Nos próximos três anos, a produção brasileira de urânio
deverá triplicar, saltando das atuais 400 toneladas para 1,2 mil toneladas.
A estimativa é da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), responsável pela
mineração de urânio no País, e leva em conta o início de exploração da mina
Santa Quitéria, no interior do Ceará, previsto para ocorrer nos próximos
meses.
Hoje, apenas a mina de Caetité, no Sudeste da Bahia, está em atividade. A
sua produção, estimada para este ano em 400 mil toneladas, é suficiente
para abastece as duas usinas nucleares existentes no País - as Angras 1 e
2 -, tornando o país auto-suficiente na produção do minério. Com o início
de atividade da mina Santa Quitéria, o Brasil terá condições de produzir,
dentro de três anos, mais 800 toneladas de urânio, o que elevaria a
produção para 1,2 mil toneladas. Esse volume colocará o País na quinta
colocação do ranking mundial dos maiores produtores da matéria-prima, atrás
Canadá (12 mil toneladas por ano e 30% da oferta total), Austrália (6 mil
toneladas/ano), Cazaquistão (4 mil toneladas/ano) e Rússia (entre 3 a 4
mil toneladas), de acordo com dados da INB.
No futuro, a produção das duas minas - Caetité e Santa Quitéria - abastecerá
também a usina de Angra 3, cuja construção foi paralisada há 20 anos, mas
que pode ser retomada, de acordo com expectativa do próprio governo federal.
Segundo o diretor de recursos minerais da INB, Luiz Filipe da Silva, o
Brasil poderá, até mesmo, exportar o excedente, estimado em cerca de 400
toneladas de urânio. "Não é impossível que o Brasil possa exportar urânio a
partir de 2009, porém é preferível fazê-lo com maior valor agregado", diz
ele. "Precisamos beneficiar o máximo possível até que o urânio esteja pronto
para entrar no reator", completa.
Com o urânio é monopólio da União, para que o Brasil passe a exportá-lo,
será preciso uma mudança na legislação brasileira e ainda a aprovação da
Agência Internacional de Energia Atômica, que autoriza a compra da
matéria-prima pelos países que usam o minério de maneira pacífica. "O setor
nuclear está mobilizado para encontrar mecanismos que permitam exportar a
produção excedente no futuro", ressalta Filipe da Silva, que cita os países
asiáticos, como China e Japão, como possíveis compradores do minério brasileiro. Atualmente, o urânio brasileiro, segundo a
INB, é produzido apenas para atender as demandas nas pesquisas médicas,
agrícolas e para gerar energia nas usinas nucleares de Angra 1 e 2. Segundo
o diretor, o Brasil quer aumentar o uso da energia nuclear baseado em
previsões de crescimento da demanda energética, que pode chegar a mais 50%
em 2015, considerando uma expansão econômica anual de 4,5%.
"O governo passou a tratar o assunto (de exploração da energia nuclear)
como estratégico e o nosso diferencial é que temos matéria-prima em
abundância", disse o diretor da INB. Atualmente, as usinas hidroelétricas
respondem por 70% da capacidade geradora do País, enquanto a nuclear
representa apenas 2,2%.
Até agora os investimentos nas minas de urânio foram baixos, segundo Filipe
Silva. Na primeira mina brasileira, situada em Poços de Caldas (MG) e que
foi desativada em 1995, foram investidos cerca de US$ 100 milhões. Na mina
de Catité, o valor aplicado girou em R$ 23 milhões. Para Santa Quitéria,
onde a pesquisa revelou que existe também fosfato (utilizado em
fertilizantes), os investimentos podem atingir a casa dos US$ 150 milhões.
"Com a descoberta do fosfato na mina de Santa Quitéria, vamos também
reduzir as importações de fertilizantes", afirma Filipe da Silva. De
acordo com ele, a INB pretende fechar uma parceria com uma empresa de
adubos para conseguir levantar os recursos para aplicar na exploração".
(Ivonéte Dainese,
Gazeta Mercantil, 20/06/2006)