A seca foi a gota de água que faltava e não caiu. Se tinha gente que ainda
tentava, depois desse período de pouca chuva e muito prejuízo, as alternativas
acabaram para os agricultores do Vale. Segundo o último levantamento
agropecuário realizado pelo governo do Estado, entre 2000 e 2003 cerca de 1,4
mil jovens foram embora do campo. E este número só inclui pessoas entre 20 e
39 anos. Em Santa Catarina, quase 10 mil cidadãos migraram para a sede do
município ou para as cidades vizinhas no mesmo período.
Os duvidosos reflorestamentos de eucalipto - monoculturas exóticas que demoram
para trazer algum retorno - se apresentam como um último suspiro para quem
não quer deixar o interior.
Como Dorvalina Kisner, que mora perto da casa de Ludwig Braatz. Depois de
viver das plantações de fumo, milho, feijão e da criação de animais, hoje
planta só para o consumo e um pouco de eucalipto para tirar algum tostão:
- Tá todo mundo vendendo tudo. O que mais tem aí é pessoal de Blumenau
comprando terra para fazer sítio. O leite não paga nem a ração e agora com a
seca, a situação tá muito pior.
Mais de dois mil estabelecimentos sem luz
Ela e um dos três filhos não foram embora porque não têm para onde ir e falta
coragem para vender a terra:
- Não! Sem terra a gente tá morto. E trabalho de empregado tá se acabando.
Depois de muito carregar sacos de adubo e trabalhar curvado sobre a enxada,
um de seus filhos acabou se encostando pelo INSS com um grave problema na
coluna. Ele era funcionário de um açougue. Os agricultores do Vale do Itajaí
pouco evoluíram nas últimas décadas. Continuam com as mesmas culturas e
técnicas enquanto o resto do mundo caminha para a automação e para sistemas
de produção modernizados. Não é difícil encontrar casas de agricultores que
sequer têm luz elétrica. Para dar um número mais exato, são mais de 2 mil
estabelecimentos agropecuários nestas condições.
- O que o agricultor precisa é de infra-estrutura. Saneamento, oportunidades,
qualidade de vida. Os jovens manifestam vontade de permanecer no campo, mas
não encontram a mínima estrutura - afirma Jorge Luiz Tagliari, gerente
regional da Epagri de Blumenau e um dos coordenadores do projeto Microbacias,
que pretende criar condições para a permanência no campo.
Sem estrutura e sem instrução, o colono não consegue agregar valor ao seu
produto. Tenta vender o tomate in natura quando deveria oferecer um
diferencial. Mas não tem máquinas, não tem estrutura, não tem conhecimento e
muito menos dinheiro. Sem perspectiva, os filhos vão embora.
(
Diário Catarinense, 16/06/2006)