Monocultura no Pampa: “Preservar o meio ambiente e a matriz produtiva atual”
2006-06-20
O seminário "Arranjo Florestal no RS: impactos econômicos, sociais e ambientais" — realizado ontem (19/06) na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul — foi proposto pelo coordenador da Frente Parlamentar para o Desenvolvimento Sustentável e Apoio às Agendas 21, deputado Ronaldo Zülke (PT). Ele reconhece que os empreendimentos anunciados pelas três grandes empresas papeleiras instaladas no Rio Grande do Sul – Aracruz Celulose, Stora Enso e Votorantin – são iniciativas que terão impacto muito grande na Metade Sul.
“Além de ambientais, haverá impactos econômicos e sociais. Por isso, precisamos conhecer profundamente o tema para que a sociedade possa – estando a par dos efeitos desses empreendimentos – refletir e apontar medidas que sejam capazes de reduzir o passivo ambiental”.
Embora não manifeste posição favorável ou contrária à monocultura de árvores como alternativa de desenvolvimento, o deputado julga ser indispensável a articulação desses empreendimentos com a matriz produtiva já existente na Metade Sul do Estado. Ele cita como exemplo o município de Pelotas, onde há uma importante “bacia leiteira” gerando empregos e renda que precisa ser apoiada e estimulada.
“As iniciativas florestais podem auxiliar o desenvolvimento da bacia leiteira na região de Pelotas. A mesma coisa pode acontecer com a fruticultura, pois ela é uma importante alternativa para o Sul do Estado. É isso que chamamos de a necessária articulação destes empreendimentos com a matriz produtiva já implantada, que além de gerar empregos na região, agrega valor àquilo que é produzido, não deixando que o dinheiro gerado na região vá para outros lugares”.
O coordenador da Frente Parlamentar para o Desenvolvimento Sustentável acredita que, do ponto de vista ambiental, a legislação do RS deve ser rigorosamente observada. “Precisamos ver se não é o caso de qualificarmos ainda mais essa legislação, pois uma das grandes preocupações que existem a respeito do plantio do eucalipto é sobre a sua absorção de água. Isto é algo efetivamente impactante? Vai trazer conseqüência para a lavoura do arroz? Vai gerar uma disputa sobre a água na região? Como enfrentar isso?”, questiona-se, admitindo a necessidade de cautela na expansão de projetos florestais no bioma Pampa.
Licenciamento por bacia hidrográfica
O licenciamento por bacia hidrográfica foi uma solução apontada por Zülke. Segundo ele, “é preciso pensar primeiramente a quantidade de água disponível para toda a região. Encerrada essa etapa é que poderemos fazer com que os licenciamentos aconteçam”.
Questionado sobre a necessidade de mudar a legislação ambiental, além da possível morosidade dos órgãos ao realizar o levantamento ambiental da região – o que poderia ocasionar a desistência de algumas empresas do ramo em fazer investimentos –, o deputado foi enfático.
“Essas iniciativas não são empreendimentos a curto prazo. Quem está vindo se instalar no RS para plantar eucaliptos prevê no mínimo oito anos para a produção da madeira. Depois disso, se for o caso de instalar uma planta industrial, são mais dois ou três anos. Portanto, temos aí um período mínimo de 12 anos para tomarmos as medidas necessárias tanto para preservar o meio ambiente, quanto para preservar a nossa matriz produtiva existente”.
O deputado gaúcho ressalta que é preciso ser prudente e responsável ao encaminhar o polêmico debate à sociedade. Admite haver “muita paixão em torno das opiniões envolvendo a questão”, mas acredita que a “razão precisa se sobrepor nesse tipo de caso, para que possamos fazer com que esses empreendimentos aconteçam, sem nunca deixar de beneficiar o Rio Grande como um todo”.
Por Tatiana Feldens, 20/06/2006