Degradação ambiental mata. Segundo relatório divulgado sexta-feira (16/06)
pela Organização Mundial de Saúde (OMS), 24% das enfermidades conhecidas no
mundo e 23% de todas as mortes são causadas por desequilíbrios ecológicos.
Isso significa mais de 13 milhões de óbitos todos os anos, com um
agravante: as doenças em questão poderiam ser evitadas com esforços mínimos
e básicos para garantir a qualidade de vida. Como acesso à água potável,
higiene, uso de fontes mais limpas de energia, mais cautela no manejo de
químicos e melhor planejamento urbano.
O estudo Preventing disease through healthy environments - towards an
estimate of the environmental burden of diseases, mostra que descasos como
esses provocam mais de 40% das mortes por malária e 94% dos falecimentos
decorrentes de doenças ligadas à diarréia. Além disso, são o motivo de
aproximadamente um terço das mortes e doenças em países em desenvolvimento.
Mais de 33% dessas enfermidades acometem crianças menores de cinco anos. O
documento mostra também que a taxa de mortalidade provocada por questões
ambientais nesse grupo é 12 vezes superior nos países em desenvolvimento do
que nos desenvolvidos.
A análise envolveu estudos anteriores e pesquisas recentes de 100
especialistas espalhados pelo mundo, que não só identificaram as doenças
impactadas por determinados riscos ambientais, mas também o quanto. Um dos
resultados é uma espécie de lista com os problemas que precisam ser sanados
com mais urgência em termos de saúde e meio ambiente.
Casos mais graves
No topo do ranking está a diarréia, provocada pela má qualidade das águas,
deficiências sanitárias e de higiene. Em seguida, aparecem infecções
respiratórias que se manifestam devido à poluição do ar – o que representa
41% de todos os casos no mundo. Depois, problemas como acidentes
industriais e em ambiente de trabalho, como exposição à radiação –
categoria que tem 44% dos casos atribuídos a fatores ambientais.
O estudo mostra ainda que 42% dos casos de malária surgem por causa de maus
cuidados com a terra e com o uso da água. Além disso, planejamentos urbanos
fracos e carência nos sistemas de transporte causam 40% dos registros de
acidentes nas estradas. Entre as principais fatalidades, o relatório ainda
dá ênfase a uma doença que gradativamente causa perda da capacidade pulmonar
e doenças perinatais.
Agora, existe a relação de doenças referentes às principais causas de morte
no mundo, independentemente do motivo. Nesse caso, os óbitos decorrentes
de problemas cardiovasculares lideram – o que não está diretamente ligado
a questões ambientais. Depois vêm os casos de diarréia, infecções
respiratórias e câncer. Mas, segundo o relatório, de uma forma ou de outra
o meio ambiente afeta substancialmente mais de 80% dessas enfermidades mais
freqüentes na população mundial. E esse número pode ser maior, uma vez que
a pesquisa se restringiu àqueles problemas ambientais que podem ser
solucionados com políticas e tecnologias já existentes.
Os pesquisadores que assinam o estudo da OMS demonstraram através de mapas
de que maneira as mortes e as doenças atribuídas a causas ambientais estão
distribuídas no mundo. Cerca de 25% dos óbitos acontecem em áreas em
desenvolvimento. E 17% deles em países desenvolvidos. Entretanto, eles
mesmos fazem uma ressalva: embora esses números representem uma contribuição
significativa diante do total de doenças, ainda assim trata-se de uma
estimativa conservadora, já que não se conhecem as causas de muitas
enfermidades.
O estudo estabeleceu também uma medida para estimar o número de anos
perdidos por pessoa exposta aos problemas ambientais. As maiores
discrepâncias foram observadas no grupo das doenças infecciosas. O total de
anos de vida perdidos por causa delas é 15 vezes mais alto em países em
desenvolvimento do que nos desenvolvidos. Nos casos mais extremos, essa
diferença é 120 e 150 vezes mais elevada devido às doenças infecciosas e à
diarréia, respectivamente, se as áreas mais impactadas forem comparadas com
as menos.
De acordo com o Dr. Anders Nordström, diretor-geral da OMS, a análise é a
maior contribuição já elaborada para definir como meio ambiente e saúde
estão ligados. Através de investimentos para manter a qualidade dos recursos
naturais, promove-se por conseqüência saúde e desenvolvimento. Se a questão
era arrumar diferentes formas de dizer a mesma coisa e se o argumento vale
para preservar o meio ambiente, o recado foi dado. Os governos salvam vidas
e diminuem gastos com saúde tratando melhor da natureza.
(Por
Andreia Fanzeres,
O Eco, 19/06/2006)