Geólogo da UFSC critica atuação de órgãos ambientais em Florianópolis
2006-06-20
As unidades de conservação municipais de Florianópolis não possuem planos
de manejo nem conselhos consultivos e gestores, o que facilita a degradação
dessas áreas protegidas segundo o coordenador de Gestão Ambiental da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Érico Porto Filho. A
ausência dos instrumentos facilita as invasões, a prática da caça e da
pesca clandestinas e a contaminação ambiental, sobrecarregando os serviços
da fiscalização.
Segundo Porto Filho, somente a Estação Ecológica de Carijós, a Reserva
Extrativista Marinha da Costeira do Pirajubaé e a Reserva Biológica Marinha
do Arvoredo (federais) e o Parque Estadual da Serra do Tabuleiros
(estadual), estão com seus planos de planejo e conselhos já implantados ou
em fase de implantação. "Das unidades municipais, nenhuma está de acordo
com o previsto na lei que criou o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC)", salientou o geólogo.
Ele concorda com as posições do superintendente da Floram, Francisco
Rzatki, sobre as principais ameaças aos ecossistemas da Ilha de Santa
Catarina: as invasões de áreas de preservação permanente (APP). "As dunas
estão sendo usadas para a retirada de madeira, caça e ocupação urbana,
en-quanto os manguezais e cursos dágua são transformados em áreas urbanas,
recebendo nutrientes em excesso, esgotos e metais pesados", destacou.
Porto Filho elogia o esforço da Polícia Am-biental, que "atua
incansavelmente", lamentando a ausência da mesma agilidade em outros
órgãos, como a própria Floram, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
(Ibama) e a Fundação de Meio Ambiente do Estado (Fatma). Como fato positivo,
aponta o esforço que está sendo feito pela Prefeitura e outras instituições
públicas, visando a criar uma reserva da biosfera urbana na Capital.
Fiscalização é relaxada, afirma ativista
Para o jornalista Jeffrey Hoff, da Fundação Lagoa, "o poder de fogo dos
investidores imobiliários junto aos políticos é maior que o poder da
sociedade e da própria natureza", disse, apontando a existência de um
descompasso entre o crescimento urbano e a proteção dos ecossistemas de
Florianópolis. "Por esse motivo, a vontade dos políticos pela preservação
é menor, gerando muitos discursos que são desmentidos no médio e longo
prazos", salientou.
Isso inclui o relaxamento da fiscalização por parte dos diversos órgãos
responsáveis, aliado a uma "falta de planejamento" e de "investimentos na
preservação". Com isso, as águas em geral e as diversas formações da mata
atlântica, são as mais afetadas. "Os nossos rios, lagoas, baías e mares
estão cada vez mais comprometidos devido a este tipo de postura", enfatizou
Hoff.
As características naturais de Florianópolis servem de atrativos para novos
moradores, "pois todos querem morar perto dessa natureza exuberante", mas
para que isso ocorra é preciso desmatar e de alguma forma comprometer a
qualidade das águas. "Um grande problema é o valor dos nossos imóveis",
mais baratos se comparados aos de outros centros urbanos brasileiros,
permitindo que sejam adquiridos com certa facilidade e pouco investimento.
Falta de fiscais na Floram dificulta controle
A principal dificuldade do poder público em controlar as ocupações
irregulares está na fiscalização. O caso da Floram é um exemplo. Com cerca
de 50 fiscais ambientais até o ano passado, acabou perdendo dez servidores
depois da adoção de medida determinada pelo Comitê Gestor, criado pelo
prefeito Dário Berger para diminuir os custos da máquina administrativa, o
que implicou em cortes nas diversas áreas de atuação da Prefeitura.
A supressão dos fiscais da Floram, entretanto, não se revelou acertada: os
funcionários mais qualificados para a função, com nível superior e
experiência, foram afastados, permanecendo profissionais de menor tempo de
trabalho e pouca habilidade para lidar com os problemas no setor. Isso tem
dificultado o trabalho da Floram, levando a uma so-brecarga da atuação da
Polícia de Proteção Ambiental. O superintendente da Floram, Francisco
Rzatki, não quis comentar o problema.
(A Notícia, 19/05/2006)
http://portal.an.uol.com.br/ancapital/2006/jun/19/1ger.jsp