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2006-06-20
O Japão teria tentado subornar países centro-americanos, para que apóiem o fim da moratória da caça comercial de baleias, durante um encontro que acontece no Caribe. Honduras e Guatemala desmentem pressões. Aproximadamente mil baleias são sacrificadas a cada ano com arpões que explodem ao tocar sua pele, bastões que descarregam mil watts ou disparos em suas cabeças. O Japão é o rei destas práticas e, em seu afã de mantê-las e ampliá-las, suborna governos de pequenos países latino-americanos, segundo denúncias de ambientalistas e cientistas. O governo japonês propõe suspender a moratória da caça comercial de cetáceos, em vigor desde a segunda metade dos anos 80, durante a reunião da Comissão Baleeira Internacional (CBI), que acontece entre 16 e 20 deste mês, nas ilhas caribenhas de Saint Kitts e Nevis.

Os 65 países que fazem parte da CBI decidirão se a moratória será ou não mantida. Para que diversas nações, a maioria sem nenhuma tradição baleeira, apóiem sua posição na Comissão, o Japão oferece auxílio financeiro e assessoria em pesca, denunciam especialistas. “Isso é conhecido por todos e Tóquio nem se preocupa em esconder”, disse ao Terramérica o mexicano Jorge Urban, especialista em cetáceos da Universidade Autônoma da Baixa Califórnia Sul, que desde 1986 participa das sessões anuais do comitê científico da CBI.

A previsão é de que os maiores países da região, como Brasil, Argentina, Chile e México, se oponham à suspensão da moratória. Porém, às vésperas da reunião, foi dado um alerta: nações como El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua poderiam apoiar a proposta japonesa de levantar a proibição. “Metade dos países que faz parte da Comissão quer acabar com a proibição e a outra metade quer mantê-la”, explicou Urban. A organização ambientalista Greenpeace acusou o governo do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, de ceder às pressões de Tóquio.

O chanceler hondurenho, Milton Jiménez, se mostrou indignado. “É uma especulação e uma ofensa intolerável. Qualquer determinação nesse aspecto deve ser tomada pelo presidente em consulta aos seus ministros, e isso não está na agenda. Honduras não vende nem negocia seus votos”, afirmou Jiménez ao Terramérica. O Greenpeace “deve informar sua fonte para assegurar isso e faremos um protesto formal se a especulação se mantiver”, acrescentou.

Para alegria dos ambientalistas, no último minuto. El Salvador e Guatemala informaram que não vão somar como novos membros desse fórum e que, portanto, não participariam da reunião. “A Guatemala não estará em San Kitts e Nevis, nem como membro da CBI nem como observadora”, confirmou ao Terramérica o chanceler desse país, Jorge Briz. Nicarágua e Honduras, que integram o fórum, mantiveram uma postura incerta. Embora o governo hondurenho não tenha gostado das denúncias do Greenpeace, não informou claramente qual será seu voto.

A decisão de restringir a captura de baleias, na década de 80, teve por base evidências de que várias espécies de cetáceos estavam em risco de extinção, devido à caça indiscriminada. As baleias, das quais há mais de 20 espécies no mundo, são mamíferos de inteligência semelhante à dos animais domésticos, afirmam cientistas. Japão, Islândia e Noruega afirmam que as populações de alguns desses tipos já se reproduziram o suficiente e que sua pesca deve ser retomada. Afirmam, por exemplo, que a variedade minke, a menor das baleias com barbatanas, já tem uma população de, aproximadamente, 500 mil animais.

Cerca de mil baleias capturadas atualmente são parte de cotas estabelecidas pela CBI, para estudos científicos e permitir que povos aborígines, como os esquimós, não percam suas antigas tradições pesqueiras e alimentícias. O governo da Noruega é o único do mundo que rompeu unilateralmente a proibição, em 1993, ano em que retomou a pesca de baleias minke, que chegam a medir dez metros de comprimento.

As autoridades norueguesas afirmam que a moratória adotada em 1986 deveria ter sido reavaliada em 1990, mas isso não aconteceu porque a maioria dos integrantes da Comissão foi contra, embora considerassem que havia clara evidência da recuperação de variedades como a minke. O Japão, por outro lado, mantém a caça alegando estudos científicos. Porém, a carne da grande maioria das baleias termina nos restaurantes desse país ou é exportada como produto exótico.

“Japão e Noruega dizem ter o direito de caçar baleias e argumentam que para o aproveitamento deste recurso é preciso matá-las. Direito também temos nós, de expressar que o recurso pode ser aproveitado de maneira sustentável sem necessidade de sacrificá-las”, afirmou Lorenzo Rojas, comissário mexicano junto à CBI. Brasil, Argentina, Chile e México são contra o reinício da caça. A maioria dos países latino-americanos não tem tradição nessa área, mas desenvolveram uma exitosa indústria turística associada à sua observação.

Este setor gera uma renda superior a US$ 1 bilhão ao ano no mundo, ajudando a melhorar a qualidade de vida das comunidades costeiras. “A matança de baleias não pode coexistir com a observação e está demonstrado que é muito mais rentável a observação do que a caça”, disse ao Terramérica Roxana Scheteinbarg, coordenadora do não-governamental Instituto de Conservação das Baleias da Argentina. “Haja ou não grandes populações, já não há necessidade de caçar baleias”, afirmou.

Para o especialista Jorge Urban, os estudos feitos por países como Noruega e Japão, que indicam que a baleia minke poderia voltar a ser caçada sem perigo, não são concludentes. O risco de extinção paira, principalmente, sobre os grandes cetáceos do Pacífico asiático, como a baleia cinza, da qual restam apenas cerca de 120 exemplares na região, explicou o cientista. Nos mares, as baleias são mortas com um arpão-granada, que explode ao entrar em contato com o animal. Também são usados bastões que transmitem descargas elétricas. Quando nenhum destes métodos funciona, são utilizadas armas de fogo. A recomendação é atirar direto na cabeça do animal.
(Terramérica, 19/06/2006)
http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-index_noticias.asp?id=10382

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