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2006-06-16
Mais de 80 mil residências em Cachoeirinha e Gravataí tiveram a água racionada ontem. A precaução de liberar o líquido aos poucos foi tomada pela Corsan, em função da ameaça de contaminação do Rio Gravataí com produtos químicos oriundos da fábrica incendiada MBN, na terça-feira (13/06).

O fogo na indústria atingiu tanques de ácido fórmico e solventes como xilol, MTBE e aguarraz. Para evitar que os produtos químicos que vazaram pela tubulação de esgoto pluvial chegasse ao Rio Gravataí, foram feitos desvios e lagoas de contenção. Para prevenir, a captação de água no Gravataí foi suspensa. A prefeitura adverte os moradores para que não usem poços artesianos, porque o solo também pode estar contaminado.

Parte da nuvem química intoxicou pessoas no bairro Parque da Matriz, em Cachoeirinha. Oito que sofreram mal-estar foram atendidas no Hospital Padre Jeremias e outras oito num posto de saúde. Todas foram liberadas.

Segundo o relato de vizinhos, a casa explodiu
O incêndio transformou a fábrica numa tocha. Dezenove casas foram lambidas pelas labaredas. A vigésima residência, do aeroviário Giovani Brindarolli, desapareceu como se tivesse sido atingida por um bombardeio. Feita em alvenaria, o lar que Brindarolli partilhava com pais e irmãos parecia atingido por napalm (fogo líquido), como se a Guerra do Vietnã tivesse ressurgido num canto de Cachoeirinha. Fogão e geladeira dos Brindarolli foram reduzidos a pedaços retorcidos de metal, apenas duas das quatro paredes ficaram em pé, e o telhado desapareceu. Os bens da família viraram cinzas.

Vizinhos dizem que a casa explodiu. Ninguém estava na residência no momento. Técnicos da Defesa Civil acreditam que produtos inflamáveis liberados pela indústria escorreram pelo Riacho Passinho e ingressaram pela tubulação de esgoto direto no banheiro dos Brindarolli. Tudo na casa foi explodindo em seqüência: fogão, geladeira, aparelhos de som, TVs. A família Brindarolli arranjou três colchões emprestados e está dormindo na casa de vizinhos.


Fepam diz que obra é irregular
A fábrica de produtos químicos MBN, que se incendiou na terça-feira e danificou 20 residências em Cachoeirinha, realizava uma ampliação irregular de acordo com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).

A indústria teria construído sem licença um pavilhão para armazenamento de tanques de produtos químicos. A perícia irá apurar se houve relação entre a obra e o incêndio.

- A obra só poderia ser realizada mediante licença ambiental, que não foi liberada, o que deve gerar multa aos proprietários. Qualquer nova obra, mesmo que o produto não tenha sido armazenado, oferece novos riscos. Eles também serão multados pela contaminação ambiental - antecipa o chefe do serviço de emergência da fundação, Luís Fernando Guaragni.

O valor da multa será estabelecido conforme o potencial de pagamento da empresa e dos danos causados, mas pode variar de R$ 1 mil a R$ 50 milhões. O prédio estava segurado.

Contraponto
O que diz Marcelo dos Santos, diretor da empresa MBN
Ele diz que tem alvará de funcionamento do prédio atual e licença da prefeitura de Gravataí para construir o novo pavilhão na indústria. Ele diz ainda que não colocou produtos químicos na nova construção e, por isso, não estaria em situação irregular. Santos acredita que só precisaria retirar uma nova licença de operação se efetivamente estivesse estocando produtos ali.
(Por Humberto Trezzi, Zero Hora, 15/06/2006)

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