Ambientalistas gaúchos mostram indignação com o governo estadual
2006-06-19
Pelo segundo ano consecutivo, ambientalistas do Rio Grande do Sul saíram sábado (17/06) às ruas de Porto Alegre em alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho. A caminhada contou com cerca de 20 ecologistas, que, depois de dois finais de semana, conseguiram realizar a atividade, antes adiada em função de ameaças de chuva. Por causa dos problemas de data, a passeata foi bem mais modesta que a do ano passado, que contou com cerca de 200 pessoas. Apesar disso, os participantes não se intimidaram e festejaram a data, ao mesmo tempo em que demonstraram sua revolta com o governo do estado.
Com o slogan “A Paciência no Limite”, resposta à atual campanha “A Vida no Limite” da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), o trajeto foi iniciado no Monumento do Expedicionário, no Parque Farroupilha (Redenção) e concluído em frente a uma das sinaleiras da avenida Osvaldo Aranha. Os ambientalistas tiveram como alvo iniciativas do poder público que, em sua visão, foram prejudiciais à ecologia. No início do protesto, uma faixa apresentava “ambientalista X governo”, deixando clara a indignação dos manifestantes. Com gritos de guerra como “ela foi vendida pra multinacional; onde foi parar a justiça ambiental” e “cidadão, seja consciente; todo dia é do meio ambiente”, os ativistas chamaram a atenção de quem caminhava pela Redenção ou passeava no brique. Microfones, material informativo, alto-falantes, tambores e outros instrumentos musicais fizeram parte da ação.
O veto da organização não-governamental (ONG) Amigos da Terra Brasil (NAT/Brasil) a uma das cadeiras do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) foi um dos motes do protesto. A iniciativa contraria, na visão dos ecologistas, a resolução 107 do próprio conselho, que determina que a vaga deve ser ocupada por entidades de defesa ambiental. O NAT/Brasil foi substituído pelos Amigos da Floresta, ONG acusada de representar os interesses do setor florestal. O filósofo Vicente Medaglia, do Inga (Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais), destacou que o fato é grave e acusou o governo de excluir a participação dos ambientalistas do Consema. “Isso torna evidente que governo não nos quer no Consema e não respeita o meio ambiente.”
Ao lado da questão do Consema apareceram as críticas à expansão da silvicultura no estado, em especial na região do pampa. Nas faixas apareceram provocações como “Qual você prefere: eucalipto ou biodiversidade” e “Não ao deserto verde, viva o pampa gaúcho”. E mais provocações surgiram com o grito “Aracruz, não me engana./O eucalipto vai secar o nosso pampa”, entoado com mais força e que ganhou adesão de carros que passavam pela rua José Bonifácio.
Medaglia lembrou que pinus e eucaliptos são plantas exóticas, e chamou a atenção para a maior polêmica acerca das árvores – a retirada de água do solo. Lembrou, ainda, da isenção de impostos das transnacionais, que conseguem “facilidades” e “vantagens” para se instalar no Brasil. “O que é ruim para a Europa vem para cá. Não querem mais essas fábricas lá, então elas vêm para o Brasil, onde está tudo liberado”, ataca Medaglia.
Simpatizante da causa ecológica, o músico e ator José Carlos Peixoto, mais conhecido como Zé da Terreira, percebe uma “certa cumplicidade” entre o Estado e as grandes indústrias. O artista entende que o governo deveria arbitrar as decisões, mas se tornou um “refém” das empresas. “Parece que a cultura da indústria é uma necessidade”, acredita. “Mas um evento como esse serve para registrar a importância do meio ambiente, para alertar essa sociedade lúdica e tecnológica. Temos sempre que discutir essas coisas.”
Por Patrícia Benvenuti, 19/06/2006