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2006-06-19
“O Sítio do Complexo Hidrelétrico Belo Monte está localizado no Rio Xingu, no Estado do Pará. Será o terceiro maior aproveitamento hidrelétrico do mundo, com 11.182 MW de potência instalada. É considerado uma obra estratégica para o Setor Elétrico Brasileiro”.

O trecho acima abre o site do governo federal sobre o projeto de construção da usina de Belo Monte. Há 5 anos, a hidrelétrica é objeto de disputa na Justiça entre o Ministério Público (MP) do Pará e a Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás. O MP defende que os estudos dos impactos ambientais não podem prosseguir enquanto as comunidades locais indígenas – que seriam afetadas pela obra – não forem consultadas.

De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), os impactos listados são inúmeros. Entre eles, a inundação dos igarapés Altamira e Ambé, a inundação da área rural de Vitória do Xingu, o remanejamento de 2 mil famílias que vivem na periferia de Altamira, de 800 famílias da área rural de Vitória do Xingu e de 400 famílias ribeirinhas e a alteração do curso do Rio Xingu.

O clima de tensão na região tem piorado desde o dia 19 de maio, quando o Greenpeace sofreu um ataque em Santarém (PA). A organização vinha fazendo uma expedição pela costa brasileira, denunciando o avanço da fronteira agrícola e da produção de soja na Amazônia. Sojeiros que já estavam organizando um movimento que vem sendo chamado de "Fora, Greenpeace! A Amazônia é nossa!” reagiram com violência à presença da ONG na cidade.

Desde então, a campanha contra o Greenpeace, que logo se generalizou para um movimento antiorganizações sociais, ganhou o oeste do estado do Pará e chegou a Altamira, segundo relatou Tarcísio Feitosa, da Comissão Pastoral da Terra e ganhador do Prêmio Goldman, considerado o Nobel do ambientalismo. Ele conta que em cada esquina, existem faixas com mensagens como “8.711 desempregados na região”, em alusão às pessoas que perderam seu emprego em virtude do fechamento de madeireiras.

O principal argumento dos empresários a favor da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte é justamente a geração de empregos. O clima contra as organizações da sociedade civil que vêm se instalando no estado, estimulado principalmente por produtores de soja, foi aproveitado por empresários da região de Altamira, que passaram a veicular na televisão anúncios pró-Belo Monte.

Durante a entrevista à Rets, realizada por telefone, Feitosa interrompeu a conversa para mostrar a propaganda que passava na TV naquele momento. Um empresário local, chamado Gilmar Soares, convocava o “povo do Xingu a dar seu grito de liberdade”. Em outras palavras: apoiar a construção da usina. Segundo Feitosa, a situação é preocupante.

Rets – Como está a situação hoje no Pará em relação à construção de Belo Monte?

Tarcísio Feitosa - A campanha contra o Greenpeace em Santarém está se ramificando para o oeste do Pará. Existem faixas em todas as esquinas da cidade. Em uma delas está escrito “8.711 desempregados na região”. A situação aqui é preocupante.

No dia 5 de maio houve um seminário sobre meio ambiente em Altamira e a pergunta principal que faziam para a gente era: “Quem dá dinheiro para vocês?”. Apresentamos as fontes de financiamento, inclusive do governo federal. Havia quatro câmeras nos filmando, uma parafernália enorme gravando os nossos depoimentos. E depois nos perguntaram se éramos a favor ou contra Belo Monte.

Rets – Mas a população concorda com essa campanha contra as organizações da sociedade civil?

Tarcísio Feitosa – Existem 8 mil pais de famílias desempregados por causa do fechamento das madeireiras. Isso é complicado. Fora isso, faz uma semana que vem sendo veiculada na televisão uma campanha com o tema “Eu Quero Belo Monte”, apoiada por fazendeiros, empresários locais e madeireiros. A campanha é assinada por um Comitê Pró-Belo Monte. Com certeza, é gente de fora que está trabalhando a estratégia, porque os nossos inimigos nós conhecemos bem.

Rets – Desde quando existe o projeto de construção da usina?

Tarcísio Feitosa - Os militares que projetaram as estradas na Amazônia desenharam de um jeito que onde a estrada corta o rio pode ter certeza de que ali está prevista a construção de uma hidrelétrica. Belo Monte já está na pauta desde aquela época. Querem construí-la onde a Transamazônica corta o Xingu.

Rets – E quais seriam os impactos dessa construção?

Tarcísio Feitosa - Há estudos [dois deles estão disponíveis na área de Downloads desta página, à direita] que questionam os impactos ambientais. E agora os econômicos também. Ou seja, estão questionando se os benefícios econômicos serão tão grandes quanto os empresários estão pregando. Há dois grandes relatórios publicados sobre os impactos.

Existem 45 aldeias indígenas na Bacia do Xingu. Belo Monte seria a primeira de outras cinco barragens. O que vai acontecer é que o rio vai secar exatamente na região onde os índios moram. Você imagina um rio do tamanho do Xingu sendo desviado? Está previsto o desvio de mais da metade do leito. E vai alagar uma área que só tem agricultores. Esses agricultores vão receber outra terra em troca. A terra deles fica a 60km de Altamira, mas devem ser realocados no meio da floresta.

Rets – Como está a situação na Justiça?

Tarcísio Feitosa - Os estudos de impactos estão paralisados por causa de uma decisão judicial. Nós queremos a consulta da comunidade local e o Ministério Público está defendendo isso na Justiça.

Rets – E qual é a posição do governo?

Tarcísio Feitosa - Existem dois grupos dentro do governo, um ligado ao setor ambiental, que defende a ampliação do debate, e outro que quer a construção da usina e está do lado dos barrageiros. De qualquer forma, mesmo o grupo que quer mais debate defende a construção. Só que mais para frente.

Rets – Em algum momento houve violência nesse embate?

Tarcísio Feitosa - O Ademir morreu antes da irmã Dorothy [a missionária norte-americana Dorothy Stang, assassinada no ano passado, no Pará]. Era um agricultor muito simples, mas que tinha um poder de discurso muito forte. Ele defendia a natureza de maneira muito bonita. Em 2001, ele foi assassinado em um dos atos de protesto.
Por Luísa Gockel, Envolverde/Rets, 16/06/2006 (Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais).

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