Na noite de segunda-feira (19/06) chegou à mesa da ministra Dilma
Roussef, da Casa Civil, já assinado pela sua colega do Meio Ambiente, Marina
Silva, o decreto de criação do Parque Nacional dos Campos Amazônicos em um
mihão de hectares de terras da União no sul do Amazonas. A nova Unidade de
Conservação vai proteger uma vegetação incomum, marcada por extremos. Ela
abriga uma área de cerrado encravada bem no meio de florestas abertas e
densas, onde vivem muitas espécies não descritas ou sequer descobertas de
aves e primatas.
Nos últimos anos, com a subida da fronteira agrícola rumo ao Norte do país,
esse terreno de cerrado amazônico plano, com poucas árvores, ideal para o
plantio de grãos, começou a atrair grileiros. O decreto de criação do
Parque interfere mortalmente nesses planos. O combinado era que o presidente
Lula o assinasse ainda na terça-feira. Mas no Ibama, escolados na sua
experiência, os técnicos reponsáveis pelo trabalho de levantamento e
demarcação da nova Unidade de Conservação diziam que só iriam celebrar
depois de ver a tinta da caneta secar no papel.
O novo Parque , que se estende de Manicoré, as margens do Madeira, até a
cabeceira do Guaribas, quase na fronteira com o Mato Grosso, começou a ser
planejado em 2002, quando o Ministério do Desenvolvimento Agrário ofereceu
glebas suas ao longo da Transamazônica para a criação de áreas protegidas.
A idéia era usá-las como compensação ambiental para a devastação que varreu
a mata em muitos de seus assentamentos na região.
Do ponto de vista técnico, o trabalho andou sem problemas. Do ponto de
vista político, entretanto, foi um sufoco. O governo federal estava unido
em torno do parque. O governo do estado do Amazonas preferiu ficar quieto.
Mas a oposição, principalmente de interesses agrícolas, berrou muito alto
contra. As três audiências públicas feitas para debater a proposta do parque
foram concorridíssimas e marcadas por tumultos e discussõe emocionadas. O
vento de proa não foi suficiente para esvazir a vontade federal de
transformar os campos amazônicos num Parque Nacional, mas emperrou o
processo.
Ele voltou a andar em março, quando Manaus precisou da ajuda do governo
federal para criar duas reservas extrativistas, a de Unini e Apiraxi,
próximas ao parque nacional do Jaú. O decreto deve sair junto com de criação
do novo Parque. Em troca, o governo estadual, discretamente, ajudou a
segurar a oposição. Há duas semanas, uma reunião na Casa Civil que pôs na
mesma mesa gente dos ministérios do Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário,
Ibama e Incra chegou a um acordo sobre o desenho final do Parque Nacional
dos Campos Amazônicos. Agora, só falta Lula assinar o decreto.
(Manoel Francisco Brito,
O Eco, 19/06/2006)