno deixou um gosto amargo em Berlim. “Isso realmente mudou a forma de pensar dos políticos e economistas”, disse Johannes F. Lambertz, membro da equipe de diretores da RWE Power, a produtora número 1 de eletricidade na Alemanha e terceira maior da Inglaterra. “As pessoas agora falam sobre competição e segurança juntas”.
(Por Marc Lander, The New York Times, 20/06/2006)
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