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2006-06-19
Cerca de 500 poços artesianos abandonados em Ribeirão Preto (314 km a norte de São Paulo) ameaçam o aqüífero Guarani, a maior reserva de água potável da América Latina e uma das maiores do mundo, com 1,2 milhão de km2, que se estende por Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai.

O sistema é considerado estratégico para o abastecimento do Cone Sul --cerca de 15 milhões de pessoas vivem na área de abrangência do aqüífero. A previsão é de aumento do número de usuários em razão, principalmente, do crescimento populacional e do aumento do consumo industrial.

Como os poços abandonados não são devidamente tampados, a contaminação é direta, já que não há nenhuma barreira para impedir a chegada da água da chuva ao aqüífero.

"O poço abandonado é um risco porque não se sabe onde está, não se usa, não está lacrado. Mas não é o único vilão", disse o geólogo Heraldo Campos, representante da OEA (Organização dos Estados Americanos) no Projeto Sistema Aqüífero Guarani. "É o pior, mas nada impede que um poço em funcionamento mal construído, um clandestino, também possa ter contaminação."

A estimativa de poços abandonados é do Daerp (Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto). A situação levou o Comitê da Bacia Hidrográfica dos rios Pardo e Grande a restringir a abertura de poços em três zonas do município.

Além disso, levou o Daee (Departamento de Água e Energia Elétrica) a elaborar um projeto para transformar 250 desses locais em pontos de monitoramento do aqüífero, para o controle da qualidade e do nível da água.

Entre os poços abandonados, 93 são do próprio Daerp --a maioria, no entanto, segundo a autarquia, fica em propriedades privadas, o que dificulta a sua detecção. O abandono de poços é um grande complicador para a gestão de água porque, dependendo da localização, contribui diretamente para a contaminação do aqüífero.

"Pelo preço, as pessoas contratam empresas para fazer poços que não respeitam as normas. Então, quando se deparam com água de má qualidade, com contaminação bacteriológica ou poço que dá areia, abandonam", disse João Paulo Correia, geólogo do Daerp.

Outro motivo, apontado pelo ambientalista Rodrigo Agostinho, do Instituto Ambiental Vidágua, para o abandono, é o esgotamento dos poços após superexploração.

A multa mínima prevista para quem for flagrado com poço abandonado em sua propriedade é de R$ 500. Se a irregularidade persistir por 30 dias, a cobrança passa a ser diária.
(Por Ana Lígia Vasconcellos, Folha de S.Paulo, 16/06/2006)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u122815.shtml

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