Robô facilitará pesquisa na Amazônia
2006-06-21
O trabalho de pesquisadores que atuam na região amazônica, especificamente onde há a construção do gasoduto que ligará Coari a Manaus, terá um importante coadjuvante: o Robô Ambiental Híbrido. A criação é de uma equipe de cientistas que integra o Projeto Ferramenta Cognitiva para a Amazônia (Cognitus), um dos três traçados do Projeto Potenciais Riscos Ambientais da Indústria do Petróleo e Gás na Amazônia (Piatam), desenvolvido em parceria com a Universidade Federal da Amazônia (Ufam) e a Petrobras. Os primeiros testes foram realizados entre os dias 18 e 24 de maio nas comunidades Nossa Senhora das Graças e Nossa Senhora da Ilha do Baixo.
O robô, que a gosto da equipe do Centro de Estudos da Petrobras (Cenpes) deverá ser batizado como Chico Mendes, em homenagem ao seringueiro e ambientalista morto em 1988, já está patenteado. “O projeto foi iniciado em março do ano passado, quando passamos a fazer vários estudos na região do Solimões para reconhecimento das características do local e assim usar ferramentas e um equipamento adaptado ao ambiente. A partir deste estudo, construímos um protótipo que tem a capacidade de atravessar manguezais e correntezas, subir em uma rampa ou duto e andar em terra firme”, explica o chefe do laboratório de robótica do Cenpes, Ney Robinson Salvi dos Reis.
O robô terá estrutura de fibra de vidro e acrílico, duas câmeras acopladas para visualizar os ecossistemas, GPS de posição 3D (latitude, longitude e altitude) e um manipulador (espécie de “braço” eletrônico) para a coleta de informações. Também compõe a máquina: um sensor para medir os parâmetros da água; um coletor e analisador à distância de larvas de mosquito; além de motores de suspensão e rodas especiais para um deslocamento independente do ambiente encontrado. Seu protótipo tem tamanho médio 1,60m e pesa 113kg, mas este peso deverá aumentar para 300 kg quando for construído o original. Pensando ainda em minimizar o impacto da presença do robô na floresta, os pesquisadores criaram uma bateria elétrica recarregável com energia solar, ou seja, não-poluente e silenciosa, com durabilidade de três horas.
Robô é sucesso entre ribeirinhos
A altura do robô Chico Mendes será de aproximadamente 2,5 metros, para abrigar uma pessoa em seu interior. Entretanto, os pesquisadores não precisarão estar a bordo da máquina para realizar a pesquisa, pois poderão manipular o robô através de um controle remoto em uma espécie de laboratório flutuante ou caverna virtual. Neste ambiente, equipado com câmeras de vídeo, serão projetadas em terceira dimensão as imagens captadas na floresta. A idéia é fazer com que o pesquisador se sinta próximo de seu objeto de estudo e tenha uma dimensão maior do que está acontecendo, além de interagir com a população ribeirinha mesmo à distância. O encarregado de transformar em realidade virtual as informações coletadas pelo robô é o consultor técnico da Gerência de Métodos Científicos do Cenpes, Heitor Araújo.
Durante o I Encontro de Jornalistas Parceiros do Piatam, em Manaus (AM), no dia 25 de maio, foram apresentadas as primeiras imagens do protótipo. Por meio de um vídeo, os participantes puderam ver o robô em ação na floresta, atravessando manguezais, enfrentando correntezas e realizando subidas em rampas e dutos, procedimentos que serão corriqueiros para a máquina de monitoramento de ecossistemas amazonenses.
No vídeo foi possível perceber que o sucesso da máquina não ficou só entre pesquisadores, que destacaram a potencialidade tecnológica do robô, mas se expandiu entre as crianças das comunidades que acompanharam de perto os testes. Reis conta que a intenção do projeto é conquistar os pequenos ribeirinhos “para que cuidem e, principalmente, ajudem a sedimentar nas futuras gerações da região a idéia de que o robô não é um intruso, e sim um assistente dos pesquisadores e mais uma ferramenta brasileira à disposição deles”.
Para a garotada ribeirinha conhecer melhor o projeto, de forma lúdica e didática, foi desenvolvido o jogo Amazônia Brasileira Excursão do Projeto Piatam, criado pela designer Lucia Helena Ramos. Ele será distribuído na próxima excursão do projeto. “Esta é uma iniciativa não só para crianças, mas também para adultos voltada para a educação ambiental como uma forma de esclarecer como o robô vai atuar na área de pesquisa do Piatam. Também é um meio de estimular os jovens da região a se interessarem por pesquisas, e pelo que podem fazer para contribuir com a preservação ambiental”, acrescenta a designer.
Estavam presentes no encontro representantes das instituições parceiras do projeto: a Ufam; a Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); a Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi); o Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), e a Financiadora de Estudos e Projetos e Petrobras (Finep).
Surgimento da robótica
O uso de robôs na sociedade, seja para auxiliar nos afazeres domésticos, na produção industrial, ou mesmo nas pesquisas, já era previsto pelos filósofos gregos. Mas o precursor do termo robô foi o escritor checo Karel Capek em seu conto Opilec, escrito em 1917, onde apresenta o robô como um humanóide que substituiria o trabalho humano a baixo custo. Entretanto, ele não foi o único a ter uma visão futurista. O escritor Isaac Asimov (1920-1992) também explorou essa idéia no conto Liar!, em 1941. Desde então, diversos centros de pesquisa voltaram-se para a robótica e desenvolveram projetos como, exemplo, o Projeto Cognitus.
No livro recém-lançado Robô, filho pródigo: seremos seus bichos de estimação?, Heitor Shimizu, coordenador do setor on-line da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), explora o surgimento da robótica e os dilemmas que envolvem sua criação. Analisando a relação do robô com o homem no futuro e a evolução da própria inteligência artificial, Shimizu se pergunta até que ponto um robô poderá superar a inteligência humana e se eles precisarão do homem, caso alcancem a auto-suficiência robótica tão imaginada.
(Por Érika Blaudt, ComCiência, 20/06/2006)
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