A estiagem que dura mais de dois meses no Norte do Estado secou os
rios e fontes, deixando as famílias do meio rural sem água para beber.
Uma chuva de 30 mm no último final de semana permitiu o começo do
plantio do trigo e de pastagens, mas está longe de resolver o problema
do abastecimento.
Os moradores do interior de Marcelino Ramos, no Alto Uruguai, já não
encontram água nem nos rios, nem nos poços. O Rio Barrinha, que no
verão passado era procurado pelas crianças para a pesca, agora é um
filete de água salobra. Até as pedras no leito acumulam poeira. O rio
Dourado, no interior de Erechim, costumava ter até dois metros de
profundidade nesta época do ano, mas com a seca o leito do rio secou
totalmente em alguns trechos.
Quem depende da água para manter as atividades, como o agricultor
Jucenir Cavalheiro, 40 anos, acabou desistindo dos projetos para este
ano. Cavalheiro pretendia plantar dois hectares de aveia e criar vacas
leiteiras para aumentar a renda da família. Sem água, o projeto ficou
impossível. Ele precisa caminhar mais de um quilômetro carregando
baldes para buscar água para a família beber e para os animais da
propriedade.
- Vou ter que vender a junta de bois para pagar a prestação do Banco
da Terra - lamenta.
Conforme o agrônomo Flávio Bonfada, da Emater Regional, os agricultores
aproveitaram a chuva do final de semana para iniciar o plantio do
trigo. Deveriam ser cultivados 20 mil hectares de cevada, 300 mil de
aveia e 70 mil hectares de trigo nos 50 municípios de abrangência da
Emater Regional do Alto Uruguai. Se não voltar a chover para manter a
umidade do solo, além da redução da área cultivada em cerca de 30% em
relação ao ano passado, haverá dificuldades no desenvolvimento da
planta.
- Esta falta de água vai repercutir muito além, vai deixar sem
alimentação a pecuária de corte e de leite e deixará o solo
despreparado para as próximas culturas - diz Bonfada.
(Por Marieselise
Ferreira,
Zero Hora, 15/06/2006)