A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por meio da unidade
Amazônia Oriental, está difundindo no Maranhão uma nova alternativa de cultivo
que dispensa o uso de queimadas. A técnica foi desenvolvida no Pará com o
foco voltado para a agricultura familiar. As pesquisas contam com cooperação
da universidade da Alemanha e o apoio do Banco da Amazônia, que participa
com financiamento de R$ 450 mil para levar o novo sistema a todos os estados
da região amazônica.
Esta semana, a Embrapa está fazendo demonstrações da nova técnica no município
de Bacuri, a 486 quilômetros de São Luís, em parceria com o Banco do Nordeste
e com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A partir do
próximo dia 19, a demonstração será na cidade de Zé Doca, que fica a 318
quilômetros da capital, numa parceria com o Banco da Amazônia.
Queimadas
O fogo é tradicionalmente usado pelo pequeno produtor rural ao preparar a
terra para o cultivo. É uma forma de limpar a área, eliminando a capoeira
(vegetação secundária) e também disponibilizar seus nutrientes para o solo.
Com o novo método, já utilizado no Pará, o preparo da terra é feito com ajuda
da mecanização. Em vez de queimada, a capoeira é cortada e triturada,
utilizando uma ferramenta chamada tritucap, máquina de tecnologia alemã. O
material cortado e triturado permanece sobre a terra e transforma-se em
matéria orgânica.
As vantagens do novo método são várias, pois elimina os impactos negativos da
queimada no meio ambiente, amplia a flexibilidade do período de plantio,
além de melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo.
As pesquisas da Embrapa para desenvolver o novo método foram iniciadas desde
1991. Ao longo de quatro anos, os pesquisadores da Embrapa se dedicaram a
observar os principais problemas decorrentes do método tradicional.
Com o uso do fogo, o pequeno agricultor disponibiliza nutrientes para o solo,
porém, uma grande quantidade é perdida, conforme explica o pesquisador da
Embrapa Amazônia Oriental, o engenheiro agrônomo, Osvaldo Kato. Com a
queimada, a vegetação de uma determinada área demora até 10 anos para se
regenerar.
A perda de nutrientes e o longo tempo de espera para a capoeira voltar a
crescer foram alguns dos principais problemas identificados pela pesquisa.
"Quanto mais a capoeira crescer, mais nutrientes terá a terra", observa o
pesquisador. "Tirando o fogo, você deixa de perder nutrientes", ressalta.
Sem o uso das queimadas, o meio ambiente também agradece, pois evita-se as
emissões de gás carbônico que causam o efeito estufa. A capoeira também é
importante para a regulação climática, segundo Kato. O trabalho de corte e
trituração da capoeira também pode ser realizado de forma manual, utilizando
facões e foices - como já o fazem alguns produtores no Pará. Entretanto,
envolve uma grande quantidade de mão-de-obra. "Por isso partimos para o
sistema mecanizado", conta Kato.
Compra cooperada
O preço da máquina, porém, pode desestimular o pequeno produtor rural. Varia
de R$ 100 mil a R$ 140 mil. Por esta razão Embrapa sugere que o equipamento
seja adquirido por meio de cooperativas ou associações. O equipamento é
encontrado no Brasil e utilizado na agroindústria florestal.
A universidade da Alemanha, no momento, desenvolve um equipamento
exclusivamente para o preparo da terra destinada ao plantio - que derrube e
triture ao mesmo tempo a capoeira, deixando a terra no ponto de plantar,
proporcionando ganho de tempo para o agricultor.
A redução de ervas daninhas durante a fase de cultivo e dos riscos de
incêndios, além de tornar o trabalho do agricultor menos penoso, também são
vantagens da mecanização.
(Franci Monteles,
Gazeta Mercantil, 16/06/2006)