Audiência vai debater estado do Rio Tubarão (SC)
2006-06-19
Ambientalistas, defensores ferrenhos da ecologia e cidadãos que mantém uma
preocupação genuína com o meio onde vivem poderão confrontar autoridades
políticas das três esferas - federal, estadual e municipal - além de
instituições ambientais diversas, no próximo 26 de julho, no fórum da comarca
de Tubarão. É quando ocorre uma audiência pública que vai discutir a
importância da implantação de saneamento no Rio Tubarão. De acordo com o
procurador da República Celso Três, caso nada seja feito de imediato para
impedir o despejo de esgoto no rio, em até cinco anos as águas do mesmo não
terão qualquer utilidade. Mesmo se tratadas pela companhia responsável. Aos
moradores, restariam os galões de água mineral. E aí haja dinheiro e
disponibilidade das termas.
O Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública visando reprimir o
despejo de esgoto cloacal no Rio Tubarão. Em caso de não cumprimento da
obrigatoriedade, cidades como Tubarão e Laguna seriam "paralisadas", ou seja,
impedidas de autorizar qualquer nova construção. O processo do MP tem como
réus, além das prefeituras de Laguna e Tubarão, as de Braço do Norte,
Capivari de Baixo, Lauro Müller, Orleans, Pedras Grandes, Rio Fortuna e Santa
Rosa de Lima. A União, a Fundação Nacional de Saúde - Funasa, o Estado de
Santa Catarina, a Fatma e a Casan também devem prestar esclarecimentos. A
cidade de São Ludgero não será processada por ser a única que realiza
tratamento de esgoto.
Celso Três recorda que, em 2002, o Estado de Santa Catarina, cumprindo
estatuto das águas, realizou o "Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Tubarão", projeto levado a cabo com verbas do Ministério
do Meio Ambiente. "Foram estabelecidos oito planos setoriais de ações, em
estudo feito por equipe formada por biólogos, engenheiros, geógrafos e
oceanógrafos. Este estudo apontou que sete municípios estão correndo risco
iminente de entrar em colapso quanto ao abastecimento de água. A possibilidade
de que as águas do Rio Tubarão se tornem imprestáveis ao consumo humano,
mesmo com tratamento, em cinco anos, é real", explicou Celso, em documento
enviado à imprensa.
Em resumo, o plano elaborado jamais saiu do papel. O Comitê de Gerenciamento
da Bacia do Tubarão "padece impotente, sem recursos materiais e financeiros
para seu pleno funcionamento". Em Santa Catarina, de acordo com dados do IBGE,
apenas 13,4% da população é atendida por rede de esgoto sanitário, um dos
piores índices do país. Estatísticas do SUS dão conta de que 68% das
internações hospitalares são ocasionadas pela defecção de saneamento básico.
"As prefeituras são relapsas, não exigindo dos munícipes equipamentos como
fossas sépticas, filtros biológicos e vedação à ligação do esgoto cloacal à
rede pluvial. Também não instalam redes coletoras e estação de tratamento do
esgoto, sabido que para tanto dispõem de recursos próprios - tarifas pagas
pela população", observa Celso Três.
TUBARÃO - Há 20 anos já vigoram normas do Conselho Nacional do Meio
Ambiente - Conama, obrigando a Fatma a enquadrar a classificação da água e
monitorar os efluentes lançados no rio, com a realização de exames periódicos
avaliando condição do estuário, além de aplicarem multa e realizarem
representação junto ao Ministério Público, também interditando atividades
degradantes, como indústrias que despejam poluentes no rio e prefeituras que
não reprimem o esgoto cloacal ligado à rede pluvial. No entanto, de acordo
com o Ministério Público, a Fatma não cumpre nenhuma destas obrigações.
Celso Três informa também que o Estado de Santa Catarina e a União são
co-responsáveis pelo saneamento básico, e embora tenham recursos,
"recalcitram na omissão". "No orçamento da União de 2005, através da Funasa,
estavam previstos para o Estado de Santa Catarina - notadamente ao saneamento
básico - R$ 23.256.100. Todavia, quase nada foi repassado aos municípios".
Ações semelhantes já foram julgadas procedentes pela Justiça Federal
relativamente aos municípios de Florianópolis, Itajaí, Penha, Camboriú e
Joinville.
(Diário do Sul, 16/06/2006)
http://www.diariodosul.com.br/materia_2.htm