ECONOMISTA PREVÊ BRASIL COM PRODUÇÃO CASEIRA DE ENERGIAS ALTERNATIVAS
2001-10-05
Claro que existem alguns (e difíceis) obstáculos técnicos e políticos envolvidos nessa mudança de visão. O economista Klaus Knecht, que trabalha no Ministério da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha coordenando ações para difundir esta nova forma de ver a produção e o consumo de energia, concorda que é preciso criar instrumentos para regular o mercado, evitando abusos e evitando que pessoas pobres, por exemplo, fiquem sem acesso à energia. Essa primeira fase de regulação do mercado (a que garante o acesso universal), especialmente em países que promoveram a privatização de sua produção e de serviços energéticos, está em curso. No Brasil, por exemplo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tem esse papel. Mas entre alterar drasticamente a matriz energética para o uso de outras formas de energia que não a predominante (hidroelétrica) e inserir consumidores como produtores, há um longo caminho a percorrer. - As energias renováveis, no que diz respeito ao seu uso, dependem de preço, e é preciso criar mecanismos de fixação de preços para introduzir esse tipo de energia, defende Knecht. - Está ai um exemplo de custo que precisa ser internalizado, aponta ele, referindo-se à necessidade de os governos de países em desenvolvimento investirem em alterações no sistema público de distribuição de energia, a fim de permitir que quem consome possa também gerar e disponibilizar a energia gerada para o sistema público. Segundo ele, o papel das empresas é começar a implantar o uso de energias renováveis para estimular o mercado. Quem compra hoje um painel fotovoltáico para a produção de eletricidade a partir de energia solar, no Brasil, por exemplo, precisa de uma grande quantidade de baterias para armazenar essa energia. Se houvesse uma infra-estrutura para colocar esssa energia na rede, o produtor doméstico gastaria nada em armazenagem e até poderia ter desconto em seu gasto, pois disponibilizaria essa energia gerada imediatamente ao sistema público. Knecht acredita que isso vai ocorrer, no Brasil, num horizonte de dois a cinco anos, e não só com energia solar, mas com eólica. De acordo com ele, a fixação de preços, num certo horizonte de tempo, cumpriria o papel de incentivar o uso de energias renováveis e funcionaria como uma forma de regulação. No caso da energia eólica, sabe-se que o valor da energia gerada depende da localização dos geradores. Em locais onde o vento é mais forte e frequente, como no litoral, o custo da geração é menor, e o produtor pagaria menos. Em locais de menor altitude, o inverso acontece. - Mas com o tempo, com a difusão do uso dessa tecnologia, os preços tendem para um mesmo valor porque a oferta aumenta, ilustra. - É preciso ter em mente que as energias renováveis envolvem o conceito de descentralizar a produção e de integrar o consumo e a venda a partir de um sistema público, de acesso comum, resume o economista.